Evelyn Eisenstein fala sobre os riscos que os jovens estão submetidos
Por Marcus Tavares
Acaba de ser lançado, no Rio e em São Paulo, o livro Geração digital – riscos e benefícios das novas tecnologias para as crianças e os adolescentes (Editora Vieria & Lent). Organizado e escrito por Evelyn Eisenstein e Susana Graciela Bruno Estefenon, pediatras e especialistas em medicina para jovens, o título tem o objetivo de auxiliar pais e educadores na tarefa de lidar com as novidades tecnológicas e seus filhos e alunos. Geração digital surgiu da observação diária dos consultórios.
“O crescimento saudável – não só em aspectos físicos, como mentais, sociais e, agora também, virtuais dos filhos – garantirá transmissão de verdades e valores importantes para o futuro da geração digital”, destacam as autoras.
A revistapontocom entrevistou uma das organizadoras do livro, a pediatra Evelyn Eisenstein. Segundo ela, a internet é um novo meio de comunicação local e global, mas nem tudo pode ser permitido no seu uso.
Acompanhe a entrevista:
revistapontocom – Como os jovens vêem o universo digital?
Evelyn Eisenstein – O mundo digital e virtual é um “mundo real” (para todos nós) também, mas visto como uma alternativa “diferente” pelos adolescentes, um espaço “cibernético” novo a ser conquistado. Os adolescentes em todas as gerações são sempre inovadores, aceitam com mais facilidades e menos apreensões os novos desafios, os novos estilos de vida. A internet é um novo meio de comunicação local e global. Porém, nem tudo pode ser permitido. Existem limites, inclusive legais, para se proteger de riscos e danos à saúde do uso contínuo e ilimitado das novas tecnologias. O livro descreve alguns alertas e recomendações em cada capítulo e dicas saudáveis para todos nós.
revistapontocom – Pode-se afirmar, clinicamente, que o abuso do ‘consumo’ do universo digital está virando um caso de saúde pública?
Evelyn Eisenstein – Clinicamente é um termo que usamos em medicina para casos individuais. Sim, já encontramos casos de adolescentes que foram “abusados” via internet (sites de pornografia e pedofilia, ou, por exemplo, que fizeram “abuso” de drogas ou anabolizantes que compram via internet). Não temos ainda estatísticas no Brasil para saber se é “um caso de saúde pública”, no sentido coletivo de uma população. Porém, já existem indicadores de influências comportamentais nos estilos de vida de muitos adolescentes – perdas de horas de sono, aumento do sedentarismo, problemas no diálogo com a família.
revistapontocom – No livro, a senhora afirma que, no mundo de hoje, o crescimento saudável envolve aspectos físicos, mentais, sociais e, agora também, virtuais. Como podemos descrever um bom ‘crescimento virtual’ dos jovens?
Evelyn Eisenstein – Resumindo esta resposta numa palavra: valores. Estamos enfatizando a importância de valores afetivos, morais, sociais, comportamentais para um relacionamento humano saudável, respeitoso e dignificante para todos, sem prejuízos e problemas de saúde. Vírus também podem ser virtuais e prejudiciais ao crescimento de crianças e adolescentes. E estes programas danosos receberam o mesmo nome de vírus letais que existem no mundo real.
revistapontocom – Os jovens não estão sabendo lidar com a internet, assim como seus pais e professores?
Evelyn Eisenstein – Sim. Tanto os jovens como muitos pais e professores (pois computadores estão cada vez mais em muitas escolas) não foram alertados aos riscos de saúde. Você compra qualquer aparelho ou novo equipamento e junto vem um manual de instruções. Porém a internet, por ser uma rede mundial de computadores interconectados, em qualquer lugar do planeta e por qualquer pessoa, pode ser usada também por exploradores, criminosos, pedófilos e “crackers”, pessoas mal intencionadas que se prevalecem dos conhecimentos para praticar crimes e atos ilícitos pela rede e acabam “abusando” de adolescentes desinformados e curiosos.
revistapontocom – A senhora acredita que a medicina vem sendo ouvida pela mídia e pelas famílias sobre estes riscos?
Evelyn Eisenstein – Não. A mídia em nosso país deveria ter um papel mais importante de educação em saúde, de informação e comunicação dos fatores de prevenção de doenças e de riscos comportamentais. E precisa exercer, com mais responsabilidade, o papel de também ser um veículo de educação para a população, e não somente de marketing de produtos e de opiniões de uns e outros, sem qualquer treinamento profissional e só com finalidades consumistas ou sensacionalistas. Crianças e adolescentes precisam receber mensagens saudáveis de proteção, pois são, por Lei, prioridades absolutas na questão de direitos à educação, saúde, bem-estar. Como um colega bem afirmou: lugar de crianças e adolescentes é na folha de recursos de uma nação. Neste sentido, aí sim, estaremos investindo numa futura geração digital.
revistapontocom – Mas toda essa discussão, que parte dos adultos, não é uma imposição de uma geração que quer que as próximas gerações pensem e ajam de acordo com sua cultura?
Evelyn Eisenstein – A pergunta é pertinente, pois todas as gerações tiveram e têm novos desafios culturais, ambientais, sociais, históricos e políticos a serem superados. A geração dos meus avós teve o rádio. E eu me lembro bem, aos 10 anos, indo assistir a um programa de televisão na casa de amigos. Os meios de comunicação e todas as novas possibilidades tecnológicas, inclusive a internet, estão real e virtualmente influenciando esta nova geração. O computador pode servir como uma ponte social trazendo benefícios entre as gerações e superando o abismo da falta de diálogo entre pais e filhos, professores e alunos. Esta responsabilidade começa sempre como um exercício diário em casa, na escola e em qualquer “lan house” ou grupo de provedor/servidor da internet. Os direitos de proteção, segurança e confiança, com “aquela outra pessoa”, devem ser assegurados para uma convivência participativa, interativa e saudável.
Concordo que como educadores pecisamos nos aproximar, alertar e orientar, também, virtualmente, nossas crianças e jovens. Esta matéria nos alerta sobre a realidade da questão virtual.
Concordo que como educadores precisamos nos aproximar, alertar e orientar, também, virtualmente, nossas crianças e nossos jovens.
A matéria nos alerta sobre a realidade da questão vitual.