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Um toque de mestre

Por Luanna Tavares

Não tem quem faça Davi gostar do professor de Geografia. Exigente e disciplinador, Gonçalves é o terror da turma. Prova, lição de casa, leitura complementar… e as notas vão de mal a pior. Para completar o pacote: uma excursão para cidades históricas na companhia do professor durão. Nesta viagem, Davi conhece os segredos de Gonçalves e descobre o quão importante e proveitosa pode ser a relação entre aluno e professor, para ambos. Esta é a sinopse do livro Toque de mestre, de Telma Guimarães, que conta a história tendo como pano de fundo a ditadura militar.

Autora de muitos livros infanto-juvenis, inclusive em outros idiomas, Telma começou sua carreira quando lia muitas histórias para os filhos e, aos poucos, passou a inventá-las. Para não esquecer o que criava, anotava tudo. Depois de um tempo, enviou os textos para algumas editoras. Ouviu muitos “nãos” durante os quatro primeiro anos, mas não desistiu. Até que certa vez, um editor gostou e publicou um dos textos, o que deu início as suas obras.

E com o intuito de registrar e homenagear a relação aluno/educador e relatar a experiência do aperfeiçoamento da prática pedagógica, Telma concedeu uma entrevista à revistapontocom falando um pouco mais sobre o novo livro.

Acompanhe:

revistapontocom – “Um toque de mestre” retrata a relação do aluno com o professor. O que levou você a escrever sobre esse tema?
Telma Guimarães – Fui professora durante muitos anos. Meu pai também foi professor. Nossa relação com os nossos alunos sempre foi alegre e respeitosa. Quando meu filho mais velho começou a cursar o Ensino Fundamental 2, percebi que as disciplinas de História e Geografia tinham ficado bem diferentes da minha época! Fiquei tão encantada com a nova aprendizagem que estudava com ele, lia seus livros. E quando um dia ele chegou com um trabalho para fazer sobre “a fome” e uma certa indignação sobre a quantidade de textos para ler, decidi que era hora de escrever sobre alunos e professores. Não sabia bem que tipo de texto, sobre o que escrever. Mas tinha dois personagens: um adolescente e seu professor de Geografia.

revistapontocom – Hoje, infelizmente, sabemos que essa relação não é tão amistosa. Há relatos de agressões entre estudantes e professores, até mesmo física.
Telma Guimarães – É com muita tristeza que leio sobre essas notícias hoje em dia. Na minha época como professora também ocorria, mas um pouco menos. Muitas vezes eu chamava a atenção do aluno, conversava, enfim… E não passava muito tempo até que o pai vinha conversar. Às vezes elogiava a atitude e dizia que o filho precisava de limites. De outras vezes, o pai dizia que não conseguia impor limites em casa. E que o Professor tinha de dar educação ao aluno. Não, não temos. Precisamos ensinar, trocar informações, ampliar o conhecimento. Educação é ensinada em casa, com “por favor”, “obrigado”, jogar o papel no lixo, respeitar os mais velhos, os colegas, os professores. Coisas tão simples e tão difíceis de encontrar hoje em dia. Por isso, escrevo. E escrevo sobre os alunos, sobre os professores, para que lendo, a gente possa discutir e analisar o comportamento, olhar para o outro, construir um mundo melhor e mais justo.

revistapontocom – O livro fala ainda da ditadura militar no Brasil. Qual foi o objetivo de trazer este tema na história de Davi?
Telma Guimarães – Meus professores de História, da época de cursinho, foram presos políticos. O professor de Geografia do meu filho também. Meu pai, também advogado, combateu a ditadura bravamente, escondendo amigos procurados pelos militares, soltando outros presos. Lemos livros sobre a ditadura, assistimos a filmes, trocamos artigos durante muitos anos. Achei então que poderia costurar tudo isso com uma viagem que fiz para as cidades históricas, onde a Inconfidência Mineira tomou lugar. Um pouco de ficção, mas muito de coisas que realmente aconteceram.

revistapontocom – Em quanto tempo “Um toque de mestre” ficou pronto?
Telma Guimarães – Esse texto foi escrito há muito tempo. No ano retrasado, eu o desengavetei. Pensei em outras situações, o atualizei. Esse distanciamento foi bom. Você consegue fazer acertos na história, deixando tudo mais redondo.

revistapontocom – Autora de mais de 170 livros, de onde vem tanta inspiração?
Telma Guimarães – São quase duzentos livros publicados. Não sei se faço trinta anos de carreira agora, no final de agosto, ou em agosto do ano que vem. Até agora não tive tempo para checar as datas… Sou assim. Trabalho muito. Leio muito. Presto atenção ao que há em volta. Ouço o outro. Gosto de falar, mas sou boa ouvinte. Então me cerco de “casos”. E vou à livraria de uma a duas vezes por semana. E compro livros… Muitos. Novos, usados, e-pubs. Em português e em inglês, já que escrevo também na língua inglesa. Assinamos revistas e três jornais. Não saio de casa sem ler um a um. Então isso já ajuda bastante a povoar a mente com histórias.

revistapontocom – E a próxima obra? Já tem ideia do que será a história?
Telma Guimarães – Estou fazendo a tradução/adaptação de um clássico da literatura norte-americana. Interrompi o trabalho por dois dias para escrever uma história infanto-juvenil, com um novo tema sugerido por meu editor. Achei que não fosse conseguir. Mas deu certo. E fiquei feliz com o resultado! É um dom, eu creio, esse o de criar, escrever. Mas é preciso alimentar esse dom diariamente. Livros: um alimento diário. Recomendo!

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