Desigualdade, violência, paz, consumo e política. Com o objetivo de dar vez e voz às crianças e jovens, a revistapontocom inaugura mais um espaço neste sentido: o Fala Jovem. A partir de hoje, iniciamos uma série de publicações de textos escritos por crianças e jovens sobre diversos assuntos. A ideia é promover a ‘fala’ destes cidadãos e ao mesmo tempo possibilitar que os adultos conheçam e ouçam suas histórias, sentimentos, comentários, avaliações sobre temas do nosso cotidiano. O texto de hoje é da menina Luiza Miranda, de 14 anos. Trata-se de uma história fictícia sobre abandono e desigualdade
Josué Maria
Diferente de seus pais, Josué Maria nasceu livre. Ele nunca foi vendido como seus avós e muito menos foi trocado como sua irmã – que uma semana depois de seu nascimento foi trocada por um milharal. Ele nasceu livre, mas ainda na maternidade as autoridades o visitaram. Depois de uma rápida leitura de documentos sobre seus pais, os homens cortaram seus pés. Josué Maria nasceu livre para poder andar sem precisar pedir autorização, mas cresceu sem pés.
Várias pessoas tinham pena de Josué e lhe davam coisas, que ele sempre agradecia do fundo do coração, até o dia em que ganhou um sapato. Nesse dia, Josué Maria entendeu que as pessoas não estavam dando as coisas a ele, mas, sim, a qualquer um. A pessoa que o deu sapatos se sentia bem e pensava que tinha feito algo maravilhoso, quando na verdade o entregara uma lembrança da situação de seus pés.
Naquela mesma noite, Josué decidiu que precisava comprar próteses para suas pernas. Para isso, ele necessitava de dinheiro. Uma quantidade de dinheiro que só um trabalho poderia lhe dar. Mas Josué Maria não tinha pés para ir as suas entrevistas. Ele precisava de carona. E caronas, ao contrário de sapatos, não era algo que muitas pessoas queriam dar.
Depois de três dias, finalmente alguém o levou de carro até uma empresa. Durante a entrevista, todos sorriam e lhe faziam perguntas, até que olhassem para abaixo de suas pernas. Para o vazio que existia ali. Quando isso acontecia, os sorrisos desapareciam e as perguntas diminuíam até que pedissem para que Josué Maria se retirasse.
Ele procurou emprego até os 50 anos, até que recebeu uma nova visita das autoridades. Elas sorriram e lhe perguntaram se estava cansado. Como a resposta foi positiva, ofereceram uma opção: o colocariam em um sono profundo, no qual não precisaria mais se preocupar com seus pés. A ideia era tão atraente que Josué aceitou. Com um tiro começou a dormir. Josué foi enterrado ao lado de outros defuntos sem pés, sem identificação, em um lugar que não existia em nenhum mapa. Nunca mais pensou em seus pés.
Sensacional todo encadeamento de idéias que nos levou a esse desfecho. Muito bem escrito, nos faz refletir sobre os inúmeros Josué Maria que vivem a nosso redor, invisíveis. Parabéns, Luiza, belo texto!
Olá Luiza,
texto forte, cheio de críticas..
Fiquei impactada.. Josué Maria.
Quanta realidade dentro da sua ficção!
Parabéns.
Olá Luiza,
Nossa!!!!!! Estou arrepiada até agora. Muito lindo, sensível e instigante.
Continue, não pare de escrever, mande mais histórias.
Aproveite as dicas dessa fada chamada Flávia!!
Beijo grande,
Alice
Lindo Luiza! Esse texto é incrível!
Caríssima Luiza,
Sou amigo de sua professora Flávia. Estudamos juntos no curso de Letras da PUC. Gostei muito do seu texto. Maravilhosamente bem escrito, delicado,sensível, filosófico e dá pano pra manga para discussões acerca de muitos temas! Eu fiquei aqui pensando, sentado diante do computador, sobre essa coisa que é escrever. Que fantástico conseguirmos nos expressar pela Palavra, né?
Continue escrevendo! Quero ler mais e mais seus pensares literários! E gostaria de te conhecer!
Abraços!
demais, Luiza! amei muito. parabéns. sou sua fã. um beijo, Suzana
Parabéns Luiza! É um texto arrebatador! Bem escrito, sensível, lírico… Parabéns Flavia, a professora, que sabe como ninguém criar espaços propícios para criações como essa!
Oi Luiza,
Assim não vale. Tô aqui com vontade de dar asas aos pés do Josué. Escreve mais um texto, sobre o que aconteceu depois com ele? Fiquei curiosa. Abraços, Karen
Luiza, meu nome é Claudia e sou amiga de sua professora Flávia. gostei muito de ler seu texto. Ele é profundo, inteligente e muito emocionante. Obrigada por dividir com a gente sua emoção e sentimento. Grande bj e gostaria de te ler mais vezes. Claudia
Toda emocionada, Luiza!