Por Susana Almeida Ribeiro
Jornalista Público PT
A rede social de micro-blogging Twitter, que se popularizou em todo o mundo no final do ano passado e que conta com mais de 50 milhões de visitas mensais de usuários espalhados pelo mundo, deveria estar na corrida para o Prêmio Nobel da Paz. Quem afirma é Mark Pfeifle, um conselheiro de topo da antiga Administração Bush para a segurança nacional, num artigo de opinião publicado no Christian Science Monitor.
A crise no Irã – e, mais concretamente, a morte da activista Neda Agha-Soltan, difundida para todo o mundo através do Twitter –, numa altura em que os jornalistas tradicionais se veem obrigados a abandonar o país, transformou o Twitter no meio ideal para furar o cerco de vigilância e de censura operados pelo regime do Presidente Ahmadinejad. No pico das manifestações anti-regime – acusado pela oposição de ter falseado as eleições presidenciais de 12 de junho – foram publicados mais de 220 mil tweets (posts de 140 caracteres) por hora, de acordo com o analista Ben Parr do Mashable.com. Paralelamente, foram igualmente publicados mais de dois milhões de “posts” em blogues acerca da revolta iraniana.
“Neda transformou-se na voz de um movimento; o Twitter transformou-se no megafone (…) O Twitter transformou-se numa janela para o mundo ver a esperança, o heroísmo e o horror. Transformou-se no editor, no repórter e no produtor. E, por causa disso, o Twitter e os seus criadores deveriam ser considerados para o Prêmio Nobel da Paz”.
Mark Pfeifle – que indica no seu artigo de opinião que já tinha mencionado esta ideia na semana passada numa entrevista à cadeia televisiva Fox News – escreve ainda que o Twitter, “que tem sido criticado como uma perda de tempo” quando escrito por pessoas que se limitam a detalhar as minudências das suas vidas privadas, serviu igualmente para mostrar, em apenas 140 caracteres, “a opressão iraniana”, elevando esta ferramenta ao patamar de um “agente de mudança”. “Mesmo o governo do Irã foi forçado a utilizar a ferramenta, na sua tentativa de se agarrar ao poder”, escreve Pfeifle, que frisou ainda a importância de outras redes sociais, como o Facebook, onde o candidato presidencial Mir-Hossein Mousavi conquistou mais de 100 mil apoios.
“Eu mencionei esta ideia quando fui entrevistado num programa de uma televisão por cabo. Muitos escarneceram dela. É compreensível. Mas pensem naquilo que o Twitter conseguiu alcançar: permitiu às pessoas tentarem resolver um conflito doméstico com implicações internacionais – e permitiu ao mundo pôr-se ao lado delas. Lançou as bases para que o mundo pressione o Irã e denuncie a opressão no Irã”, escreve Pfeifle no Christian Science Monitor.
“Sem o Twitter, o mundo poderia ter sabido pouco mais do que o fato de um candidato perdedor estar a acusar o poder de uma alegada fraude. Sem o Twitter, os iranianos não se teriam sentido com poder suficiente e com confiança para lutarem pela liberdade e pela democracia. Eles só o fizeram porque sabiam que o mundo estava a ver. Com o Twitter, eles agora gritam esperança com uma paixão e dedicação que ressoa não apenas junto das pessoas daquelas ruas, mas em milhões de outras pelo Globo”.
“Apesar de não sabermos qual será o desfecho da revolta iraniana (…) o Twitter e outras redes sociais tornaram-se ‘armas suaves’ da democracia. O Twitter contou-nos a história do supremo sacrifício de Neda. Está a contar-nos a história do povo iraniano, ansioso por liberdade. Por essas razões, o Twitter merece ser considerado para o Prêmio Nobel da Paz”.
O Nobel da Paz – já atribuído a personalidades como o Dalai Lama, Martin Luther King e Madre Teresa de Calcutá – é atribuído a todos aqueles que lutam pela “fraternidade entre as nações” e pela promoção da paz. O vencedor do ano passado foi o ex-presidente finlandês e diplomata das Nações Unidas Martti Ahtisaari, enviado especial da ONU durante a guerra do Kosovo.