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Sonho de criança vira cifra para empresas

Fada do dente: leia o artigo da psicóloga Lais Fontenelle, do Instituto Alana.

Por Lais Fontenelle
Mestre em Psicologia Clínica, autora de livros infantis e psicóloga do Instituto Alana

A Fada do Dente, figura lendária que habita o imaginário de milhões de crianças ao redor do mundo, está ameaçada de perder sua verdadeira identidade para um negócio lucrativo. Parece mentira, mas não é. Segundo notícias de jornais e blogs internacionais, como The New York Times e Huffington Post (http://www.nytimes.com/2013/07/29/business/media/outcry-against-a-tooth-fairy-web-site.html?_r=0), um empresário da indústria de brinquedos, com experiência na Hasbro, teve a “grande” ideia de licenciar a Fada do Dente. Isso mesmo. Ele incita outros empresários a pensar no ganho que poderiam obter com cada dente perdido das crianças. Pasmem! Querem vender o ícone da fantasia que marca um rito de passagem na vida das crianças e ainda estava entre as poucas figuras do universo infantil que não tinha sido licenciado. A Fada do Dente agora tem cara de Barbie e pode ser vista no site interativo chamado “As verdadeiras Fadas do Dentewww.therealtoothfairies.com que engloba jogos, atividades e produtos, claro, criados para encantar milhões de meninas entre 5 e 10 anos.


Sabemos que a cada dia o mercado cria novos produtos e formas cada vez mais persuasivas de comunicação para vender suas criações para nossos pequenos. São embalagens chamativas, brindes, comerciais e até eventos em lugares públicos criados especialmente para atrair o público infantil, que é vulnerável – visto pelo mercado como extremamente lucrativo por estar numa fase de formação de hábitos e valores, além da capacidade de influência que exerce na família e nos amigos. Mas, ai é que está o problema… a maioria das crianças até mais ou menos 8 anos ainda mistura fantasia com realidade. E não podemos esquecer que a infância é uma fase essencial de desenvolvimento afetivo e cognitivo que merece ser respeitada com seus sonhos e fantasias.

A lenda da Fada do Dente, apesar de não se saber exatamente sua origem, marca a infância de milhões de crianças faz tempo. A lenda reza que quando a criança perde um dente deve colocá-lo debaixo do travesseiro para que a fada, de noite, possa trocá-lo por moedas ou presentes. Assim, através dessa lenda, muitas crianças de diferentes países conseguem atravessar de forma mais leve e lúdica esse rito de passagem de troca dos dentes de leite, que pode ser, muitas vezes, doloroso e assustador. Apesar da data e origem ainda serem incertas, sabe-se que provavelmente a lenda teve influência da Europa Ocidental, onde se pregava que os dentes eram bens que deveriam ser guardados pela família para não cair no poder das bruxas que os usariam em feitiços. Ironia ou não, o que aconteceu foi que a Fada do Dente parece ter caído nas mãos dos “magos” do marketing.

O problema de toda essa novidade está centrado no fato de que cada vez mais todo o universo infantil e seus personagens lendários, criados na imaginação de cada criança, estão sendo mercantilizados e licenciados. Um marco na vida das crianças- como a perda dos dentes de leite- que trazia para os pequenos não só a novidade da janela no sorriso, mas a sensação de uma etapa de crescimento vencida não pode ser ‘abocanhada’ pelo mercado como uma fase lucrativa. A meu ver os dentes de leite, como pregavam na Europa Ocidental, deveriam continuar sendo importantes bens dos pais que deveriam não só guardá-los em caixinhas especiais, mas resguardá-los do mercado. Portanto, não podemos deixar que figuras lendárias, como Fadas do Dente, que deveriam até ser consideradas patrimônios imateriais da humanidade (e por isso não passível de registro) sejam transformadas em produtos. Dessa forma estamos permitindo que os sonhos de nossas crianças se transformem em cifras para as empresas. Conheça a campanha norte americana da ONG CCFC  http://www.huffingtonpost.com/susan-linn/tooth-fairymarketing_b_3600039.htmlque tem feito barulho lá fora para se inspirar a quem sabe provocar essa reflexão por aqui. A fada do dente merece esse nosso presente!

Um caso clássico no qual poucos vão ganhar e muitos vão perder. Me senti roubada e, convenhamos, depois de tanto tempo nos ajudando, as fadas do dente não mereciam isso.

 

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