O cinema e a internet

Por Patrícia Aguiar Branco de Araujo
Publicitária,  jornalista, roteirista, produtora, diretora multimídia e professora na graduação e pós-graduação de audiovisual na Universidade Estácio de Sá.

Na década de 80, do século passado se preconizou que o cinema iria terminar em função da disseminação dos conteúdos de cinema em vídeo. De fato houve uma diminuição das salas de cinema e sua adequação aos novos tempos com mais salas dentro de um mesmo espaço, oferecendo uma programação mais flexível. A multiplicação de locadoras de vídeo deu aos espectadores controle sem igual sobre o que viam, anunciando a interatividade.

Com a popularização da internet entre os meios de comunicação, muitas barreiras foram quebradas em relação a variedade de conteúdo. Atualmente todos podem se informar sobre um mesmo assunto valendo-se de várias fontes e é possível qualquer usuário disponibilizar conteúdo, seja em páginas pessoais ou em sites comerciais, apresentando um cenário otimista dentro da industria cultural.

A invenção do computador trouxe a possibilidade de digitalização da informação. Com a digitalização e a internet, temos possibilidade de disseminar em escala infinita, informações e conteúdos, sejam eles textuais, imagens, sons e também combiná-los formando assim a multimídia. O rápido desenvolvimento da multimídia possibilita e facilita a distribuição, disseminação e recepção dos conteúdos cinematográficos e audiovisuais. Esse cenário favorece produtores e realizadores de vídeo ou filmes para televisão e cinema, que podem hoje contar com um espaço livre e em muitos casos gratuitos para divulgação e disponibilização de suas obras.

Depois de um século de película, houve uma grande mudança tecnológica e o advento da filmagem digital, onde diretores e cineastas obstinados puderam produzir filmagens de longas com baixo orçamento. Essas facilidades técnicas e financeiras, aliadas a proliferação de festivais, como o Sundance, estimularam o se convencionou chamar de “cinema independente” em todo o mundo, causando grande impacto num público, já anestesiado pelos blockbusters da indústria tradicional americana.

A internet veio a facilitar ainda mais a integração do público com as obras. A apenas um clique de distância, as pessoas podem conhecer novas culturas e acessar conteúdos produzidos em qualquer país.  Muito embora as produções norte-americanas ainda predominem no mercado cinematográfico e ocupem lugar de imponência, a internet cada vez mais torna possível o contato do público ocidental com produções antes jamais imaginadas. Como produções engajadas, realizadas em países orientais, europeus e da oceania que sem tradição audiovisual vem destacando-se com temas como  ecologia, meio ambiente, responsabilidade social e críticas a sociedade contemporânea, ganhando cada vez mais espectadores.

As novas tecnologias de televisões de alta definição, recursos de interatividade e aparelhos DVD, diminuem a audiência dos cinemas em todos os países globalizados. Alia-se a esta realidade o crescimento dos acessos a internet e suas possibilidades de disponibilização de conteúdos fílmicos.

Estamos vivendo a transição da supremacia da televisão e a reconfiguração à nova mídia da Web. A convergência de mídias já está entre nós  há anos e nos possibilita a captura  filmes da web,  seu armazenamento em PCs e  sua exibição, através de cabos, em  TVs.  Hoje
tecnologias sem fio também podem fazer a ligação destes mundos.

Existem algumas questões que estão sendo gestadas, como em relação a necessidade de adaptação e até mesmo transformação com relação as linguagens criadas e desenvolvidas especialmente para produções direcionadas para internet, como por exemplo a linguagem da interatividade.

As tecnologias digitais avançadas e cada vez mais difundidas contribuem  para o processo  de massificação e pulverização da criação audiovisual. Os custos para aquisição de tecnologia digital estão cada vez mais acessíveis a todas as camadas da população. Os suportes como a internet e o celular, ferramentas cada vez mais fáceis e  disponíveis  ao público, popularizam e ampliam o espectro de audiência.

Os novos tempos poderão mudar a forma de assistirmos a um filme, tanto do ponto de vista de quem faz,  quanto de quem assiste.  O vídeo já oferecia uma certa autonomia nas condições de recepção e visualização de uma obra com as possibilidades de avançar, retroceder, pausar. Controle este que o cinema não proporciona em seu local original. Nos tempos atuais, pela internet ampliou-se muito mais as possibilidades de operações possíveis, tais como, editar, apagar, sobrepor, distorcer, fundir. Os programas estão a disposição do usuário. O cinema na internet possibilita a interatividade.

Mais do que isso, hoje em dia, todos podem fazer seus filmes, seja com utilização de câmeras digitais, que tem seu custo a partir de quinhentos dólares americanos, ou utilizando câmeras em celulares amplamente disseminadas, bem como ilhas de edição domésticas obtendo excelente qualidade. Todos podem concretizar suas idéias, desde que estejam bem dimensionadas. Mesmo que falte estética e técnicas aprimoradas. A igualdade de oportunidades é mais real que nunca. E o celular, mais ainda que a internet permite a visualização praticamente em tempo integral.

O  fato é que há ainda uma carência conteúdos com roteiros criados e pensados a partir e para esta mídia ( internet) especificamente, onde a qualidade de texto,  pertinência de idéias, soluções criativas, possibilite desdobramentos tanto na linguagem quanto interatividade, e, justifiquem  maiores investimentos de empresas, governos e profissionais independentes.

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