“A atual geração de meninos e meninas é super conectada e o Orkut representa mais uma forma de se conectar”, Fernanda Bruno
De acordo com Fernanda, cada vez mais, as novas gerações associam as relações sociais às praticas do ver e do ser visto. Para ela, são crianças e jovens que cresceram familiarizados com os meios de comunicação de massa, onde ser visível se tornou um valor positivo, ao contrário dos adultos que têm algum constrangimento com a exposição da vida privada.
Coordenadora do Núcleo de pesquisa em tecnologias da comunicação, cultura e subjetividade (CiberIDEA), Fernanda ressalta ainda que, hoje, no contexto da web 2.0., a internet é marcada pela atitude participativa e colaborativa.
Confira a entrevista concedida pela professora Fernanda Bruno:
revistapontocom – O Orkut é uma febre entre crianças, adolescentes e adultos. Por que isso acontece?
Fernanda Bruno – O Orkut é um fenômeno recente. Está em andamento e desenvolvimento, assim como as redes sociais de uma forma geral. Por isso, não posso fazer afirmações categóricas quanto ao motivo pelo qual algumas crianças, adolescentes e adultos gostarem tanto dele. Mas há pistas para entender a repercussão das redes sociais nessas gerações. Elas são encontradas nas características mais amplas da nossa cultura. Uma delas é o forte vínculo que existe hoje, sobretudo para as novas gerações, entre a sociabilidade, formas de tecer relações sociais, e a visibilidade. Ou seja, cada vez mais, as novas gerações associam as relações sociais às praticas do ver e do ser visto – se fazer visível para o outro e também ver a vida do outro, a intimidade do outro e as características do outro. É uma geração que cresceu muito familiarizada com os meios de comunicação de massa, onde ser visível se tornou um valor positivo. A internet torna a visibilidade possível para todos. Isso foi muito atraente para as novas gerações, pois democratizou a visibilidade. Na televisão há visibilidade para poucos, já na internet há visibilidade para muitos. Não é a mesma visibilidade. Ela não tem o mesmo alcance, mas há esse apelo. E, na minha opinião, este apelo é um dos elementos que torna as redes sociais tão populares. Acho que esse elemento atraí, principalmente, as novas gerações, pois a geração dos adultos de hoje, acima dos 30, 40 anos, tem algum constrangimento com a exposição da vida privada, da intimidade. Exposição que acontece nas redes sociais. Elas pulverizam domínios da vida das pessoas que antes permaneciam na esfera privada ou entre amigos, não disponível em meio ou veículo de comunicação. Então, a primeira forma de entender essa expansão das redes sociais e a popularização desses ambientes na internet é a associação entre a sociabilidade e a visibilidade, tanto para os adolescentes quanto para os adultos. Do ponto de vista das crianças, é mais difícil responder a essa pergunta. Não conheço e nunca fiz nenhuma pesquisa com o público infantil. Não conheço a vivência das crianças na internet, tão pouco se é significativo o seu número no Orkut. Mas a internet é, sim, mais um ambiente lúdico, mais um lugar para brincar, para conhecer pessoas, para se divertir.
revistapontocom – O dia-a-dia da geração da garotada mudou com a chegada do Orkut? Como?
Fernanda Bruno – Não vejo nenhuma grande mudança. O que vejo são múltiplos espaços de troca social, comunicação e experiência sendo criados para pessoas que acessam a internet e usam o computador. É mais uma camada de sociabilidade, de cuidado com a imagem, de arquivo de memória e de relação com o outro. É mais um elemento que ingressa na vida cotidiana. Não vejo diagnósticos que dizem que pessoas transferiram a sua vida social do “mundo real” para o “mundo virtual”. É um processo de adição, mais um lugar para se socializar, e não uma transferência. O Orkut é um lugar onde as pessoas chamam você para festas, onde você fica sabendo o que está acontecendo na rua e qual é a boa da noite. Ele vem aumentar a sociabilidade que acontece na rua, nos encontros pessoais e nas festas. O que atravessa tudo isso é o fato da sociabilidade estar sendo alimentada por um certo voyerismo, a atitude de um espiar o que o outro está fazendo. Na minha opinião, a prática da visibilidade, o jogo do ver e do ser visto, está alimentando as formas de se relacionar com o outro. Ela alimenta desde as amizades até os encontros amorosos e as relações superficiais. Sem dúvida, as pessoas passam mais tempo em frente ao computador, mas, por outro lado, passam menos tempo em frente à televisão, por exemplo. Ainda que no Orkut elas se relacionem de forma superficial, elas estão ali procurando outras pessoas. Elas não estão ali vendo algo passivamente como fazem em frente à televisão. Não estão idolatrando um grupo de celebridades ou apenas se divertindo. No Orkut, há um fluxo de troca, uma série de encontros que produz uma sociabilidade mais ativa comparada aos outros meios de comunicação. O orkut é uma rede social. E esse é o meio que vingou na internet, marcado pela busca da sociabilidade.
revistapontocom – O que o Orkut representa para esta atual geração de meninos e meninas?
Fernanda Bruno – A atual geração de meninos e meninas é super conectada e o Orkut representa mais uma forma de se conectar. É uma geração que tem uma relação de rede com o mundo. Ela só se sente no mundo estando conectada às redes de comunicação. As redes, na prática, são uma novidade ao antigo computador. Antigamente, as pessoas ficavam nas suas casas fazendo trabalhos e jogando jogos, mas desligadas umas das outras. Hoje, há uma rede de comunicação, na qual todos se conectam. Existe também a necessidade de estar conectado. É muito comum você ver uma pessoa que está em várias redes sociais. Ela tem, por exemplo, Orkut, Twitter e Blog. Quanto mais ela entra, mais ela se envolve e acha que precisa estar presente a uma série de circuitos de gosto, de moda, de música, de informação, de conhecimento e de diversão.
revistapontocom – Como podemos descrever o perfil dessa geração Orkut?
Fernanda Bruno – É uma geração que tem valores de conectividade, sociabilidade e participação. Cada vez mais, a internet é marcada pela atitude participativa, diferente dos outros meios de comunicação, onde a pessoa é, na maioria das vezes, apenas receptora de informação. Na internet, nas redes sociais, o indivíduo também se torna produtor de conteúdo. Conteúdo ligado ao entretenimento, a vida privada, a vida íntima, a sociabilidade ou a qualquer outra coisa. Uma nova forma de caracterizar a internet é chamá-la de Web 2.0. Ela não é mais apenas um espaço de acesso fácil, rápido e democrático à informação, mas um lugar de produção de conteúdo. Você cria o seu blog, o seu perfil no Orkut e produz. Esse impulso de participação marca também a migração do meio televisivo para o meio da internet, para a colaboração, para a troca de informações, conhecimentos e arquivos.