Jovem cineasta carioca ganha prêmios e reconhecimento de crítica e público

Entrevista com Leonardo Martinelli

Por Marcus Tavares

Ele é um jovem cineasta do Rio de Janeiro. Mas já tem na bagagem seis filmes reconhecidos e premiados pelo público e crítica em diferentes festivais pelo mundo, incluindo Locarno, San Sebastián, BFI London. Não é sem razão que Leonardo Martinelli foi citado como um dos Top 10 Novos Cineastas Brasileiros pelo Papo de Cinema. Sua última produção Pássaro Memória, que conta a história de um pássaro chamado Memória que esqueceu o caminho de volta para casa. Lua, uma mulher trans, tenta encontrar Memória pelas ruas do Rio de Janeiro, mas a cidade pode ser um lugar hostil.

O penúltimo trabalho Fantasma Neon, que narra a vida de um entregador de aplicativo que sonha em trocar a bicicleta por uma moto, ganhou o Leopardo de Ouro de curta-metragem do Festival de Cinema de Locarno (2022), um dos mais importantes e antigos do mundo.

Em entrevista à revistapontocom, Leonardo fala sobre sua carreira, a importância do audiovisual e dos seus planos: “Nesse sentido, meu desejo está na produção de filmes que reflitam a linguagem audiovisual ao mesmo tempo que sejam característicos de situações político-sociais pertinentes no Brasil hoje”. Para este ano, um novo curta e a finalização de sua dissertação de mestrado na Faculdade de Comunicação da PUC-Rio, onde pesquisa curta-metragem contemporâneo brasileiro e festivais de cinema

Acompanhe:

revistapontocom – Filmes, premiações e considerado um dos Top 10 Novos Cineastas Brasileiros pelo Papo de Cinema. Como você explica tamanho reconhecimento em sua carreira? Como ela foi trilhada?
Leonardo Martinelli –
Eu acredito que é difícil atribuir a algo objetivo. Ao mesmo tempo que fico feliz com esses reconhecimentos, também acredito que o sucesso é algo ainda a ser alcançado. Creio que uma das coisas mais importantes é trilhar o caminho com aqueles que acreditam na sua visão e estimulam o trabalho criativo. No cinema, todo filme é um trabalho colaborativo. Então tudo depende das pessoas a quem você se cerca.

revistapontocom – A sua formação acadêmica contribuiu?
Leonardo Martinelli –
Certamente, tanto pelo estímulo à produção audiovisual que tive desde o ensino médio técnico no Colégio Estadual José Leite Lopes – Núcleo Avançado em Educação – quanto pelos contatos formados na graduação e na pós.

revistapontocom – Há espaço para o cinema independente jovem no Brasil de hoje?
Leonardo Martinelli – Nos últimos anos, muitas medidas de austeridade têm afetado diretamente a comunidade audiovisual. Graças a algumas poucas políticas públicas que surgiram, como a Lei Aldir Blanc, temos ainda alguma produção de curta-metragem oriunda de novos realizadores. Nesse sentido, é importante lutarmos pela manutenção desses estímulos estatais, que são cada vez mais cerceados.

revistapontocom – Qual é o papel do cinema? Você faz cinema com qual objetivo?
Leonardo Martinelli – Acredito no cinema puramente como uma forma de arte. Não acredito que precise ter uma causa objetiva ou prática. Entretanto, existe um poder muito grande de representação e transformação social que pode ser expresso através dele. Nesse sentido, meu desejo está na produção de filmes que reflitam a linguagem audiovisual ao mesmo tempo que sejam característicos de situações político-sociais pertinentes no Brasil hoje.

revistapontocom – Dos filmes já produzidos por você, qual é mais marcante? Por quê? (a entrevista foi concedida antes do seu último lançamento).
Leonardo Martinelli
– Fantasma Neon porque lida com a extinção de direitos trabalhistas no Brasil através do cinema musical. É o meu filme que mais tem tido repercussão internacionalmente. Acredito que a razão disso seja por uma identificação temática que muitos países têm começado a ter, ao mesmo tempo que o filme busca subverter a forma como se espera abordar esses temas ao introduzir a linguagem do cinema musical.

O filme Fantasma Neon teve sua estreia mundial na competição do Festival de Locarno, onde saiu premiado com o Leopardo de Ouro de Melhor Curta-Metragem Internacional. Estrelado por Dennis Pinheiro e Silvero Pereira, o musical acompanha a trajetória de João, um entregador de aplicativo. Enquanto sonha em trocar sua bicicleta por uma moto, enfrenta a precariedade do serviço e os clientes mal-educados. O filme vai ser exibido em alguns festivais brasileiros em 2022.

revistapontocom – Como o público em geral tem acesso aos seus filmes?
Leonardo Martinelli
– Meu primeiro filme, Vidas Cinzas, está disponível no YouTube. Alguns outros passam na TV pelo Canal Brasil ocasionalmente, e o resto está atualmente circulando por festivais de cinema.

Confira aqui a relação dos filmes de Leonardo Martinelli

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