Um novo caminho para animação

Por Marcus Tavares

Em apenas três meses de exibição, o curta animado O Caminho das Gaivotas, fruto de um trabalho laborioso entre Brasil e Cuba, ganhou três prêmios. Na 10ª edição da Mostra de Cinema Infantil de Florianópolis, em junho, o filme recebeu menção honrosa pelo trabalho de cooperação entre os dois países. Em julho, ao ser exibido na 20ª edição do Festival Internacional de Cinema para Crianças e Jovens – Divercine, realizado no Uruguai, foi condecorado com uma menção especial de direção de arte. E, agora, em setembro, levou o prêmio AACA-ASIFA de melhor técnica de animação na 20ª edição do Festival Internacional de Cinema Nueva Mirada para Infância e Juventude, que aconteceu na Argentina.

O Caminho das Gaivotas é uma animação, de treze minutos, realizada em animação clássica e stop motion. O filme fala sobre a solidão das crianças. Da falta de comunicação entre o mundo adulto e o infantil, realidade presente no dia a dia de muitas famílias. A história tem o objetivo de evidenciar esta problemática para as crianças e para seus pais e responsáveis. O tema é tratado de uma forma poética e sutil, valorizando a linguagem das narrativas de contos de fadas. O filme fala da necessidade do reencontro do mundo adulto com o da infância.

A produtora e diretora de filmes de animação para infância, Patricia Alves Dias foi quem coordenou o projeto, que reuniu artistas brasileiros e cubanos, assinado pelo Ministério da Cultura do Brasil e de Cuba. Ao unir profissionais de diversas áreas de conhecimento e equipes dos dois países, o projeto promoveu um outro olhar sobre a produção de animação latino-americana, longe de um modelo padrão já existente de indústria e de estereótipos. “A ideia foi abrir espaço para conteúdos próprios do continente, com seus valores e sentimentos. Com sua estética, técnica e liberdade de criação. Trata-se de um case de experimentação e investimento numa nova proposta de produzir para, com e sobre criança”, destaca Patrícia.

Em entrevista à revistapontocom, a diretora, que esteve à frente dos Estúdios de Animação da Empresa Municipal de Multimeios da Prefeitura do Rio (MultiRio), na realização das séries “Juro que vi” e “Cartas animadas para paz”, conta o processo de construção da co-produção Brasil-Cuba e fala sobre a importância da animação na vida das crianças e no dia a dia da escola. Às voltas com a curadoria das mostras paralelas do I Festival Internacional de Stop Motion do Brasil, ao lado de Quiá Rodrigues, que acontecerá em novembro, no Recife, Patrícia acredita que a animação pode e deve possibilitar que a criança crie, (re)invente e tenha seu espaço de reflexão e preenchimento. “Outro dia, minha filha Lia, de sete anos, disse que o melhor quadro é um papel branco”, destacou.

Acompanhe:

revistapontocom – Qual a importância da animação para as crianças?
Patricia Alves Dias – O libertar… Outro dia lia um texto do Walter Benjamin que falava que o brincar liberta. Ao lê-lo, tive a resposta à pergunta que sempre me fiz: por que essa relação quase imediata, ou direta mesmo, da criança com a animação? A animação permite que a criança faça o exercício do brincar, do criar, do possibilitar o impossível. Mesmo que essa animação não seja necessariamente uma obra de arte, ela propõe o brincar e, portanto, a liberdade!

revistapontocom – Mas o que existe de tanto encantamento que atrai as crianças?
Patricia Alves Dias – Acho que o encantamento que há na animação é o mesmo que há no brinquedo, no livro ou no ato de brincar, que é exatamente essa experiência do libertar que falei.

revistapontocom – Uma característica em seus trabalhos é que você aposta sempre numa animação para a infância que vai além do entretenimento? Por quê?
Patricia Alves Dias – Acho que uma obra de arte em animação, ou o ato de brincar pelos conteúdos de animação, não pode excluir a diversão, o lúdico nem a educação. O ato de brincar deveria e pode ser educativo e vice-versa.

revistapontocom – Mas as crianças gostam deste tipo de animação que vai além do entretenimento? Como se produz com este foco?
Patricia Alves Dias – Acredito numa produção onde haja o diálogo entre o mundo do adulto e o da infância, seja no ato do criar e produzir uma obra em animação, contando com as diferentes formas de escuta, seja na transmissão. Aposto numa narrativa onde a criança não recebe o conteúdo completo, pronto, fechado. Acredito em peças que possibilite que a criança crie, (re)invente, tenha seu espaço de reflexão e preenchimento. Outro dia, minha filha Lia disse que o melhor quadro é um papel branco.

revistapontocom – Neste sentido, animação e escola combinam?
Patricia Alves Dias – Por tudo que tenho dito e feito, ao longo desses últimos quinze anos, em produzir animação para infância, ter uma filha e muitos amigos e amigas crianças, acredito que a Escola ainda é, muitas vezes e na maior parte delas, o último refugio de muitas crianças. E é lá que a animação (conteúdo para exibir ou para produzir) pode apoiar a nova constituição de arcabouço de imagem da infância e da sociedade do século XXI na educação.

revistapontocom – O Caminho das Gaivotas, último projeto seu, teve este foco? Como foi o processo de produção? Patricia Alves Dias – Sim. O Caminho das Gaivotas foi resultado da aplicação de muitas experiências anteriores que realizei, apoiadas por especialistas em infância, como as professoras Solange Jobim e Regina de Assis, e teóricos que iluminavam as equipes de criação, realização e produção que tive a honra de coordenar ainda na Multirio (Empresa Municipal de Multimeios da Prefeitura do Rio). Equipes que produziram as séries Juro que vi, Cantigas de roda e Carta animada pela paz, num diálogo com as crianças e professores de escolas públicas.

revistapontocom – O Caminho das Gaivotas é um case?
Patricia Alves Dias – Sim, foi um case em busca de respostas, onde as metodologias de escuta e absorção do mundo da criança tinham o propósito de dialogar com elas, seja na fase de criação do roteiro e realização, seja no atual momento das exibições. Podemos destacar: a arte final dos cenários com aguadas que sugerem muitas formas, formas a serem criadas, construídas pelas crianças; a narração espaçada, com uma oração bem distante uma da outra, como se fosse um poema ou um conto de fadas, onde as crianças ou os adultos ilustram no invisível da fala e podem complementar com as suas ideias. Ou então os personagens criados em escalas alteradas, como brinquedos sem cores em madeira, que podiam ser os que são esculpidos nos sertões do Brasil ou por um artesão de Cuba ou do acervo de uma escola Waldorf da Bélgica. Trata-se de uma animação com um tempo lento, um tempo possível ao existir, sem ser descartável. O case propunha o brincar do “era uma vez, a historia de Maria Soledad. Uma menina que vivia num vilarejo sem vida e que saía em busca de amor, solidariedade e não violência.

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Kelly Toledano
Kelly Toledano
13 anos atrás

Estou ansiosa em ver a animação. Acompanho há tempos o trabalho e parabenizo toda a equipe pelo cuidado, pela sensibilidade e pela qualidade do projeto.

Mônica Sanginito e Lucimar de Sá
Mônica Sanginito e Lucimar de Sá
13 anos atrás

Olá! Somos educadoras e idealizadoras do Projeto AnimAção nas séries iniciais…
A Educação Infantil é um momento específico, onde o corpo é o principal veículo de interação e comunicação. Hoje com o advento do mundo midiático, as crianças já nascem com habilidades cognitivas para o uso das tecnologias digitais…
Parabenizamos a matéria, pois acreditamos no uso da tecnologia da animação para que os pequenos possam dar asas à imaginação através da ludicidade, dos sentidos e do movimento. Afinal, o mundo será dos criativos, dos que souberem usar o poder da imaginação para inventar, recriar, inovar, enfim utilizar a informação de forma diferenciada.
Abraços!

Katia Chalita
Katia Chalita
13 anos atrás

Querida Patricia,

Parabéns por mais essa produção de sucesso e pela delicadeza do tema!
Fico feliz também de acompanhar o trabalho do Marcus Tavares em prol da mídiaeducação!
Beijos para ambos,
Katia

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