Por Marcus Tavares
Há 14 anos, elas aliam cinema e educação numa perspectiva de dar visibilidade e espaço para crianças e adolescentes contarem e (re)contarem suas experiências e aventuras produzidas no meio audiovisual. Soma-se a isto uma preocupação de elaborar uma curadoria de filmes nacionais/internacionais para compor o Vídeo Fórum, um área da Mostra Geração do Festival do Rio, voltada para estudantes e professores.
Em entrevista à revistapontocom, as coordenadoras Beth Bullara e Felícia Krumholz contam detalhes do projeto, que recebe, a cada edição, cerca de 150 produtos audiovisuais de crianças e adolescentes. Da violência ao bullying, as produções têm a característica de serem produzidas unicamente pelos jovens. As inscrições para o evento deste ano terminam no dia 23 de agosto. Para elas, o Vídeo Fórum 2013 só está começando.
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Acompanhe a entrevista:
revistapontocom – Qual é o principal objetivo do Vídeo Fórum – Mostra Geração?
Beth Bullara e Felícia Krumholz – O Vídeo Fórum é um espaço dentro da Mostra Geração/Festival do Rio exclusivo para a produção audiovisual de crianças e adolescentes. Aqui eles que comandam a festa cinematográfica. É um território deles, onde podem exibir seus filmes na tela grande do cinema, como qualquer cineasta que passa pelo Festival do Rio. Nosso objetivo principal é justamente unir a educação com essa vontade de se expressar, dar a oportunidade à criança e ao jovem de se manifestar positivamente, e se colocar no mundo. Acreditamos que através da sétima arte eles podem descobrir um mundo novo, que irá levá-los a lugares que nunca imaginaram. Nesses 14 anos de Vídeo Fórum, muitos foram aqueles que por aqui passaram, exibiram seu primeiro curtinha aqui conosco, e hoje já estão exibindo seus trabalhos em festivais pelo Brasil e pelo mundo afora. O que só comprova nosso objetivo. Optamos por não premiar pois acreditamos que o mais importante é mostrar independente da questão técnica (até porque sabemos que cada grupo teve condição diferente para executar seu trabalho). A seleção privilegia a inventividade e opta por mostrar pelo menos uma produção de cada instituição ou realizador independente que se inscreve. Por isso se chama Mostra Geração! Assim, conseguimos criar um circuito onde os jovens podem trocar informações e observações sobre suas criações. Depois de cada sessão há um debate onde os adultos só podem falar se forem perguntados. Nesses diálogos é que a gente fica sabendo como surgem as ideias e quais são as dificuldades que os meninos enfrentam na hora de fazer um vídeo. Eles encontram soluções muito criativas para as questões técnicas, mas, em relação aos problemas que os personagens de suas histórias encaram, costumam ser dramáticos. Nos filmes dos adolescentes, os personagens sofrem muito, mas o tom da maior parte das narrativas tende à comicidade…
revistapontocom – Nestes 14 anos da mostra é possível identificar fases/marcos do projeto?
Beth Bullara e Felícia Krumholz – Influenciado por um contexto de florescimento de organizações sociais, o Vídeo Fórum surgiu em 2000 com a participação de entidades de comunicação popular, que formavam, no Rio de Janeiro, uma rede colaborativa explorando o audiovisual como ferramenta de empoderamento e elevação da autoestima de jovens, especialmente de comunidades de baixa renda. Na época, os trabalhos chegavam em formato VHS e eram muito marcados pela temática da violência e gravidez na adolescência. Assim entramos no debate da educação pela comunicação para a cidadania, o qual nunca abandonamos. Só que esses grupos envolviam uma faixa etária larga (até 23 anos) e, na segunda edição, percebemos que, sendo uma mostra infanto-juvenil, era mais interessante focarmos nas produções de crianças e adolescentes até 18 anos, não universitários. Este recorte acabou direcionando um pouco as inscrições para as escolas e com isso veio “a invasão” dos temas do universo escolar: bullying; diversidade cultural; meio-ambiente, literatura, datas comemorativas etc. A ampliação do acesso à internet foi importante para que adolescentes encontrassem a nossa convocatória sem a intermediação das escolas. Antes, a divulgação das nossas inscrições ficava muito dependente da comunicação institucional entre a Mostra Geração/Festival do Rio e as instituições de ensino ou ONGS e, em 2004, recebemos as primeiras inscrições de vídeos de jovens que tinham feito tudo sozinhos. A internet ainda nos ajudou a projetar mais filmes e mais diversidade, o que foi muito positivo.
revistapontocom – Como a coordenação avalia as produções das crianças e dos adolescentes ao longo destes anos? O que é possível observar, analisar, identificar?
Beth Bullara e Felícia Krumholz – Estes 14 anos de Vídeo Fórum testemunharam uma evolução tecnológica que permite que cada vez mais crianças e jovens sejam produtores de audiovisual. Hoje, a seção recebe, por ano, uma média de 150 inscrições de trabalhos vindos do Brasil inteiro e de outras partes do mundo. Essa facilidade de acesso às novas tecnologias permite à criança e ao adolescente se expressar artisticamente e isso que é bacana. O audiovisual é uma forma de expressão poderosa, cada vez mais presente no nosso cotidiano, e seu processo de construção e realização é uma prática transformadora. O Vídeo Fórum é a prova disso. Cada grupo ou realizador independente, que volta a participar, retorna diferente. Percebemos a evolução e o amadurecimento do trabalho, que tende a explorar mais recursos criativos, discursivos e técnicos. E o mais gratificante é perceber que os debates que promovemos entre eles contribuem para esse desenvolvimento.
revistapontocom – Como funcionam os bastidores do Vídeo Fórum – Mostra Geração? Como são selecionados os filmes produzidos pelas crianças/adolescentes?
Beth Bullara e Felícia Krumholz – A produção do Vídeo Fórum começa seus trabalhos três meses antes da realização da Mostra Geração. Nesse período, a equipe de produção divulga as inscrições, vai conferindo a chegada dos inscritos e fazendo uma pré-seleção por temas e faixa etária. Também recebemos produções de outros países como Espanha, Argentina, Estados Unidos e Itália. É um trabalho árduo, pois assistimos todos os filmes enviados. Depois de assistidos, discutimos para ver a linha a seguir naquele ano, pois acaba que os temas dos trabalhos se coincidem. Infelizmente não é possível exibir todos os filmes. Por isso, optamos por selecionar pelo menos um trabalho de cada escola ou ONG que nos envia seus vídeos. Acreditamos ser esse o formato ideal, que irá colaborar inclusive na formação dessa criança ou jovem. A seleção não leva em consideração questões técnicas, mas sim a criatividade, inventividade, a forma como aquele grupo escolheu para contar aquela história. Além do Vídeo Fórum, a Mostra Geração tem mais três programas diferentes, que visam aproximar crianças, jovens e educadores do universo do cinema. O Programa Internacional exibe curtas-metragens brasileiros e longas inéditos vindos de todos os cantos do mundo. A proposta é trazer olhares diferentes, que ampliam nosso entendimento sobre as outras culturas e outras formas estéticas de construção da linguagem. Com o objetivo de proporcionar a reflexão sobre a linguagem e facilitar a apropriação das técnicas, realizamos as Oficinas Geração com crianças e jovens. A pergunta é: “como podemos criar um sentido captando e editando imagens e sons?” A cada ano existe uma proposta diferente levando em conta, entre outros fatores, os avanços tecnológicos. Nos Encontros de Educadores, procuramos oferecer filmes com qualidade artística cuja temática esteja afinada com as preocupações dos professores. Em cada sessão convidamos um especialista no assunto abordado nas obras e, sempre que possível, temos presente o diretor ou alguém da produção para um debate ao final da projeção. Para 2013 estão previstas 5 sessões do Encontros de Educadores. A primeira aconteceu no dia 17 de agosto, na Arena Dicró, na Penha. Exibimos o filme Colegas. Em seguida, houve um debate com o ator Breno Viola e com a psicóloga Julia Millman. A próxima será realizada no dia 31 de agosto, no cinema Estação Rio. Para os educadores interessados em integrar nosso mailling e com isso passar a participar dos Encontros, basta entrar em contato pelo telefone 0XX21 3035-7110, e falar com um dos nossos produtores.
revistapontocom – Quais são os diferenciais da mostra deste ano? O que se pode esperar?
Beth Bullara e Felícia Krumholz – Ainda estamos fechando a programação. Nossa produção está em ritmo acelerado para garantir uma Mostra Geração de qualidade, como em todos os anos. De novidade, por enquanto, temos a ida da mostra para as Arenas Culturais, que irão exibir filmes da nossa programação, e o Encontro de Educadores, que irá acontecer mais vezes até o final do ano.