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Crianças invisíveis

Por Marcus Tavares

Forte, denso e emocionante. Não há como ficar indiferente às cenas do filme “Crianças Invisíveis” – o filme que a revistapontocom recomenda para esta semana. Às vezes de forma poética, às vezes sem nenhum tipo de glamour, o longa retrata a dura realidade que vivem algumas crianças do mundo de hoje. Realidade que não está tão distante do nosso cotidiano e que nem é privilégio de um ou de outro país. Talvez seja exatamente isso o que mais sensibiliza e chama a atenção de quem assiste ao filme.

Produzida pela MK Film Productions, a obra reúne sete curtas produzidos em diferentes localidades: África, Sérvia-Montenegro, EUA, Brasil, Inglaterra, Itália e Japão. A idéia surgiu em 2002, quando a produtora italiana Chiara Tilesi decidiu montar um projeto que pudesse servir de instrumento para conscientizar as pessoas sobre o caótico cotidiano das crianças ao redor do mundo. A proposta ganhou o apoio do Unicef que, ao lado de patrocinadores da Itália – Rai Cinema e Italian Development Cooperation Ministry of Foreign Affairs -, financiaram a produção.

Os roteiros foram encomendados a sete renomados diretores que tiveram liberdade para criar suas histórias. No entanto, para que nenhum enredo se repetisse, os scripts foram analisados, debatidos e aprovados em conjunto com os produtores e os patrocinadores. Os diretores – Mehdi Charef, Emir Kusturica, Spike Lee, Katia Lund, Jordan Scott, Ridley Scott, Stefano Veneruso e John Woo – abriram mão de seus cachês.

As histórias são envolventes. Cada uma retrata uma realidade local, mas têm em comum a infância, os sonhos, as fantasias e os desejos das crianças, o que acaba tornando todas as narrativas universais. Assim é, por exemplo, a história da menina japonesa Little Mao. Abandonada pela mãe numa lata de lixo, ela é criada por um velho mendigo. Mas, com sua morte, ela passa a vender flores nas ruas de Tóquio em troca de comida e moradia. Ou então a história da menina norte-americana Blanca, que descobre que é portadora do vírus da AIDS, assim como seus pais. Blanca sofre todo o tipo de preconceito na escola e nas ruas.

O curta brasileiro chama-se Bilu & João. Dirigido por Katia Lund, o filme fala sobre o cotidiano de duas crianças que moram numa favela da Grande São Paulo. Para ajudar seus pais, elas catam latinhas. “Quando recebi a proposta de participar deste projeto fiquei pensando em que história iria contar. Não queria mais falar sobre o tráfico, sobre o dia-a-dia das crianças que se envolvem com as drogas. Optei pelas crianças que vivem em comunidades carentes, mas que não entram para o tráfico, que não se envolvem com as drogas – o que representa na verdade a grande maioria dos jovens, 99%”.

Neste sentido, o curta não mostra armas, nem desgraça. “Mostra o que o brasileiro ainda não perdeu: a esperança. Procuro retratar a realidade de duas crianças que querem apenas crescer, ter o seu espaço, querem ser alguém. Para isso, elas correm atrás, usando a criatividade e a imaginação que possuem. Mas ao mesmo tempo, procuro questionar se elas, de fato, vão conseguir alcançar seus objetivos? Será que elas terão espaço para crescer neste mundo de hoje? Será que elas vão crescer para o lado certo?”, indaga Katia, ao debater o filme com um grupo de professores que participam do projeto Oficina Cine-Escola, desenvolvido pelo Grupo Estação, no Rio de Janeiro. A última cena do curta mostra, no primeiro plano, a favela e atrás, os arranha-céus da cidade de São Paulo.

Saiba mais sobre os curtas

– Bilu & João, de Katia Lund, Brasil
Um dia na vida de Bilu e João, duas crianças empreendedoras que se esforçam para tocar a vida nas ruas de São Paulo. Seus tesouros são latas vazias, papelão, placas e pregos retirados do lixo, objetos que a sociedade já jogou fora. Deparando-se, simultaneamente, com a infância e a vida adulta, as crianças usam a imaginação para transformar a paisagem urbana em seu playground, as recusas em retribuição, e os obstáculos que enfrentam em sonhos para seguir adiante.

– Ciro, de Stefano Veneruso, Itália
Ciro é um garoto da periferia de Nápoles, na Itália. Ele mora em um conjunto habitacional de cimento armado, parte do projeto de construções erguidas pelo governo, após o terremoto de 1980. Lá, a classe mais baixa e em reclusão paga as contas de sua existência diária, da mesma forma que os que vivem nos luxuosos apartamentos decorados, em ruas famosas. Ao lado de seu amigo Bertucciello, ele assalta um motorista para tentar roubar-lhe o relógio. Ciro quebra uma das janelas do veículo com um martelo e o vidro estilhaçado voa por todo lado. Em seguida os dois garotos saem em disparada, seguindo direções diferentes, rumo ao imprevisível.

– Jonathan, de Jordam Scott e Ridley Scott, Inglaterra
Jonathan é uma história sobre um fotógrafo jornalista, um homem introspectivo, cujas missões o deixaram desiludido da vida e completamente perturbado. Ele sonha com a liberdade daquilo que já viu e é obcecado pela felicidade, a todo custo. Isto é algo que ele tanto quer, que, ao decidir fugir, ele regressa fisicamente à melhor época de sua vida, e embarca numa aventura, redescobrindo a essência dos tempos de infância. As crianças que ele conhece nessa trajetória, o inspiram e desafiam a abraçar novamente a sua própria vida.

– Marjan, de Emir Kusturica, Sérvia-Montenegro
Marjan, um garoto cigano de quinze anos. Já passou bastante tempo preso em um centro de detenção. A hora de sua libertação se aproxima e, conflitante, ele observa tudo com sentimentos confusos e misturados. Seu pai o obrigava a roubar, desde bem pequenino. Durante a cerimônia habitual de liberação dos internos, após a sua família lhe dar presentes, seu pai, sem ter o dinheiro para a passagem de trem de volta para casa, arma um de seus golpes familiares costumeiros, obviamente, envolvendo Marjan.

– Tanza, de Mehdi Charef, África
Fortemente armado, um grupo de sete jovens guerrilheiros de Ruanda vai ganhando terreno, em direção ao território do inimigo. O líder do grupo é o mais velho de todos, com vinte e um anos de idade. Os outros têm entre doze e dezesseis anos. Tanza, nosso herói, tem apenas doze. Conforme o grupo avança em sua missão rumo ao vilarejo inimigo, nossos jovens soldados se deparam com uma patrulha do exército, quando tem início um tiroteio. Kali, de treze anos, e melhor amigo de Tanza, é morto. Exaustos e quase sem forças, os garotos finalmente alcançam o destino de sua jornada. O líder prepara o cronômetro das duas bombas que foram secretamente trazidas até a aldeia, no local em que deverão ser detonadas. Depois entrega uma delas a Tanza. No meio da noite, o jovem segue até o alvo determinado, sem ter a menor idéia de que o prédio que ele deve explodir é, na realidade, uma escola, onde outras crianças iguais a ele deverão estar.

– Jesus Children of America, de Spike Lee, EUA
Blanca é uma adolescente do Brooklyn e sua rotina diária deveria ser a de ir para o colégio e se divertir com as amigas, não fossem suas visitas constantes à enfermaria, e a pobreza absoluta de seus pais. Após um incidente na escola ela finalmente descobre que é HIV soro-positiva, além de filha de pais viciados em drogas.

– Song Song & Little Mao, de John Woo, China
Little Mao é órfã. Ela é criada numa cabana por um velho mendigo. Eles procuram economizar cada moeda para que ela possa freqüentar a escola. Já Song-Song tem uma vida abastada, mas a situação de sua família acaba gerando angústia na menina. Os caminhos das duas se cruzam quando uma boneca que Song-Song jogou fora passa a ser a companhia mais valiosa de Mao.

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Doralice Melo dos Santos
Doralice Melo dos Santos
6 anos atrás

Assistimos este filme no curso de Magistério,nossa professora de sociologia que nos apresentou esta pérola de dramaturgia,muito consistente e afetivo.A essência da infância retratada com maestria e respeito.Nós alunas conseguimos
discutir o que sentimos ao assistir cada história,nos identificando com algumas.

Taynara
Taynara
7 anos atrás

Eu assisti esse filme e fiquei muito emocionada e muito triste.Por que adultos e crianças matavam,roubavam ect…
O filme também relata muita pobreza e tristeza.
Mais mesmo assim gostei muito.

Thalita Torres
Thalita Torres
8 anos atrás

Assisti esse filme essa semana na aula de Metodologia de Ensino da Educação Infantil, no curso de pedagogia. As histórias nos mostram que podemos ter esperança, que mesmo diante as dificuldades, as crianças não desistem de ter seu lugar no mundo.
Portanto, devemos olhar para nossas crianças, e tentar passar a elas uma educação de qualidade, para que num futuro próximo, elas melhorem o que nós não conseguimos melhorar.

Izabel Cristina Dutra
8 anos atrás

Assisti aparte desse filme há uns anos numa palestra sobre educação assistência social. Fiquei muito impressionada e isto me moveu em vário momentos da minha vida! Agora que o encontrei na íntegra, vou compartilhar.

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