Por Marcus Tavares
Estreia no dia 14 de outubro a primeira novela do canal infantil Gloob, da Globosat. Gaby Estrella vai contar a história de uma menina carioca, moradora de Ipanema, que vê a sua vida mudar quando vai morar com a sua avô, em uma fazenda, longe do consumo e das tecnologias das grandes cidades. A direção é de Claudio Boeckel. E o roteiro de quatro mulheres: Ana Pacheco, Carina Schulze, Izabella Faya e Laura Barile.
O folhetim, que deve ir ao ar às 20 horas, de segunda a sexta, vai contar com conteúdos exclusivos para sites e aplicativos. Segundo informações do Meio&Mensagem, o projeto comercial conta com quatro cotas de patrocínio, que dão direito a inserções em vinhetas, intervalos, chamadas da novela e plataformas móveis.
Mas o que está por trás da narrativa? Além do entretenimento e do interesse comercial, a primeira novela do Gloob vai trazer alguma reflexão para as crianças? Foi o que a revistapontocom procurou saber. Em entrevista, a roteirista Ana Pacheco explica que a série não vai dar ‘lições’, mas carrega valores como como ética, solidariedade, respeito às diferenças e a importância da família.
“No entanto, esses valores não aparecem como “lição”. Isso não quer dizer que não existam situações de conflito, caso contrário não há história. Tais valores, portanto, norteiam o desenvolvimento da história e as resoluções dos conflitos. Do ponto de vista das roteiristas, tentamos sempre trazer estes valores principalmente nas resoluções, porque os conflitos existem na novela como existem na realidade, mas a resolução que é dada a estes conflitos é que é determinante”, conta.
Acompanhe a entrevista:
revistapontocom – Gaby Estrella conta que história?
Ana Pacheco – Gaby Estrella tem 12 anos, mora em Ipanema e vive cercada de amigos. Patricia Estrella, sua mãe, uma executiva workaholic, compensa a falta de tempo proporcionando à filha tudo que o dinheiro pode comprar:gadgets de todo tipo, aulas de dança, teatro, inglês e surf, um motorista que a leva para todos os lados e todos os seus desejos atendidos. Gaby é um ser social e a praia de Ipanema é a extensão da sua casa. Tudo parece estar perfeito na festa de final de ano da escola: Gaby é a protagonista da peça de teatro e contracena com o menino mais lindo da 702, o Quinho. É justamente no meio da festa que Gaby fica sabendo que sua mãe recebeu uma proposta de trabalho nos Estados Unidos e que Gaby terá que ir morar na fazenda, no interior do estado, com sua avó paterna, de quem ela mal se lembra. O mundo de Gaby, que ela achava que era perfeito até então desaba quando ela passa de garota de Ipanema a “peixe fora d´água”. Quando chega à fazenda da avó, Gaby acha que seu mundo acabou. Não é fácil para ela se adaptar à vida no campo. Ela estranha tudo: o chão de terra, o sotaque caipira, acordar cedo, comida saudável… e estará sujeita às rígidas regras da avó, Laura Estrella. Além disso, na nova escola ela terá que conquistar seu lugar no grupo já liderado por sua prima Rita de Cássia, a rainha do rodeio mirim, que é voluntariosa e “manda” em todos. “Desconectada” de seus gadgets, Gaby terá que aprender a se reconectar com outras formas de se divertir e passar o tempo. Com as “pirralhos” Juju, Luli e Chiquinho, Gaby terá a oportunidade de resgatar uma parte mais lúdica da infância. Na fazenda, Gaby entra em contato com a música e a memória do pai, que era cantor sertanejo. A música também lhe ensinará a lidar com seus sentimentos e lhe ajudará a se inserir no contexto local.Com a música, Gaby vai achar sua “voz”. A jornada de Gaby no mundo da música a ajudará a se reconectar com sua família, reestabelecendo os laços afetivos com o pai, a avó e a mãe. Ao longo da série, Gaby reconstruirá essas relações com muito conflito, carinho e aprendizado.
revistapontocom – Quem são os roteiristas? Como foi o processo de construção?
Ana Pacheco – As roteiristas são Carina Schulze, Ana Pacheco, Izabella Faya e Laura Barile. Depois do desenvolvimento inicial da serie, feito por Carina e por mim, adotamos a dinâmica de um writer’s room (dinâmica de trabalho, usada na criação das séries americanas, onde os roteiristas ficam juntos, num mesmo espaço, elaborando o roteiro). No nosso caso, desenvolvíamos os arcos das histórias em conjunto e depois cada uma escrevia um roteiro e depois as outras revisavam e mexiam. Em uma determinada altura realmente foi um trabalho a oito mãos. Fizemos também uma pesquisa de campo numa escola junto aos estudantes para observar como falam e se comportam meninos e meninas, para ver se os diálogos criados estavam dentro da linguagem deles.
revistapontocom – Como se chegou à história da Gaby?
Ana Pacheco – O argumento da série foi criado pela Mara Lobão, da produtora Panorâmica, e pela Carina Schulze, da produtora Chatrone. Partiu-se da ideia de criar uma série infantil que unisse entretenimento de qualidade e música. Pelo que eu sei, o processo de pesquisa foi feito a partir da produção existente para o público infanto juvenil.
revistapontocom – A novela terá quantos capítulos? Estreia quando?
Ana Pacheco – É a primeira novela do Gloob. Tem 52 capítulos e vai ao ar diariamente de segunda a sexta, as 20hs. Estreia dia 14 de outubro. A dinâmica de produção está sendo como a de uma série. Em algum ponto estará sendo produzida e indo ao ar ao mesmo tempo, mas não com a perspectiva de alterar os capítulos.
revistapontocom – Há alguma reflexão que se quer travar com as crianças?
Ana Pacheco – De forma geral, a história carrega valores como ética, solidariedade, respeito às diferenças e a importância da família. No entanto, esses valores não aparecem como “lição”. Isso não quer dizer que não existam situações de conflito, caso contrário não há história. Tais valores, portanto, norteiam o desenvolvimento da história e as resoluções dos conflitos. Do ponto de vista das roteiristas, tentamos sempre trazer estes valores principalmente nas resoluções, porque os conflitos existem na novela como existem na realidade, mas a resolução que é dada a estes conflitos é que é determinante.
revistapontocom – Como encantar as crianças por meio de uma novela? É possível?
Ana Pacheco – Uma boa história sempre prende a atenção e, neste caso, a novela tem a estrutura da Sherazade, nas Mil e uma noites: cada noite você quer saber como continua a história no dia seguinte. Além disso, alguns elementos são muito atraentes na Gaby Estrella: a música, que tem um papel importantíssimo na história. Ela ajuda a contar a narrativa e está sendo cuidada com primor. Tem temas musicais lindíssimos e muitos deles são super “chiclete”. O elenco também é super cativante e o fato de ser composto, na sua maioria, por crianças, também é um fator atraente para as crianças. É uma história de crianças para crianças.
revistapontocom – Como é o processo de escrever para o público infanto-juvenil?
Ana Pacheco – É uma delícia escrever para este público. Eu adoro. Sempre convivi com crianças e a melhor coisa é que a gente não tem vergonha de criar situações engraçadas, aproveitar o olhar fresco das crianças para as coisas. Essa parte é muito divertida. Eu acho que no fundo você tem que ser um pouco criança para escrever para as crianças, curtir entrar nesse universo. O meu filho tem a idade da Gaby e poderia perfeitamente fazer parte desta história. Muitas coisas eu “pego carona” nos papos dele e de seus amigos. E, sinceramente, a nossa maior preocupação é a de contar uma boa história. É uma história bem contada que prende a atenção. Eu me lembro que quando estávamos bem no começo do processo, escrevendo as sinopses, contei a história para minha sobrinha de oito anos. Ela ficou grudada prestando atenção no que eu falava, sem nenhum recurso, nenhuma foto, nenhum vídeo, nada, apenas a história. Acho que esse é um bom começo para tentar cativar o público: contar uma boa história.
revistapontocom – Como é a interação entre as roteiristas e a direção?
Ana Pacheco – A nossa relação com a direção é de colaboração. Tentamos sempre buscar soluções para as limitações de produção e a equipe de direção também. A Carina, que é a coordenadora dos roteiros, sempre que pode vai ao set, mas nem sempre o ritmo louco de produção permite isso.
revistapontocom – O que se espera com a Gaby Estrella?
Ana Pacheco – Que ela encante o público da mesma maneira que encantou todos os envolvidos no projeto. Estamos todos apaixonados por ela e torcendo para que seja um sucesso e para que possamos seguir contando suas histórias por outras temporadas.
revistapontocom – Qual é o lugar que a ‘novela’ ocupa, hoje, no dia a dia das crianças?
Ana Pacheco – Na minha opinião a TV ainda ocupa um espaço bem grande do lazer das crianças, mas, conforme elas vão crescendo, a forma de ver TV e de consumir narrativas vão mudando. Meu filho atualmente vê tudo pela internet, raramente liga a TV.