Ela fez a primeira poesia aos 8 anos. Era um cordel com a vida de Luiz Gonzaga. E a partir daí sua vida mudou. Nos anos seguintes, se tornou produtora cultural da Escola Estadual Coronel Manoel de Souza Neto, onde ela fez “as descobertas mais importantes da sua vida”. Montou feiras de ciências, festas, rodas de leitura, escreveu, montou e dirigiu peças de teatro.
Aos 15 estava representando os jovens no fórum municipal da sua cidade, Manari (Pe), cursando empreendedorismo sustentável, depois gestão de municípios, fez palestras, ganhou prêmios. Aos 18, concluiu o Ensino Médio, na Escola Estadual Antônio Guilherme Dias Lima, e viajou pelo Brasil por causa do filme Pro dia Nascer Feliz.
Aos 20 anos, Valéria cursa 3º período de Comunicação Social, em Recife e coordena uma equipe no Núcleo de Midiaeducação do Centro de Referência do Ensino Médio Cícero Dias, trabalhando com os alunos animação de stop motion. E ainda encontra tempo para ser agente de História no projeto Um milhão de histórias de vida de Jovens e coordenar uma oficina de Cinema e Educação. E, nas horas vagas, segue escrevendo poemas.
Nesta conversa com a revistapontocom, Valéria fala sobre a relação entre os dois mundos: mídia e educação. Para ela, entender a mídia nos permite construir uma visão crítica da realidade que nos cerca.
revistapontocom – Como você começou a se interessar pelas questões da midia e educação e do audiovisual?
Valéria Pereira Fagundes – Essa questão do audiovisual foi algo que sempre me fascinou. Eu morei até os 18 anos em Manarí, uma pequena cidade do interior de Pernambuco. Lá não havia muita opção de lazer ou cultura; então a tv era algo vital para mim. Eu adorava assistir os programas educativos e os filmes. Ficava impressionada como a abordagem de um determinado assunto me fazia ter uma compreensão prazerosa. Eu chegava na escola eufórica, porque sabia que se os professores fizessem alguma atividade nesse sentido as aulas se tornariam mais atrativas. Mas eu também percebia que, além da escola não dispor dos recursos necessários, existia uma resistência por parte dos professores. E essa inquietação foi algo que perdurou durante toda minha vida. Foi por isso também que decidi sair de lá, do interior. Meu interesse em trabalhar diretamente com midiaeducação surgiu quando conheci a metodologia da Cícero Dias, quando percebi que era possível trabalhar os veículos de comunicação numa perspectiva de construção do olhar crítico dos educandos.
revistapontocom – Como você veio atuar na Escola Cícero Dias?
Valéria Pereira Fagundes – Recebi o convite para participar de um debate na escola, após a exibição do filme Pro dia nascer feliz, no qual eu sou uma das personagens. Na oportunidade, tive o prazer de conhecer a equipe do OI Futuro e do Planetapontocom, falei que viria morar em Recife e foi daí que surgiu o convite para eu trabalhar aqui.
revistapontocom – Qual a importância da abordagem da midiaeducação na formação do cidadão do século XXI?
Valéria Pereira Fagundes – A formação do cidadão de hoje passa essencialmente pelos meios de comunicação. Não dá pra imaginar um jovem que tenha uma visão crítica, se ele não recebe instruções ou influências para construir esse conceito de criticidade. A escola hoje em dia ainda se preocupa em escolarizar, mas eu acho que só escolarizar não basta. É preciso educar para a vida! Quando se trabalha com midiaeducação, você consegue possibilitar essa visão, porque isso faz parte do processo natural e é algo muito dinâmico. É por isso que os resultados aqui na escola têm sido muito satisfatórios.
revistapontocom – Que tipo de trabalho você está desenvolvendo agora?
Valéria Pereira Fagundes – Eu sou responsável pela coordenação interna do Núcleo de Midiaeducação da escola. Nós dispomos de um estúdio de rádio, um estúdio para filmagens e uma ilha de edição. Temos profissionais capacitados para ensinar aos educandos o manuseio de todos os equipamentos de mídia. Eu fico responsável por tudo, todas as produções passam pela minha aprovação. Porém, tenho um cuidado redobrado com a parte pedagógica de todas essas produções. Agora estamos numa fase de produção de diversos vídeos, os educadores estão bastante envolvidos nas atividades, os educandos produzindo muito e eu fico acompanhando tudo isso de perto. Facilitando, orientando, dando a assistência e o apoio que eles precisam.
revistapontocom – O que mais falta nas escolas brasileiras?
Valéria Pereira Fagundes – Eu acho que a escola precisa ser repensada para se tornar um ambiente mais atrativo, porque o mundo fora da escola é bem mais interessante. Existem muitas lacunas que precisam ser preenchidas no sistema educacional deste país, é preciso dar condições dignas de trabalho aos professores, equipar as escolas com laboratórios de informática, equipamentos de mídia, refeições de qualidade. Nós estamos falando de um espaço que tem o dever de proporcionar o desenvolvimento pleno do ser humano.
revistapontocom – Você acha possível se situar no mundo sem entender a mídia?
Valéria Pereira Fagundes – Quando você desempenha o papel de espectador passivo diante da mídia, você acaba se tornando uma pessoa sem identidade. Assim, nunca poderá se situar e nem assumir uma visão crítica do mundo. É preciso analisar, ponderar e, principalmente, perceber a intenção do que está sendo exposto pelos meios de comunicação. É necessário compreender que esta sociedade capitalista é resultado apenas da propagação de valores fúteis expostos pelos meios de comunicação de massa.