Por Rovênia Amorim
A decisão da diretora da Escola Estadual Presidente Costa e Silva de descobrir o motivo das faltas frequentes dos alunos resultou na criação do projeto pedagógico do bônus lan house monitorada. Os alunos que durante o mês todo obtiverem carimbos positivos na agenda, por boa disciplina e cumprimento das tarefas escolares, ganham pontos. E esses pontos podem ser trocados por tempo livre de acesso à internet nos laptops da escola, no contraturno das aulas.
A solução criativa reduziu o número de faltas e fez com que a escola pública de Gurupi, em Tocantins, fosse escolhida a Escola Referência Brasil do Prêmio Nacional de Referência em Gestão Escolar – ano-base 2010, promovido pelo Conselho Nacional de Secretários de Educação (Consed). Como premiação pela boa experiência em gestão escolar, a diretora da escola, Adriana da Costa Pereira Aguiar, viajou para os Estados Unidos, onde conheceu algumas experiências desenvolvidas em escolas públicas.
“Fiquei surpresa ao ver, em duas escolas de lá, projetos parecidos com o nosso, só que num espaço que chamam de cyber café”, conta a diretora. Agora ela resolveu fazer uma enquete virtual para que os alunos da Presidente Costa e Silva escolham um nome para o espaço que será criado na escola. “Envolver os alunos na criação desses espaços e nos debates faz com eles se sintam bem”, avalia.
Tudo começou com a descoberta de que muitos alunos da instituição estavam frequentando lan houses, sem o conhecimento dos pais, para ter acesso às redes sociais. É que o acesso à internet na escola, oferecido aos 300 alunos do 6º ao 9º ano, era restrito apenas a pesquisas e trabalhos escolares, no horário das aulas. Para dar um fim à mania que começava a crescer entre os estudantes, a direção da escola decidiu contabilizar o número de registros positivos nas agendas individuais. Quanto mais carimbos positivos, mais bônus para tempo livre na internet. “Mas é um acesso controlado, porque os acessos a sites proibidos ficam registrados no computador. Se isso acontecer, eles perdem os bônus”, explica a diretora.
O aluno Edy David Feitoza Lima, de 14 anos, é um dos que costumava trocar as aulas pela lan house, uma vez por semana. “Ficava lá jogando”, conta ele. A mãe ficou surpresa ao ser avisada pela escola das faltas frequentes do aluno. “Eu estava trabalhando muito e fiquei chocada ao saber que meu filho não estava indo à escola”, revela Luzineide Feitoza de Vasconcelos. “Agora, passei a trabalhar menos e vou sempre à escola”, diz a mãe.
O projeto da lan house monitorada não foi a única ação que fez a escola merecer o prêmio de gestão escolar de sucesso. A própria dinâmica diária dos alunos é bem diferente do modelo tradicional das escolas brasileiras. São os alunos, e não os professores, por exemplo, que mudam de sala, onde encontram um ambiente planejado, com recursos específicos para as disciplinas. “São seis salas ambientes diferentes, mas em todas há um armário com 35 laptops à disposição dos alunos”, explica a coordenadora pedagógica Dalília Arantes.
A escola participa do projeto do governo federal, Um Computador por Aluno (UCA). A tecnologia acessível em toda parte, inclusive na sala de reforço e na biblioteca, motiva os alunos. “Damos asas à imaginação mesmo. Os laptops servem desde à pesquisa sobre um novo vírus até para que preencham uma ficha literária virtual após a leitura de um livro, que será avaliada pelo professor”, conta Dalília. Para que os pais saibam diariamente como foi o dia do filho no colégio, cada aluno tem uma agenda, que vai na mochila todos os dias. Cada professor tem seis carimbos para avaliar o comportamento do aluno. Incluem desde um “Seu filho não trouxe a tarefa” até um carimbo de elogio como “Parabéns, hoje seu filho apresentou as atividades completas e satisfatórias e isso demonstra que sua família tem caminhado junto com a escola na formação de um cidadão para o mundo.”
Outro diferencial é o caderno de ocorrência da turma, em que constam a foto e o nome do aluno e os contatos da família. Nessa espécie de diário da turma, o professor anota tudo que é relativo ao aluno: se está fazendo os deveres, se está com problemas de disciplina. E a escola reserva um horário, todas as quartas-feiras à noite, para que os pais possam conversar com os professores sobre o andamento escolar de seus filhos.
Graças a essas soluções criativas, a escola tem apresentado boa evolução no Índice de Desenvolvimento da Educação Básica (Ideb), que saltou de 3,7 em 2007, para 5,1 em 2009. E a evasão escolar, que chegou a alcançar o índice de 22%, há três anos se mantém zerada com a frequência monitorada. Se o aluno falta, a orientadora liga para sua casa ou um professor conselheiro procura a família para saber o motivo. Foi assim que se descobriu que os alunos estavam trocando a escola pela lan house.
Fonte Jornal do MEC