Morreu, no dia 28 de novembro, aos 85 anos, o ator mexicano Roberto Bolaños, criador dos personagens Chaves e Chapolin, cujos seriados seguem em exibição em diversos países, apesar de terem estreado ainda nos anos 1970. Muito já se falou sobre as séries aqui no Brasil, que chegaram na década de 80. Tive a oportunidade de entrevistar Luis Joly, um dos autores do livro “Chaves – foi sem querer querendo?”, lançado em 2005, pela Editora Matriz. A publicação, fruto de uma extensa pesquisa, traça a história do seriado Chaves que conquistou os brasileiros.
Um bom momento para relembrarmos. Uma homenagem da revistapontocom.
Confira:
Já são mais de vinte anos de exibição na TV brasileira. O seriado atravessou os anos 80 competindo com loiras, rainhas e desenhos animados, como He-Man e Thundercats. Quem é que não se lembra? Encarou os anos 90 dos Cavaleiros do Zodíaco, Jaspion e todos os similares. Chegou aos anos 2000 com a mesma pose, enfrentando Pokemón, DragonBall Z e tudo o que vinha pela frente. E sem fazer feio. Mantendo um público cativo, fiel e, em alguns casos, de três gerações. Sem dúvida nenhuma, pode-se dizer que Chaves – o seriado mexicano exibido desde 1984 pelo SBT – é um fenômeno na TV Brasileira.
Que o diga os jornalistas – e fãs do seriado – Luis Joly, Fernando Thuler e Paulo Franco. Formados pelo Centro Universitário UniFIAM e com pós-graduação pela Cásper Líbero, eles tiveram a ideia, ainda na graduação, de pesquisar e entender como um seriado mexicano fazia tanto sucesso no Brasil há mais de duas décadas e à base, praticamente, de reprises. A pesquisa foi feita e apresentada como trabalho de conclusão de curso.
O livro, escrito para os fãs e para quem nunca ouviu falar da série, conta detalhes do surgimento do Chaves no Brasil. Reconstrói a história e revela que, na prática, os diretores da então TVS (hoje SBT) não apostavam no seriado, ao contrário do presidente da empresa, Silvio Santos, que resolveu comprar os direitos de exibição da série, chamada oficialmente por El Chavo del Ocho.
O seriado era apenas um dos itens de um grande pacote de produtos importados da Televisa, empresa Mexicana. A TVS adquiriu cerca de 250 episódios. Todos foram dublados. A série foi ao ar, pela primeira vez, em 25 de agosto de 1984, como um dos quadros do Programa do Bozo, que já tinha se tornado o palhaço mais famoso da TV brasileira da década de 80.
Os autores do livro contam que Chaves não emplacou de vez. Nos primeiros anos, a audiência sempre esteve atrás dos programas exibidos pela grande rival da TVS, a Rede Globo. Mas Silvio Santos, com certeza, contava com a astúcia do menino Chaves. Em pouco tempo, o seriado desvinculou-se do Programa do Bozo e ganhou horário próprio, alcançando praticamente todo o território nacional a partir de 1987, quando a TVS se transformou no SBT, em uma rede nacional de televisão.
A partir daí o programa, segundo os autores, ganhou vida própria. Foi exibido em diferentes horários, virou marca de produtos infanto-juvenis – álbum de figurinhas, lancheiras, videogame, bonecos, acessórios e revistas em quadrinhos. E ainda foi líder de audiência em todos os horários de exibição, deixando para trás os outros canais. “Sua média de audiência nos primeiros vinte anos de exibição apresenta impressionantes oito pontos, o que representa cerca de oito milhões de pessoas por dia” – destacam os autores do livro.
De acordo com a obra, dados de agosto e setembro de 2003 mostram que o programa é mais assistido por crianças de 4 a 11 anos, das classes C, D e E. Cerca de 54% dos telespectadores são do sexo feminino. A pesquisa revela também que o seriado tem uma boa aceitação entre as classes A e B e entre o público com mais de 35 anos.
Para contar mais detalhes da série, confira a entrevista com um dos autores do livro, Luís Joly. Fanático por Chaves, o jornalista adiantou que até julho será publicado um novo livro sobre a saga do menino Chaves. “Uma publicação com outras curiosidades e histórias engraçadas”. Acompanhe a entrevista:
Marcus Tavares – O que há de tão especial em Chaves? Como explicar o sucesso da série no Brasil?
Luís Joly – Vários motivos podem explicar o fato de o Chaves fazer sucesso no país. É, inclusive, esta brincadeira que fazemos no título do livro: será que foi sem querer querendo mesmo que o SBT conseguiu tornar a série um sucesso? Cada episódio, por exemplo, foi reprisado mais de 40 vezes. A reprise funcionou como uma boa estratégia, uma boa tática. Investiu-se na repetição maciça. E de tanto repetir, a série acabou fazendo parte do imaginário coletivo do brasileiro. Acredito que a narrativa atemporal da série e as piadas ingênuas e universais também podem explicar o sucesso. O próprio protagonista, o Chaves [interpretado pelo autor da série], chama a atenção dos telespectadores. De certa forma, eles acabam se identificando com o personagem: um garoto órfão que vive se escondendo no barril da vila em que mora. Além de aprontar muitas e muitas peraltices e peripécias, o garoto sempre tenta arrumar alguma coisa para comer, já que passa dias e dias sem se alimentar. Na verdade, todos os personagens são carismáticos e têm alguma característica que desperta o interesse dos telespectadores. Trata-se de uma realidade que você encontra em qualquer lugar, em qualquer país. Além disso tudo, Chaves é um programa humorístico de fácil entendimento e voltado para todas as idades. Não é um programa essencialmente infantil. Bolaños, o autor da série, não escreveu um seriado infantil, mas, sim, um seriado humorístico dirigido para qualquer idade.
Marcus Tavares – O Chaves também fez sucesso no México e em outros lugares?
Luís Joly – No México, o autor da série, Roberto Gómez Bolaños, é idolatrado. É uma celebridade como Renato Aragão. Inclusive o mês de abril é dedicado a Bolaños que, curiosamente, é chamado de Chespirito, uma forma ‘espanholizada’ do nome inglês Shakespeare. O Chaves foi e é sucesso no México, assim como na Argentina e nos Eua, nas comunidades latino-americanas. A série também foi vendida para alguns países da Europa e da Ásia. É importante destacar que a série que o SBT vem reprisando ao longo destes 21 anos se refere à produção da década de 1970. Bolaños regravou o seriado nos anos 80, com novos atores. O SBT inclusive exibiu estes novos episódios. Mas eles não agradaram ao público, que exigiu a série antiga.
Marcus Tavares – Então pode-se afirmar que Chaves foi uma grande aquisição feita pelo SBT?
Luís Joly – Sem dúvida. Durante estes 21 anos de exibição, o SBT já reprisou cada episódio, no mínimo, 40 vezes. O programa já foi ao ar em diferentes dias e horários, à noite, no horário nobre, à tarde e pela manhã. Já saiu e entrou na grade da programação algumas vezes, mas sempre dando um bom retorno e uma ótima audiência. Sua média, nos primeiros 20 anos de exibição, é de oito pontos, o que representa cerca de oito milhões de pessoas por dia. Fora isso, Chaves já deu muito trabalho para as emissoras concorrentes. Há um caso que contamos no livro que envolveu o programa Mais Você, da apresentadora Ana Maria Braga. Ao estrear na programação vespertina da Rede Globo, o SBT contra-atacou com Chaves. Dois meses após a estréia, os números mostravam que o seriado tinha um público cativo e muito forte. O programa ficava à frente do Mais Você. No ano passado, a renovação do contrato da Televisa com o SBT foi motivo de interesse das outras emissoras. O contrato com o SBT estava expirando, e, sem uma razão específica, o grupo mexicano decidiu cobrar US$ 1,5 milhão por ano de exibição em vez dos US$ 500 mil. Muitas emissoras pensaram em comprar os direitos, mas o SBT resolveu pagar e manter Chaves na sua programação.
Marcus Tavares – Como foi a chegada do Chaves ao Brasil?
Luís Joly – O Chaves chegou ao Brasil como um contrapeso das novelas mexicanas. A Televisa vendeu algumas novelas para a TVS, como era conhecido o SBT antes de se tornar uma rede nacional de televisão. Em contrato, a Televisa determinava que todos os produtos comprados deveriam ser exibidos. Os diretores da empresa assistiram ao primeiro episódio da série, mas não aprovaram. Mas contrariando as expectativas do grupo, Silvio Santos resolveu veicular o seriado. Na verdade, Chaves ficou cerca de três anos na gaveta. Contra a vontade dos diretores, Silvio Santos mandou a série ser dublada. Oficialmente, ela estreou em 1984, dentro do Programa do Bozo. O SBT comprou cerca de 250 episódios, todos produzidos durante a década de 70.
Marcus Tavares – O livro que vocês lançaram em setembro do ano passado está na 5ª edição. Quem é o leitor de vocês?
Luís Joly – Na verdade, o nosso livro é voltado para todo tipo de público. Ele não foi escrito apenas para quem é fã da série. É atraente para quem já conhece a obra e para quem nunca ouviu falar dela. Há diálogos da série, curiosidades e muitas histórias. O que temos verificado é que muitas crianças e jovens têm lido o livro. Mas também temos leitores mais velhos, afinal o seriado já foi visto por várias gerações. O engraçado é que para muitas crianças e jovens trata-se do primeiro livro de suas vidas. O que nos gratifica muito. Até julho, vamos lançar mais um sobre o assunto. Vamos trazer mais curiosidades e contar outras coisas que aconteceram nos bastidores.
Adorava assistir ao chaves.
Muito maneiro. Adorava os cavaleiros do zodíaco.