Crianças criam máquina do tempo para resgatar o passado e defender o futuro do Rio das Pedras

Por Marcus Tavares

Uma máquina do tempo para resgatar o passado, compreender o presente e projetar o futuro. Foi assim que os estudantes do 1º ano do Ensino Fundamental da Escola Municipal Cláudio Besserman Vianna, localizado em Rio das Pedras, Zona Norte do Rio, descobriram a importância do Rio das Pedras, rio que dá nome à comunidade e que passa pertinho do colégio. A proposta faz parte do projeto Esse Rio é Meu, desenvolvido em conjunto pelas secretarias municipais de Educação e de Meio Ambiente da Prefeitura do Rio, em parceria com a oscip planetapontocom. O objetivo é engajar escolas da rede municipal na recuperação e preservação dos rios. Cada unidade ficou responsável por desenvolver ações em torno de um dos rios da cidade.

“Desde que a nossa escola abraçou o projeto Esse Rio é Meu, há diferentes desdobramentos nas atividades pedagógicas. No segundo bimestre, o tema proposto era: O Rio das Pedras de hoje, de ontem e de sempre. Na hora de planejar as ações das duas turmas do 1º ano, fiquei refletindo no que poderia desenvolver com as crianças. Ao me deparar com o título, pensei em trabalhar a passagem do tempo, incluindo também a perspectiva do futuro. A partir daí, surgiram várias ideias. Comecei com um trabalho de imagens das próprias crianças. Desenvolvi uma atividade de fotografias, envolvendo o passado, Eu era assim; o presente, Eu sou assim; e o futuro, Eu quero ser assim. Fizemos um mural com fotos deles ainda bebês, com fotografias atuais e desenhos, projetando como eles serão no futuro. Queria que eles compreendessem e refletissem sobre a passagem do tempo”, explica a professora Jessica Menezes Gonçalves.


Depois das imagens, foi a vez do feijão. As crianças também perceberam a passagem de tempo plantando feijões no algodão. “E foi muito legal acompanhar a germinação. Mas ainda precisava desenvolver uma atividade mais concreta para que as crianças pudessem entender melhor essa questão da passagem do tempo e relacioná-la ao rio. E foi aí que veio a ideia de construir uma máquina do tempo. Uma máquina do tempo que falaria sobre o Rio das Pedras de ontem, de hoje e do amanhã”, conta.


Para início de conversa, a professora separou três fotos: uma foto antiga do Rio das Pedras, uma atual e uma foto de um rio bem cuidado, bonito e límpido que representaria o Rio das Pedras no futuro. A atividade possibilitou que as crianças entendessem a passagem do tempo do ponto de vista do Rio. Descobriram que ele, antigamente, era cheio de vida, podia-se tomar banho e até mesmo pescar, mas que ao longo do tempo foi ficando degradado e poluído.

“E, neste debate, chegamos à conclusão que para o Rio das Pedras se tornar um rio bem cuidado, bonito, como a foto idealizava, seria preciso uma série de ações e intervenções. Listamos então as propostas de cada criança para a recuperação do rio. Escrevemos no papel e nomeamos a autoria. Com as fotos e as ações planejadas, partimos para a construção da máquina”, lembra Jessica.


E que máquina! Para a criação, a professora e os estudantes deram asas à imaginação. Duas caixas de ar-condicionado serviram para a estrutura. Tampinhas, caixinhas, rolos de papel higiênico, tintas, massinhas e outros materiais reciclados foram usados para dar vida à máquina. “Pintamos, desenhamos, decoramos. Foi sensacional. E depois desse trabalho desenvolvido nas turmas, resolvemos presentear toda a escola. Levamos a máquina para o pátio. As crianças ficaram muito contentes e orgulhosas, afinal tinham criado A MÁQUINA DO TEMPO”, brinca.


Ao explicarem para os estudantes das outras turmas como funcionava a máquina, os alunos passaram a compartilhar suas descobertas e ações para a recuperação do Rio das Pedras. “Ou seja, foi um trabalho de protagonismo, empoderamento e compartilhamento. As discussões saíram da nossa sala de aula e foram para as outras salas”.


Maria Aparecida Rocha de Camargo, coordenadora pedagógica, foi uma das grandes entusiastas do projeto. “Foi prazeroso ver aquele trabalho do primeiro ano ganhar a escola toda, que atende hoje a cerca de mil estudantes, do 1º ao 5º ano do Ensino Fundamental. A máquina no pátio da escola fez com que a discussão em torno do Rio, que já vem sendo feita há dois anos, ganhasse uma concretude ainda maior, se relacionando com o Projeto Pedagógico do bimestre: Esse Rio é Meu: pertencimento, empoderamento na busca da esperança pela vida”, destaca.

Esperança que a professora Jessica tem cada vez mais. “A gente já consegue ver uma mudança significativa nos hábitos e no sentimento de que o Rio faz parte, agora, da vida das crianças. Embora sejam ainda bem pequenos, em torno de seis anos, os estudantes reconhecem o rio como rio e não mais como um esgoto a céu aberto. Chegam muitas vezes chateados, dizendo que viram alguém jogando latinha de refrigerante no rio e que foram lá falar com a pessoa ou incrédulos porque alguém largou um sofá próximo ao canal. Esse olhar é diferente, é importante e é transformador”.

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