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Livro “O Corte e a Chama” narra queimadas e o desmatamento

Escrito por Leo Cunha com ilustrações de Paulo Rea, livro foi lançado em setembro pela Editora Pulo do Gato

“O Corte e a chama”, de Leo Cunha e Paulo Rea, publicado pela Editora Pulo do Gato, é um livro em que um tema contemporâneo e da maior complexidade é explorado poeticamente com a contundência de uma tocha ardente ou uma lâmina de serra. Não há como sair indiferente após a leitura.

Dois poemas narrativos exploram um mesmo tema por dois pontos de partida que convergem na mesma consequência: a destruição da flora, fauna e dos povos da floresta por meio das queimadas e do desmatamento.

“A floresta em cinza

Conta cinzas e cicatrizes.

Ninguém ouve?”

O texto verbal é estruturado em duas narrativas poéticas simetricamente, espelhadas em ritmo seco, vocabulário justo, sem floreado, jogos de linguagem que não fazem rir, mas geram agonia, desalento.

Duas capas, dois títulos, dois autores. Cada poema narrativo começa de um lado do livro e segue até o meio, onde a poesia deixa a palavra e se transforma em imagem: a terra abatida e devastada fala por si. Não há final feliz ou esperança. O leitor vira então o livro de cabeça para baixo e inicia a outra narrativa até chegar à mesma imagem central: a terra queimada e sem vida. Não há por onde escapar. Engole-se a seco. O nó da madeira vai para a garganta.

Os poemas de cada página podem ser lidos em sequência, como estão apresentados, mas um leitor ousado talvez queira organizá-los em outra ordem, pois cada um possui sua unidade de sentido. Experimente. Leo Cunha segue por um caminho, mas permite que o leitor ande pelo que desejar, desde que deixe a passividade do passeio e chegue à indignação. 

É comum que os leitores procurem atribuir relações literais entre imagem e texto. Há uma expectativa quase instintiva de ver representado o que se lê. Neste livro, porém, as imagens são livres como os próprios animais que procuram desesperadamente um caminho para a fuga.

Paulo Rea, usando a técnica da marchetaria, faz com que o leitor quase sinta o peso da madeira, o cheiro, a textura, o gosto. As ilustrações não foram criadas com a intenção de ilustrar o fogo ou o desmate das matas referencialmente, mas sim com o propósito de evocar, de sugerir uma espécie de retrato sinestésico das emoções da floresta, e de seu seres.  A ideia é que a ilustração caminhe apenas junto ao texto, num diálogo, como uma coreografia em que a música orienta o ritmo dos dançarinos, mas não controla seus movimentos.

Se o fogo e o desmate condenam à morte, o livro usa da própria madeira para propor a urgência da reflexão e da ação. No caso deste livro, o questionamento se inicia a partir do momento em que o leitor é introduzido à leitura das madeiras, seus tons, seus veios, seus nós e formatos e começa a relacionar as imagens ao texto verbal. É preciso contar com a coautoria do leitor nas interpretações das imagens. Só assim o texto ganha voz e sentido.

Se para um leitor a onça pode representar o fogo predador, o homem que destrói sem piedade, para outro ela é a vítima que padecerá como a quem caça.  Se para este leitor os macacos são vítimas indefesas de qualquer predador que os ameace, para aquele são a representação da floresta em pânico, ou dos próprios homens encurralados e sem futuro.

Em “O corte e a chama”, ou, “A chama e o Corte”, o desfecho é o mesmo, todos perdem.  Um livro é o que um poeta, um artista da marchetaria e uma editora podem fazer para chamar a atenção para a estúpida ação contra a natureza e a própria humanidade.

Livro “O corte e a chama”
Autores: Leo Cunha e Paulo Rea
Editora Pulo do Gato
40 páginas
ISBN  9786587704005
https://editorapulodogato.lojaintegrada.com.br/pre-venda-o-corte-e-a-chama-  

“Construí o texto na forma de um poema duplo (de um lado “O corte”, do outro, “A chama”). Cada metade do poema apresenta uma força destruidora: o desmatamento e a queimada, que vão avançando e “sufocando” a floresta, até se encontrarem na páginas centrais, onde surge o momento da virada, tanto física (o leitor vira o livro para continuar a leitura) quanto simbólica (a sugestão de que um novo caminho é necessário).”

Leo Cunha.

“Através das minhas ilustrações em marchetaria procuro aproximar o leitor das florestas, destacando a beleza das árvores que existem nelas e mostrando que se usarmos madeiras de forma sustentável estaremos ajudando a preservá-las.

Agora, com o texto do Leo Cunha, estas imagens também servirão para alertar sobre o perigo que as florestas correm, ameaçadas pelo corte e pela chama.”

Paulo Rea.

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