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A reinvenção do estudo da mídia

Há cinco anos, novo curso da UFF atrai estudantes e mercado

afonso_albuquerque

Por Marcus Tavares

A primeira turma se formou no ano passado. Uma turma histórica. Afinal, ela inaugurou um novo modelo de curso de graduação na área da comunicação do país. Trata-se do curso Estudos da Mídia, criado em 2005 pelo Departamento de Comunicação Social da Universidade Federal Fluminense (UFF), que pretende habilitar os estudantes para trabalhar na área da comunicação como analista e consultor de mídia. Caberá aos profissionais diagnosticar problemas ou limites relativos aos meios de comunicação, bem como avaliar o seu impacto sobre a sociedade.

Se na época de sua criação causou estranhamento, hoje ele é visto com consequente e necessário. Avaliação feita por professores, alunos e, principalmente, pelo mercado. “É possível dizer que as empresas veem nossos alunos como portadores de uma formação original e bem-vinda”, avisa o coordenador do curso, o professor Afonso Albuquerque (foto acima).

Em entrevista, Afonso traça a história do curso nesses quatro anos de funcionamento. Fala sobre o impacto dele dentro e fora da universidade e quais são os desafios.

Acompanhe:

revistapontocom – Em 2005, a UFF inovou e implantou o curso Estudos da Mídia. Passados quatro anos, foi um “investimento” consequente?
Afonso Albuquerque
– O curso formou sua primeira turma em 2008. Acho que a realidade superou minhas melhores previsões – e sou um sujeito otimista… Quando o curso começou, percebíamos uma mudança no panorama dos meios de comunicação, mas para muita gente elas pareciam um tanto delirantes. Hoje parece claro que o panorama das mídias mudou inteiramente e as empresas que lidavam com uma concepção tradicional acerca delas lutam para se atualizar ao novo cenário. Acredito que o nosso curso está formando profissionais que desempenharão um papel muito importante neste mercado.

revistapontocom – A criação do curso Estudos da Mídia mostra o quanto a universidade pode, de fato, se antecipar às exigências do novo mundo?
Afonso Albuquerque
– Creio que se antecipar é a missão por excelência da universidade. Ela não é fundamentalmente um lugar de reprodução do conhecimento, embora necessariamente tenha que fazer isso também. Sua missão é produzir novo conhecimento, explorar novas fronteiras. O curso de Estudos de Mídia tem se esforçado neste sentido.

revistapontocom – O que o curso trouxe efetivamente para a academia e para o mercado? Quais foram os avanços?
Afonso Albuquerque
– O curso apresenta uma concepção aberta e dinâmica do ensino universitário. Ele é baseado em disciplinas optativas que permitem dar conta de conteúdos novos e diversificados. Os alunos são instados a enfrentar as grandes questões do seu tempo, sem tabus quanto a temas ou abordagens. Eles têm aulas sobre redes sociais, convergência midiática. Discutem questões polêmicas, como a que diz respeito à pornografia. Não ficam presos a currículos amarrados, cheios de disciplinas obrigatórias. Eles também têm a oportunidade de colaborar muito com o curso. Não posso deixar de destacar o trabalho que os alunos têm feito, sob a orientação dos professores Kleber e Flora, mestranda do PPGCOM/UFF, no sentido de dar uma visibilidade para o curso junto ao público em geral. Eles vestem a camisa e fazem o curso. E criticam também, o que é ótimo. Estamos realizando neste momento estudos para uma reforma do currículo do curso. As críticas dos alunos são fundamentais neste sentido. Os estudantes nos ajudam a perceber o que não deu certo e que tipo de conteúdos, abordagens e práticas estão faltando. Essas críticas estão nos ajudando a dar mais foco ao curso, no que diz respeito às habilidades específicas. A tendência da reforma é definir o ensino profissional do curso em torno de três eixos fundamentais: 1) estratégias da comunicação; 2) produção audiovisual; 3) produção e gestão da mídia digital. O campo de atividade do curso se constituirá na interface dessas três áreas. Acho que o curso forma um profissional fundamental para o mercado de trabalho de hoje. Há inúmeras evidências de que as práticas tradicionalmente aprendidas no campo da comunicação têm sido colocadas em xeque.

revistapontocom – Como a academia e o mercado têm avaliado o curso?
Afonso Albuquerque
– Acho que a academia ainda é bastante conservadora em relação ao formato de seus cursos. O modelo proposto pelo nosso curso ainda não teve um impacto muito efetivo junto aos demais. Já o mercado tem sido muito receptivo. Não dá para fazer uma regra absoluta, mas, no geral, é possível dizer que as empresas veem nossos alunos como portadores de uma formação original e bem-vinda.

revistapontocom – Qual é o perfil dos estudantes? Eles estão à procura de quê?
Afonso Albuquerque
– Os alunos chegam com as motivações mais diversas. Alguns estão à procura do novo. Outros vêm com uma cabeça mais próxima dos cursos de comunicação tradicionais. Mas acho que, no geral, eles hoje entendem melhor a concepção do curso e dão valor. Acredito que, a médio prazo, o modelo acadêmico que propomos realmente terá uma influência considerável no campo da comunicação.

revistapontocom – Os recém-formados já encontram espaço no mercado de trabalho?
Afonso Albuquerque
– Todos os nossos alunos formados estão empregados. E acho que o campo de oportunidades para eles aumentou dramaticamente ao longo dos últimos anos. O mercado relacionado às redes sociais, em particular, é extraordinariamente favorável aos nossos alunos. E acho que a coisa vai melhorar muito daqui para frente, porque teremos novos concursos para professores, que nos permitirão contratar gente boa para dar conta de alguns conteúdos estratégicos que ainda não conseguimos explorar atualmente.

revistapontocom – A criação do curso é, portanto, uma resposta da universidade ao mundo midiático? Uma tentativa de entender a mídia?
Afonso  Albuquerque
– A proposta de criação do curso de Estudos de Mídia partiu da constatação de que o ensino universitário de graduação tem feito muito pouco para lidar com as complexas questões que envolvem o atual sistema midiático. Esta tarefa tem sido exercida apenas pela pós-graduação. O panorama do ensino da comunicação no Brasil é, hoje, um tanto esquizofrênico: todo o ensino de graduação se baseia numa lógica habilitacional; o que não acontece na pós-graduação. Nenhum curso se mira por tal lógica. Importamos o modelo da pós-graduação (que nos parece ser o melhor) para o ensino da graduação. Para isso foi bastante importante a nossa própria experiência no âmbito da pós-graduação. Desde 1997, oferecemos um curso de Mestrado e, desde 2003, um curso de Doutorado em Comunicação. Ou seja: temos experiências em criar cursos. E uma experiência bem-sucedida. Acreditamos que o principal papel da pós-graduação é abastecer a graduação com novas perspectivas e enfoques. Cremos, igualmente, que o papel fundamental da universidade é questionar e apresentar novas soluções para problemas que se apresentam à sociedade. O curso de Estudos de Mídia é reflexo dessas duas preocupações. É corrente a opinião de que os cursos de Comunicação Social devem se esforçar por reproduzir de maneira tão precisa quanto possível as condições de trabalho do mercado. Nesta perspectiva, o curso ideal teria equipamentos de última geração, professores oriundos dos grandes veículos de imprensa, e um currículo com ênfase nas técnicas e nas demandas do próprio mercado. Respeitamos essa posição, mas nossa proposta é bem diferente. Nosso objetivo é fornecer ao aluno aquilo que ele não pode encontrar no mercado. Não estamos desdenhando do mercado. Pelo contrário, estamos certos de que o nosso estudante será um profissional extremamente valioso justamente porque ele possui um diferencial. Graças à ênfase em uma formação conceitual sólida, este aluno terá uma ótima capacidade analítica. Por outro lado, sabemos que o mercado da comunicação é extremamente dinâmico. Novos campos de atuação surgem a cada momento, bem como novas linguagens, novas técnicas, novos problemas. As técnicas se tornam rapidamente obsoletas. Qual o sentido então de um ensino de base técnica? Um profissional com competência analítica será capaz de entender melhor as transformações e de oferecer soluções originais para elas.

revistapontocom – Em resumo, qual é, de fato,  a proposta do curso?
Afonso Albuquerque
– O objetivo do curso é capacitar os alunos para entender o complexo sistema midiático. O atual curso de Comunicação Social tem como propósito preparar seus alunos para exercer um conjunto de habilidades profissionais específicas, dando muito pouca atenção à análise do sistema midiático como um todo. Uma série de questões fundamentais, que dizem respeito ao surgimento de novas tecnologias da comunicação, ao seu impacto sobre a sociedade e a cultura, à convergência entre as tecnologias, às fusões de empresas, às novas oportunidades que se apresentam para a ação política e às novas iniciativas econômicas foi deixada de lado pelo ensino universitário de graduação.

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Natan
Natan
14 anos atrás

Bem, interessante esse curso. Lembro que no terceiro ano do ensino médio(2005), eu tinha uma amiga que ia prestar pra esse curso e todo mundo achava que ela era louca de fazê-lo. Pois bem, crieo que inovações como essa são sempre bem-vindas, já que muitos currículos de diversas áreas também estão desgastados, como é o caso do curso de Letras da UFRJ, universidade da qual faço parte.

MECENAS
14 anos atrás

Olá Saudações Midiáticas
Parabéns pelas reflexões.
Coloco-me a disposição para ampliar estas propostas para outros recantos do Brasil, através do Terceiro Setor, através de encontros, oficinas, workshop, etc.
Implantei no Centro Cultural Araçá, nos ultimos 4 anos o Núcleo de Produção Audiovisual RTV ARAÇÁ com jovens de baixo IDH, proveniente de periferias da cidade de São Mateus (norte capixaba), estamos sempre trabalhando em rede ampliando para outras cidades da região novas oportunidades.

Claudia Holanda
Claudia Holanda
14 anos atrás

Acho a proposta do curso interessantíssima, fundamental até para os dias de hoje, onde não param de surgir formas de comunicação.
Eu tenho interesse em Mestrado nessa área. A Universidade oferece?

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