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Literatura, ciberespaço e jovens: novos rumos na rede

Conheça a proposta da série voltada para o público juvenil

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Por Marcus Tavares

Os livros têm um formato original, instigante e de acordo com a linguagem da geração dos nativos digitais. Os conteúdos são atualíssimos: relação entre o público e o privado, cyberbullying, distúrbios associados ao corpo, ansiedade, limites entre o certo e o errado e a dificuldade de estabelecimento de relações afetivas sinceras. As obras – que fazem parte da série Rumos na Rede (Editora Moderna) – são voltadas para o público juvenil, mas vêm despertando a curiosidade de muitos adultos.

Coordenadora do projeto, Maria Luiza Abaurre concedeu uma entrevista à revistapontocom. Ela explica porque a literatura, o ciberespaço e os jovens são ingredientes de uma combinação perfeita. Combinação que tem o objetivo de aproximar dois universos “comumente vistos como distantes ou quase excludentes: o do livro e o da internet”.

Ao trabalhar com temas polêmicos do dia a dia dos adolescentes digitais, a série não quer “demonizar” o ciberespaço, mas, sim, refletir sobre comportamentos humanos que, ali, parecem ter sido exacerbados. “O objetivo maior é favorecer a construção de novas competências, para que os leitores possam lidar cada vez melhor com emoções e relacionamentos vividos no mundo real”, destaca Maria Luiza Abaurre.

Acompanhe:

revistapontocom – Literatura e ciberespaço combinam?
Maria Luiza Abaurre
– Se considerarmos que na base da criação literária está a possibilidade ilimitada de imaginar mundos ficcionais ou recriar, ficcionalmente, a realidade, vamos concluir que a literatura tem, ao longo da história humana, demonstrado um poder de adaptação muito grande a diferentes suportes e formatos. Então, literatura e ciberespaço combinam muito. Não podemos nos esquecer de que, na origem, a criação literária ocorria somente no espaço da oralidade e, com o advento da escrita, a literatura rapidamente se adaptou às novas possibilidades e desenvolveu inúmeras formas e gêneros próprios para o universo da escrita. O mesmo tem acontecido em relação ao ciberespaço. Os blogs, hoje, são uma importantíssima ferramenta de criação e divulgação de textos literários de qualidade. Podemos imaginar, por exemplo, que autores que, no século XIX, ficavam “restritos” a manuscritos não publicados, hoje conseguiriam, por meio de um blog, divulgar seus textos e poemas para todos aqueles que, navegando pela rede, estivessem dispostos a conhecê-los. Portanto, o ciberespaço veio ampliar, e muito, o universo de leitores potenciais. Isso é excelente.

revistapontocom – Literatura, ciberespaço e jovens combinam?
Maria Luiza Abaurre
– Quando a gente leva em consideração que um jovem de 15 anos nasceu depois do surgimento do computador pessoal, do e-mail, da internet; quando nos damos conta de que esse mesmo jovem tinha quatro anos quando surgiu o ICQ, cinco anos quando foram criados os primeiros tocadores de mp3, 11 anos quando o Orkut foi lançado, entendemos que o mundo dele é muito diferente do de seus pais e professores. Nenhum de nós imagina o que era viver sem televisão ou telefone, mas nossos pais precisaram aprender a lidar com esses objetos como parte da vida cotidiana. O mesmo é verdade para nós: temos de aprender a lidar com o universo virtual como um dado constitutivo do mundo em que vivemos. E precisamos entender porque é tão natural para os jovens habitar o ciberespaço. Essa é a configuração do mundo que eles conhecem. Não faria sentido ser diferente. Nada mais natural, portanto, do que pensar em uma série de livros que promova a relação entre a literatura e o ciberespaço, criando, assim, condições para que esses jovens vivam de modo intenso o prazer da leitura e se deem conta de que o poder de criação da literatura é tão grande, que ele inclui, também, os muitos universos virtuais.

revistapontocom – Qual é a proposta da série Rumos na Rede?
Maria Luiza Abaurre
– A ideia central da série é aproximar dois universos comumente vistos como distantes (ou quase excludentes): o do livro e o da internet. Se a gente considera que uma das funções primordiais da literatura é oferecer a possibilidade para refletirmos sobre a realidade e sobre comportamentos humanos, fica mais fácil compreender porque a nossa intenção é criar, por meio dessa, condições para que os jovens discutam alguns dos temas e dramas que marcam a adolescência em um mundo predominantemente digital. No caso específico dos jovens e do ciberespaço, o distanciamento que permite a reflexão torna-se praticamente inalcançável, porque o processo de fabulação está na essência das relações ali estabelecidas. Esperamos, com as narrativas da série, criar um contexto que, por recriar ficcionalmente dilemas e angústias característicos desse novo espaço, favoreçam a construção de novas competências, fundamentadas em valores positivos, que privilegiem as emoções e os relacionamentos vividos no mundo real.

Conheça os três livros da série:
O colapso dos bibelôs
A menina da árvore
Presas na teia

revistapontocom – O título da apresentação dos livros é Ciberespaço: a fronteira final. Mas pergunto: o que vem depois do ciberespaço?
Maria Luiza Abaurre –
Quando reconhecemos que o ciberespaço se define como o domínio do virtual, da experiência absoluta da criação infinita de “realidades”, é difícil imaginar o que vem depois dele. Acho que ainda há muito por ser criado em termos das possibilidades de vivências dentro do próprio ciberespaço. A web 2.0, por exemplo, introduziu ferramentas que tornaram muito mais simples a interação entre indivíduos no universo virtual. As redes sociais partiram desse conceito e facilitaram mais ainda a criação de comunidades virtuais, o contato entre pessoas que provavelmente jamais se conhecerão, a experiência de uma alteridade impossível no mundo real. Hoje vemos o Brasil mergulhado na “febre” do twitter. As pessoas estão fascinadas pela possibilidade de passar o dia informando o que estão fazendo, em micro-textos de 140 caracteres. É quase como se tivessem a necessidade de narrar a própria vida à medida que ela está sendo vivida. Se alguém nos dissesse, cinco anos atrás, que a proposta de divulgação de micro-textos teria um efeito como esse, provavelmente não acreditaríamos. Bastou surgir a ferramenta para que milhões passassem a utilizá-la. A pergunta não me parece ser, portanto, o que está além do ciberespaço, mas sim quais novas ferramentas surgirão para nos permitir explorar ainda mais o seu potencial.

revistapontocom – Os temas dos livros são instigantes, polêmicos e do cotidiano dos jovens. Como foi o processo de escolha dos autores e dos assuntos?
Maria Luiza Abaurre
– A série foi concebida para criar espelhos ficcionais que ofereçam aos jovens a possibilidade de refletir sobre importantes temas associados à definição da própria identidade e o impacto que a “vida” no ciberespaço tem nesse processo. Os temas precisavam, portanto, tocar em questões importantes para os jovens e, ao mesmo tempo, permitir que eles se dessem conta de como a experiência do ciberespaço tem, em muitos casos, potencializado essas questões. Por esse motivo, já na apresentação da série, eu sugeri algumas questões que me pareceram importantes e que, até aquele momento, não haviam sido ficcionalmente trabalhadas: a relação entre o público e o privado; o cyberbullying (a ampliação do poder de intimidação criada pelo universo virtual); a dificuldade no estabelecimento de relações afetivas sinceras (como saber que o outro com quem eu me relaciono não é uma “máscara” criada somente para me agradar). Essas são apenas algumas das questões inicialmente propostas. É importantíssimo destacar, porém, que a intenção da série não é “demonizar” o ciberespaço e, sim, refletir sobre comportamentos humanos que, ali, parecem ter sido exacerbados. O objetivo maior, como dissemos, é favorecer a construção de novas competências, para que os leitores possam lidar cada vez melhor com emoções e relacionamentos vividos no mundo real.

revistapontocom – A estética do livro é parecida com a do blog. Conteúdo e forma: como foi estabelecida a interface?
Maria Luiza Abaurre
– Uma série como essa precisava de um projeto gráfico compatível com a proposta geral. Particularmente acho que a solução encontrada pelo autor do projeto, Ricardo Postacchini, foi muito feliz, porque ele conseguiu, dentro das limitações do papel, recriar não exatamente a tela de um computador, mas a disposição visual característica dos blogs. Os leitores vão descobrir que cada um dos títulos da série foi ilustrado por três blogueiros — Weberson Santiago, Thiago Cruz e Klayton Luz — e que eles, em diversos momentos, fazem comentários na lateral do texto sobre as ilustrações que criaram. Nada disso seria possível no formato tradicional do livro.

revistapontocom – Como os leitores têm reagido?
Maria Luiza Abaurre
– Os jovens que tomam contato com os livros gostam muito. Uma boa medida para essa reação é a participação deles no blog criado para cada um dos três títulos já lançados e mantido no site da série: http://www.rumosnarede.com.br/rumosnarede. As autoras Tati Bernardi (de A menina da árvore), Índigo (de O colapso dos bibelôs) e Rosana Hermann (de Presas na teia) criaram um conjunto de questões que funcionam como uma “provocação” para o debate entre leitores de todo o país. É muito interessante ver como eles interagem, discutem as respostas uns dos outros, refletem sobre a própria experiência que têm no ciberespaço a partir da análise que fazem dos comportamentos das personagens dos livros lidos.

revistapontocom – Quais são os desdobramentos da série? O que vem por aí?
Maria Luiza Abaurre
– Estamos em contato com outros autores para desenvolverem novos títulos para a série. Por enquanto, porém, não dá para falar muito sobre isso. Precisamos esperar que esses livros sejam lançados.

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