Por Flavia Perez.
Com o compromisso de transmitir para a população informações e orientações durante a pandemia do novo coronavírus, mídia e autoridades de saúde vêm encontrando no processo de comunicação um poderoso rival: a disseminação de fake news. Difundidas amplamente no Brasil e no mundo nos últimos anos, as notícias falsas potencializam dia a dia o pânico e a desinformação em meio a uma crise mundial de saúde que tem como principal diferencial, em relação às anteriores, o uso massivo dos meios digitais de comunicação.
A quantidade de conteúdos falsos e enganosos circulando na internet é alarmante. Segundo dados da Lupa, agência de fact-checking brasileira que integra uma rede mundial de checadores, o Ministério da Saúde recebeu entre 21 de janeiro e 12 de março deste ano 9.900 mensagens para checar informações sobre o coronavírus. Dessas, apenas 495 eram verdadeiras, e 8.910 tratavam-se de fake news. Associada ao Código de Ética da International Fact-Checking Network (IFCN), a agência Lupa integra uma coalizão mundial contra a desinformação sobre o coronavírus e a Covid-19 (doença que ele causa), reunindo mais de 100 plataformas de checagem em cerca de 50 países. Desde janeiro, o grupo já desmentiu cerca de mil boatos a respeito da pandemia.
Neste cenário, no qual as redes sociais ocupam o protagonismo na veiculação de notícias falsas, gigantes da web como Facebook, WhatsApp, Instagram, Twitter e YouTube anunciaram a criação de estratégias para remover conteúdos falsos sinalizados por internautas ou autoridades. O objetivo é direcionar usuários que buscam conteúdos sobre a pandemia para acesso a informações divulgadas por fontes confiáveis e ainda oferecer orientações visando evitar a disseminação das fake news.
Segundo o Massachussetts Institute of Technology (MIT), informações falsas tendem a se espalhar 70% mais rápido do que as verdadeiras, percentual que está relacionado ao caráter emocional que os conteúdos enganosos costumam explorar e ao impulso de repassar informações dotadas de ineditismo. Outra questão inerente ao debate sobre o avanço da propagação das fake news é sua relação intrínseca com as ferramentas de SEO (Search Engine Optimization), técnicas usadas para otimizar páginas na web que buscam entender os algoritmos, a fim de mapear padrões de comportamento a partir das interações dos internautas, favorecendo com isso a disseminação de notícias falsas.
Diante desse panorama, que comporta a enxurrada de notícias falsas sobre a pandemia do novo coronavírus e a criação de cenários irreais que prejudicam o recebimento das orientações fornecidas através da mídia, podemos concluir que nunca a compreensão do Jornalismo e do processo de apuração e produção de notícias em seus diferentes canais — mídia impressa, eletrônica e digital — foi tão importante para a sociedade e para o processo educacional como nos dias atuais.
É preciso oferecer a crianças e jovens conhecimento sobre o funcionamento da mídia para que eles possam desenvolver suas competências para analisar e criticar as informações que recebem. É importante e imprescindível, principalmente nesses tempos, que eles criem o hábito de checar dados antes de repassá-los a outras pessoas. Portanto, é necessário que educadores e professores, conscientes da responsabilidade de formar jovens com autonomia e senso crítico, reflitam sobre o processo de aprendizagem contemporâneo. Desenvolver e ampliar a visão cultural de seus estudantes, considerando aspectos como diversidade e o papel da mídia para a sociedade, deve ser um exercício incorporado ao ensino das disciplinas curriculares.
Usar a mídia como ferramenta de educação é uma forma de despertar o interesse de estudantes, professores, educadores e de toda a comunidade escolar para a história do Jornalismo, de suas bases de atuação e do impacto das notícias em nossas vidas. Só assim estaremos formando cidadãos preparados para a leitura crítica dos conteúdos que recebem e repassam, evitando a propagação nociva de fake news.
Contudo, a situação atual de pandemia causada pelo novo coronavírus exige a criação de ações de curto, médio e longo prazo que possam conscientizar e educar as pessoas tanto para suspeitar de conteúdos enganosos, quanto para checar as informações antes de repassá-las a outras pessoas. Segundo dados da Organização das Nações Unidas (ONU), escolas foram fechadas em 165 países deixando 87% de todos os alunos do mundo sem aulas, o que representa mais de um bilhão e meio de estudantes fora da escola. Por essa razão, neste momento, orientar nossas crianças e jovens para o consumo e a divulgação adequada de informação é dizer que, na dúvida, a recomendação precisa ser clara: não compartilhem.
Flavia Perez é jornalista, pós-graduada em Língua Portuguesa, desenvolve pesquisa na área de Midiaeducação e trabalha há mais de dez anos criando conteúdos sobre Educação, Cultura, Saúde e Meio Ambiente.
Muito bom, Flávia. Parabéns