Por Marcus Tavares
Paulo Freire dizia que a cultura de um povo deve ser entendida como o acréscimo que o homem faz ao mundo que ele não criou. A cultura, na visão do educador, é resultado, portanto, do trabalho e do esforço criador e recriador do ser humano. Neste sentido, o que dizer então do carnaval? Mais precisamente do carnaval das escolas de samba do Grupo Especial do Rio de Janeiro?
Não há dúvida: trata-se de uma cultura viva, envolvente, contagiante e mais do que isso: educadora. Por detrás das rainhas da bateria, das celebridades fantasiadas e da disputa pelo título, está um trabalho minucioso de pesquisa de conteúdo que dá a base para a criação do samba-enredo. Samba-enredo que rima com ensino lúdico e prazeroso. Podemos dizer que cada desfile é uma aula de história e de como contar uma bela história.
Na tese de doutorado O maior espetáculo da terra: o desfile das escolas de samba do Rio de Janeiro como cena contemporânea na Sapucaí, o pesquisador Miguel Santa Brígida buscou compreender como se organizam três conceitos fundamentais para seu estudo: a dramaturgia, a coreografia e a performance.
Segundo ele, o carnaval incorpora todas as questões trabalhadas na linguagem do teatro, “a questão da dramaturgia, os processos criativos da dança contemporânea e a relação da performance enquanto linguagem híbrida, que conversa com todas as linguagens e anuncia novas linguagens”.
Que o digam os compositores e os carnavalescos que trazem, a cada novo ano, novidades, traduzindo temas, histórias e personagens numa narrativa visual e sonora que, no mundo de bits e bites, ainda chama a atenção e atrai a curiosidade de crianças, jovens e adultos.
No desfile deste ano, não faltam bons conteúdos. Vila Isabel, por exemplo, traz a história do compositor Noel Rosa, celebrando 100 anos de seu nascimento. Portela, conectada ao século XXI, mostra que um mundo de paz é possível em função do rápido avanço da ciência e das tecnologias da informação. Porto da Pedra faz uma viagem interessante, contando a história da humanidade por meio do vestuário.
Beija-flor fala sobre a capital federal que completa 50 anos, revisitando a história recente do país. Salgueiro conta histórias de invenções, de descobertas, de vida. Viradouro nos leva aos mistérios do México. Unidos da Tijuca discute o que é segredo – um ótimo tema para a falta de privacidade dos dias de hoje. O sincretismo vem com o samba da Imperatriz Leopoldinense. E a vida de Dom Quixote, na União da Ilha.
Prato cheio para a gente aprender mais.
Prato cheio para a escola!
A revistapontocom publica, abaixo, os links de alguns sambas-enredos deste ano.
Confira:
– Beija- flor
Brasília 50 anos. Brilhante ao sol do novo mundo, Brasília do sonho à realidade, a capital da esperança
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– Imperatriz Leopoldinense
Brasil de todos os deuses
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– Portela
Derrubando fronteiras, conquistando a liberdade… Um Rio de paz, em estado de graça!
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– Porto da Pedra
Com que roupa…eu vou?
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– Salgueiro
Histórias sem fim
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– União da Ilha
Dom Quixote de La Mancha
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– Unidos da Tijuca
É segredo!
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– Vila Isabel
Noel, a presença do poeta da Vila
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– Viradouro
México, o paraíso das cores, sob o signo do sol
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