Marcelo Gleiser fala sobre o fascínio que a ciência exerce sobre os jovens
Por Marcus Tavares
A Organização das Nações Unidas (ONU) elegeu 2009 como o Ano Internacional da Astronomia. Com o tema O Universo a ser descoberto por você, a celebração tem o objetivo de aproximar, principalmente, o público jovem dos temas da astronomia e da ciência. Mais de 100 países participam da comemoração. O Brasil é um deles e já programou diversas atividades ao longo do ano. Em agosto, a cidade do Rio será a sede da conferência da União Astronômica Internacional.
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Mas afinal: os jovens se interessam pela astronomia? Para o cientista Marcelo Gleiser, não há dúvidas. Em entrevista à revistapontocom, ele diz que, na verdade, os adolescentes não se interessam pela ciência que é ensinada de modo “precário e pouco motivante” nas escolas.
Professor de física e astronomia da Dartmouth College, em Hanover, nos EUA, Gleiser acredita que é possível reescrever a história, possibilitando que as crianças, desde cedo, tenham acesso não somente às ideias, mas também aos fatos e às observações. “Espero que [com o Ano Internacional da Astronomia] aumente a conscientização popular da importância e do fascínio da astronomia. Poucas aventuras são mais empolgantes do que a nossa exploração do espaço”, destaca o cientista.
Acompanhe a entrevista:
revistapontocom – A astronomia ainda é uma ciência que está muito longe do dia-a-dia da sociedade?
Marcelo Gleiser – Acho que não tanto quanto parece. Basta que as pessoas olhem para o Sol, para a Lua ou para as estrelas para perceberem que moram num cosmos maior do que as suas cidades. Infelizmente, a maioria das pessoas não olha para os céus ou, se olha, não conecta o que vê com o contexto astronômico. Para isso, é necessário um trabalho de educação científica da população, que apenas engatinha no Brasil.
revistaponcom – O senhor acha que o Brasil incentiva as crianças e os jovens a descobrirem o mundo da ciência?
Marcelo Gleiser – Muito pouco. A TV aberta quase que nada faz, com exceção do Globo Ciência exibido num horário que não é voltado para os jovens e que tem poucos recursos. O espaço para laboratórios nas escolas públicas (e em muitas privadas também) é mínimo e precário por falta de verbas. Existem ainda poucos museus de ciência no Brasil, o mesmo com planetários. Temos um enorme trabalho a fazer nessa direção. Existe a falsa impressão de que os jovens não se interessam por ciência. Eles não se interessam pela ciência ensinada de modo precário e pouco motivante. São coisas diferentes.
revistapontocom – Estamos comemorando o Ano Internacional da Astronomia. O que isto significa?
Marcelo Gleiser – É uma celebração do conhecimento, dos triunfos da curiosidade humana. O Brasil participará ativamente, com inúmeros eventos pelo país afora. Em agosto, o Rio será a sede da conferência da União Astronômica Internacional, com mais de seis mil astrônomos do mundo
inteiro participando.
revistapontocom – De que forma as escolas e os jovens podem participar?
Marcelo Gleiser – Através da inclusão da astronomia – ou ao menos de aspectos dela – no currículo escolar, com visitas a planetários e a museus da ciência, com a organização de palestras e eventos para pais e alunos. É muito importante que as escolas se mobilizem para incentivar esses esforços. As
crianças e os jovens têm enorme fascínio pela astronomia.
revistapontocom – Mas como aproximar os jovens da astronomia?
Marcelo Gleiser – A melhor receita é a prática. Crianças precisam ser expostas não exclusivamente às ideias da ciência, mas aos fatos, às observações. Portanto, passeios noturnos para examinar os céus e, como já disse antes, visitas a museus, planetários e palestras. Outro caminho é o uso dos inúmeros portais da internet com belíssimas imagens astronômicas (http://hubblesite.org/gallery) Esse ano, com um grupo em São Paulo chamado Redalgo, criamos o videogame educacional Operação Cosmos sobre a exploração do sistema solar. O game é desenhado para ser usado por instituições educacionais. Esse é um outro caminho que espero que funcione. (www.redalgo.com.br).
revistapontocom – A mídia vem contribuindo para a democratização dos conhecimentos da área e para despertar o interesse das crianças e jovens?
Marcelo Gleiser – Menos do que poderia fazer, especialmente a TV. Por outro lado, vejo com muito otimismo a proliferação de revistas científicas populares no Brasil, como a Galileu (para a qual eu contribuo mensalmente), a Scientific American e a National Geographic. Claro, jornais poderiam seguir o exemplo da Folha de S. Paulo e dedicar maior espaço à ciência. Acho que ao menos a mídia escrita está indo na direção certa.
revistapontocom – O que o senhor espera do Ano Internacional da Astronomia?
Marcelo Gleiser – Espero que aumente a conscientização popular da importância e do fascínio da astronomia. Poucas aventuras são mais empolgantes do que a nossa exploração do espaço. De expedições aos planetas Marte e Titã até as imagens de estrelas nascendo ou de galáxias a bilhões de anos-luz de distância, nosso conhecimento do cosmo define quem somos, nos revertendo às nossas origens. Olhar para as estrelas é olhar para nós mesmos.