Pesquisas do Ibope revelam que o programa, desde a estréia, há oito anos, é um dos mais assistidos pelas crianças dos 4 aos 11 anos
Por Marcus Tavares
Mais um ano e com ele uma nova edição do Big Brother Brasil, programa exibido pela Rede Globo de Televisão. Cercado por polêmicas, críticas ao conteúdo e uma ferrenha discussão em torno da classificação indicativa, o reality show continua com uma audiência cativa. A estréia da última terça-feira, dia 13, confirma o poderio do gênero. O Ibope marcou 37 pontos, na Grande São Paulo. O que mostra que, passados oito anos, desde a estréia da primeira edição, o reality show continua atraindo a atenção dos telespectadores e, em especial, de crianças e jovens. Mas a pergunta é: por quê?
Cosette Castro, doutora em Comunicação e Jornalismo pela Universidade Autônoma de Barcelona, estuda o assunto. Há dois anos, ela publicou o livro Por que os reality shows conquistam audiências? Nele, a autora faz uma reflexão sobre o papel que a TV vem desempenhando no cotidiano das pessoas, seja na área do entretenimento, da produção cultural ou da promoção da educação.
Depois de contextualizar o surgimento dos reality shows na sociedade do final do século XX, Cosette enumera oito tópicos que ajudam a compreender e a explicar a fórmula do sucesso do gênero televisivo.
Segundo ela, os programas agrupam pessoas desconhecidas e anônimas, igual à audiência; reúnem muitos jovens, valorizando a juventude; abrem as portas do mundo dos sonhos e da imaginação, mostrando que o reconhecimento e o sucesso imediato podem ocorrer com qualquer pessoa; fazem uso de diferentes tecnologias para a interação do público; trazem à tona questões do dia-a-dia, como o amor, o ciúme, a amizade, a inveja e a competição.
Soma-se a isto o fato de os participantes conviverem em uma casa, em um grupo, em torno de um núcleo que recorda a família; a forma de falar, vestir, dançar ou portar-se dos escolhidos, que é bastante familiar; e o fato também dos integrantes representarem a si mesmos, assumindo a figura de modelos, embora o que apareça na tela seja uma representação de como atuam, sentem e socializam.
“Se pensarmos que a sociedade ocidental está organizada em torno da família, o fato de que estes programas estejam organizados em torno de um núcleo familiar é um atrativo a mais para as audiências que se reconhecem e se identificam nesse espaço e com os participantes”, destaca a autora, em trecho do livro.
Os dados fazem eco com uma pesquisa realizada pela International Clearinghouse on Children, Youth and Media, na Suécia. O estudo mostrou que os reality shows satisfazem, principalmente, jovens e adolescentes, por apresentarem e exporem curiosidades sobre a vida e sobre as pessoas.
“Por meio deste tipo de programação, os jovens analisam o comportamento de pessoas comuns, suas emoções, relações interpessoais, sexualidade, mecanismos de inclusão e exclusão, de aceitação pessoal etc. Eles acabam se identificando com algumas pessoas que participam do programa muito mais por algum tipo de semelhança do que por um desejo de ser como elas”, explica Cecília von Feilitzen, coordenadora científica da Clearinghouse.
Em entrevista ao site Folha Online, o criador e diretor do Big Brother Brasil, José Bonifácio de Oliveira, o Boninho, diz que “esse tipo de programa leva para a televisão um misto de voyeurismo, laboratório, exibicionismo e curiosidade. O telespectador cria uma afinidade e, mais rápido que possa perceber, acaba tomando uma posição que pode ser positiva ou negativa, mas ele vai até o final para ver no que vai dar”.
As pesquisas anuais do Ibope confirmam a declaração do diretor. O telespectador é fiel ao programa e boa parcela é composta de crianças e jovens. O Big Brother Brasil aparece sempre, no mês de janeiro, como um dos programas mais assistido por crianças dos 4 aos 11 anos de idade, embora tenha recebido nos últimos anos uma classificação indicativa não recomendada para menores de 14 anos e diversas críticas por parte de educadores, psicólogos e especialistas.