Por Pedro Ferro
Fonte – USP
Assim como mudanças de humor, de comportamento e na alimentação podem ser sinais de que algo está errado com a saúde mental, as autolesões inspiram cuidados imediatos pois são condições de risco para suicídio. O alerta é das especialistas em Enfermagem Psiquiátrica da Escola de Enfermagem de Ribeirão Preto (EERP) da USP, Kelly Graziani Giacchero Vedana e Aline Conceição da Silva, que acabam de publicar o e-book gratuito Autolesão Não Suicida: Assistência e Promoção de Saúde Mental.
O material foi desenvolvido durante o doutorado de Aline, sob orientação da professora Kelly, para melhor informar aos profissionais de saúde e à população sobre o que é e como ajudar as pessoas que sofrem com as autolesões. O e-book traz de forma clara e didática dicas e recomendações para os pais de adolescentes que se encontram nessa situação.
As chamadas autolesões não suicidas (ALNS) são comportamentos autoinfligidos, repetitivos, sem intencionalidade suicida, não explicados por outro diagnóstico psiquiátrico. O problema é bastante comum entre os adolescentes, que provocam dano superficial a seus corpos, como cortes, por exemplo. As ações, contam as pesquisadoras, são tentativas de transformar uma dor emocional em física.
Apesar de não ter a intenção de tirar a própria vida, o jovem precisa da atenção das redes de apoio e dos profissionais de saúde, pois a ALNS “prejudica de maneira severa diversos aspectos da vida do indivíduo e pode, inclusive, ser precursora de tentativas de suicídio”, afirma a professora Kelly.
A preocupação das pesquisadoras se justifica também pela alta incidência; pode chegar a 60% dos adolescentes, segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), e é minimizada pela população em geral que não vê na autolesão não suicida uma grande preocupação. A esses fatos, Aline acrescenta ainda o sofrimento dos pais, que “não sabem como lidar com a situação e não conseguem ajudar o jovem por conta própria”, e o despreparo de alguns psicólogos que desconhecem a questão. E adverte, “se não tratados, os adolescentes podem usar a autolesão como recurso por muitos anos”.