Editorial do Jornal Estado de S. Paulo
Há uma ideia, bastante difundida, de que os jovens que cresceram habituados à internet têm menos interesse por notícias do que as gerações anteriores. Mas essa impressão pode ser falsa, como mostra recente pesquisa norte-americana do Media Insight Project, uma iniciativa do American Press Institute e da Associated Press-NORC Center for Public Affairs Research.
O estudo indica que os jovens de 18 a 34 anos – a chamada geração Y ou geração do milênio (os Millenials) – consomem notícias de forma diferente, mas não há indicativos de que consumam menos. Ao contrário, os dados revelam, por exemplo, que 69% dos entrevistados acessam notícias diariamente e 45% dos jovens seguem cinco ou mais tópicos relativos a hardnews, como política e economia.
A pesquisa foi realizada entre dezembro de 2014 e janeiro de 2015, com 1.046 jovens americanos de 18 a 34 anos. O estudo combinou diferentes métodos de pesquisa, incluindo entrevistas em quatro cidades, acompanhamento de pequenos grupos e um levantamento quantitativo em todo o território norte-americano. A margem de erro da pesquisa é de 3,8%, para mais ou para menos.
A principal descoberta do estudo é a de que o consumo de notícias pelos jovens não é passivo nem aleatório, como habitualmente se imaginava. A geração Y tem uma atitude ativa na busca de notícias em fontes confiáveis. O estudo indica que a tecnologia tem ocasionado uma intensa mistura de diferentes tipos de acesso à notícia, quer seja intencional, quer seja aleatório. Por exemplo, os jovens descobrem as notícias ao acaso ou por indicação de amigos e, em seguida, saem em busca de outras fontes. Há um consumo dinâmico da notícia.
Um dos entrevistados para a pesquisa, por exemplo, com 25 anos e residente em Chicago, utiliza as redes sociais para ver as principais notícias, mas não fica apenas nas redes. “Se eu sinto necessidade de ir mais a fundo numa notícia, eu vou a um site cujas fontes são confiáveis”, afirmou. São bastante variados os motivos pelos quais os jovens buscam notícias – razões cívicas (74%), resolução de problemas (63%) e fatores sociais (67%), como, por exemplo, a indicação de amigos.
Outro aspecto habitualmente presumido – e que os resultados do Media Insight Project contestam – é o de que as redes sociais gerariam polarização, pois facilitariam aos jovens ficar em contato apenas com pessoas que pensam de forma semelhante. As redes sociais criariam uma espécie de bolha. Segundo a pesquisa, 75% dos entrevistados buscam habitualmente na internet pontos de vista diferentes dos seus. Ainda que o Facebook seja a principal rede social, ela não é a única. A maioria dos jovens busca notícias em mais de três plataformas, como YouTube, Instagram e Reddit. E traz um dado revelador: apenas 7% utilizam o Facebook quando desejam se aprofundar num assunto.
Entre os mais jovens da geração Y, há um crescente sentimento de frustração com o Facebook, e eles têm facilidade em abandonar uma rede social. Segundo o estudo, tais fenômenos indicam a tendência de o uso das redes sociais se dividir cada vez mais ao longo do tempo.
Outra conclusão é a de que os jovens estão altamente equipados – 90% usam smartphones ou tablets –, mas nem todos estão continuamente conectados. Só 51% disseram estar a maior parte do tempo conectados, sendo o e-mail a atividade ainda mais frequente.
Entre os entrevistados, 40% pagam por alguma forma de notícia, por assinatura ou compras pontuais. A pesquisa indica que a privacidade não gera grandes preocupações na geração Y – apenas pouco mais de a metade fez alguma modificação na configuração-padrão de privacidade e apenas 2 entre 10 entrevistados se disseram muito preocupados com o tema.
Ainda que a pesquisa se refira ao jovem americano, ela traz informações importantes sobre as tendências contemporâneas. A notícia – o jornalismo – continua sendo relevante para a juventude, que não está alheia ao que ocorre na sociedade e sabe muito bem da importância de acessar fontes confiáveis. Como se vê, boas notícias.