Os Trapalhões

Tese de doutorado indica que grupo de humoristas reuniu a cultura popular do rádio, do teatro de revista e do circo.

Os Trapalhões no reino da academia: revista, rádio e circo na poética trapalhônica é o título da tese de doutorado do ator e diretor André Carrico, defendida recentemente no Instituto de Artes, da Unicamp. O estudo teve o objetivo de mostrar que o grupo de humoristas, no período de 1978 e 1990, reuniu vertentes da comédia popular nacional do teatro de revista, do circo e do rádio. Segundo o pesquisador, o “projeto trapalhônico” viabilizou a permanência de procedimentos universais de tradição popular no imaginário da sociedade, visto que os quatro humoristas do grupo (Antônio Renato Aragão, Didi; Manfried Santana, Dedé; Antônio Carlos Bernardes Gomes, Mussum; e Mauro Gonçalves, Zacarias) transmitiram os princípios cênicos de artistas que os antecederam.

“Dedé nasceu numa barraca de circo, era palhaço. Mussum passou pelo teatro de revista como músico dos Originais do Samba– eles contracenavam com Grande Otelo, que ao lado de Chico Anysio acabou influindo na configuração do tipo. E Zacarias começou no rádio, em Sete Lagoas, e depois em Belo Horizonte, sempre interpretando tipos caipiras.”

Já Didi teve a influência da chanchada. “Na verdade, Renato Aragão resolveu fazer cinema porque queria ser como Oscarito, seu grande mestre, e que por sua vez era de família circense, acrobata e palhaço. Minha impressão é de que convivendo no universo interiorano de Sobral (Ceará), ele também assistiu a muitos espetáculos de circo, trazendo da infância alguma coisa inspirada nos palhaços”, conta Carrico.

Ao entrevistar Renato Aragão, o pesquisador constatou que o líder dos humoristas pensava a trupe como um projeto e não como um grupo formado ao acaso. “Ele chamou primeiramente Dedé e depois Mussum e Zacarias, conjugando as potencialidades individuais de cada elemento também em termos de regionalismo e geografia humana: em Mussum, temos o negro e o malandro do morro; em Dedé, o sujeito de periferia e de origem indígena e cigana; em Zacarias, o caipira mineiro; e em Didi, o nordestino”.

Apesar de malvistos pela crítica, Os Trapalhões, de acordo com Carrico, figuraram entre os grandes campões de audiência da TV e, no cinema, a maioria dos seus filmes repetiu e ampliou a façanha do programa televisivo. “Durante 32 anos, a terceira bilheteria de um filme nacional pertenceu a eles, com Os Trapalhões nas Minas do Rei Salomão, perdendo apenas para Dona Flor e seus Dois Maridos (1976) e A Dama do Lotação (1978). Se a classificação for de cinema infantil, eles permanecem como os mais assistidos até hoje”.

Mesmo com o boom de produções nacionais nos últimos anos, acrescenta Carrico, OsTrapalhões mantêm quatro filmes na lista dos dez primeiros (40%), tendo caído para o 4º lugar apenas em 2009, com Tropa de Elite 2, e para o 5º lugar com Se Eu Fosse Você. “Se esticarmos a lista para 20 filmes, encontraremos mais seis deles, com o detalhe de que o grupo acabou há 23 anos como quarteto. Os Trapalhões nas Minas do Rei Salomão teve quase seis milhões de espectadores, aproximando-se de grandes blockbusters hollywoodianos como A Lagoa AzulLua Nova e Harry Potter”.

A tese resgata fatos curiosos, como aquele em que a TV Globo se viu obrigada a pagar o salário que Renato Aragão pediu, quando o programa Os Trapalhões, que foi ao ar na TV Tupi de 1974 a 1977, tornou-se o primeiro a bater o índice de Ibope do Fantástico. “Nos doze anos seguintes, com a sua formação completa, o grupo foi líder de audiência ao lado de Silvio Santos, que interrompia seu programa dominical no momento em que a Globo exibia o programa, reaparecendo somente depois com o seu Show de Calouros”.

Fonte – Jornal Unicamp

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