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Os contos de fadas do século XXI

Moda londrina reúne pessoas para contar histórias, reação à presença excessiva das tecnologias que mediam as relações humanas.

Há quem tente explicar a nova moda como uma reação à presença excessiva das tecnologias que mediam as interações humanas hoje em dia. Para os organizadores do evento, no entanto, seu sucesso tem uma explicação simples: ninguém resiste ao poder de uma história bem contada. O ritual, batizado de True Stories Told Live (em tradução livre, Histórias verdadeiras contadas ao vivo), que cresce a cada dia que passa em Londres, obedece a um conjunto de regras.

As histórias devem ser contadas sem o uso de anotações, ou seja, de cabeça. Não podem ser mais longas do que dez minutos. Têm de ser baseadas em fatos reais. Qualquer um pode contar sua história, basta se inscrever antes. Cinco histórias são contadas em cada evento, que acontece, geralmente, em um pub (o equivalente britânico ao boteco brasileiro). A terceira história em cada noite geralmente contém música – o que abre espaço para a participação de músicos, cantores ou compositores. Outra característica marcante dessas noites regadas a histórias é o fato de que a plateia não paga um centavo para ouvi-las. Quem quiser ser admitido precisa colocar seu nome em uma lista. Como há mais inscritos do que o espaço é capaz de acomodar, os organizadores fazem uma triagem dos nomes. A prioridade é dada aos novatos – a ideia é permitir que um número cada vez maior de pessoas conheça o evento.

Desafio e diversão

Por trás da iniciativa estão algumas figuras conhecidas da mídia e das artes na Grã-Bretanha. Entre elas, o jornalista e apresentador de TV David Hepworth, ex-editor da influente revista de música Mojo, hoje responsável pela revista The Word. Hepworth ouviu falar sobre um evento que acontece em Nova York, batizado de The Moth, onde pessoas se reúnem para contar e ouvir histórias. Em entrevista à BBC Brasil, ele falou de suas motivações em trazer o formato para a Inglaterra: curiosidade, o desejo de vencer um desafio. E a fé no poder eterno de uma boa história. “Fiquei curioso, queria saber se conseguiríamos fazer algo parecido”. Como a entrada é franca, os organizadores não estão ganhando dinheiro. Hepworth explicou que não existe essa intenção. “Nós não pagamos pelo espaço. Se cobrássemos ingresso, o pub ia querer uma porcentagem, o contador ia querer uma porcentagem. Então não cobrar torna as coisas mais simples”, explicou. “Fazemos porque podemos e porque é divertido.”

Ritual ancestral

O primeiro evento inglês aconteceu há dois anos. Hoje, a lista de contatos do True Stories Told Live já conta com cerca de dois mil nomes. E além de Londres, cidades britânicas como Brighton, Cambridge, Hebden Bridge e Cardiff também aderiram à novidade. Hepworth acha que a atração da noite reside em um princípio muito simples. “Histórias são a forma mais poderosa de entretenimento que existe”.

“Filmes são histórias, jornais são histórias. E isso não tem nada a ver com seu gosto. Quando você sai para ouvir música, tem de decidir que tipo de música você gosta. Histórias, você pode contar para qualquer pessoa”. “A metáfora que eu uso é a do conto de fadas. Chapeuzinho Vermelho, os Três Ursos – todos seguem a mesma fórmula. Você apresenta um cenário, surge um problema, o problema é resolvido. Geralmente, isso funciona muito bem em dez minutos. É algo muito satisfatório para seres humanos. As pessoas gostam desse sentido ordeiro que existe em uma história, no meio do caos em que vivemos”.

Resta entender o que o contador da história ganha com a experiência. “O típico contador faz isso como um teste: ‘Será que consigo?'”, disse Hepworth. “No final, fica eufórico por ter vencido o desafio”. “Mas também tivemos histórias horrendas, que funcionam como uma espécie de terapia. Algo do tipo: ‘Vou dizer isso na frente de um monte de gente’. É um frio na barriga, é como atuar (num palco)”.

O próximo evento True Stories Told Live acontece no dia 16 de novembro e será transmitido pelas ondas de rádio do Serviço Mundial da BBC.

Fonte BBC Brasil

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