Por Mariana Barbosa
Folha de S. Paulo
Até agora “protegido” pela língua nacional, o mercado editorial brasileiro atingiu tamanho de gente grande e começa a atrair importantes grupos internacionais. Com R$ 6,2 bilhões de faturamento e 469,5 mil exemplares vendidos, o Brasil é o nono maior mercado editorial do mundo, segundo estudo recém-publicado da Associação Internacional dos Editores (IPA, na sigla em inglês). É o primeiro estudo que trás a movimentação total do mercado nacional, considerando o preço pago pelo consumidor. O faturamento das editoras, medido pela Câmara Brasileira do Livro (CBL), foi de R$ 4,8 bilhões em 2011.
A compra de 45% da Companhia das Letras pela britânica Penguin no final de 2011 foi o início de um movimento que deve se intensificar, avalia o consultor Carlo Carrenho, do site PublishNews. Diferentemente do que acontece em setores como meios de comunicação, não há impedimento para a entrada de estrangeiros no mercado editorial. Os espanhóis já estão no país há alguns anos e a portuguesa LeYa comprou a Casa da Palavra no ano passado.
O mercado brasileiro, com China e Índia, está no foco da Random House Penguin, união de duas das maiores editoras do mundo anunciada na semana passada. “Não tivemos muitas aquisições de estrangeiros no passado por conta do idioma. Mas, com o tamanho do mercado brasileiro, com a classe C entrando, o Brasil está cada vez mais atraente”, diz Carrenho.
Situação confortável
Dados da CBL mostram que o livro está mais barato e o brasileiro anda lendo mais. O preço médio do livro caiu 6,1% em 2011, considerando apenas preços praticados no mercado privado. Incluindo compras de governo, o preço médio ficou estável (alta de 0,1%). O governo representa 39,5% do mercado.
Em volume, as vendas subiram 7,2% – o brasileiro comprou 3,34% mais, e o governo,13,7% mais. Já em receita, a alta foi de 7,4%. Ou 0,81%, descontada a inflação.
Na opinião de Carrenho, as editoras estão em situação confortável para conversar, pois estão saudáveis e com perspectiva de crescimento. “Há muito espaço para as editoras se tornarem globais, com uma administração profissional”, diz. “As editoras são empresas familiares e só têm a ganhar ao fazer parte de grandes grupos.”
Livros digitais devem impulsionar setor
Embora represente uma fração do mercado editorial brasileiro, a venda de livros digitais começa a ganhar corpo e deverá sustentar o crescimento futuro do setor. Só a livraria Saraiva, maior rede do país, vendeu R$ 500 mil no mês de outubro. E 30% das vendas do best seller 50 Tons de Cinza pelo site da loja foram na versão digital. “À medida que as editoras começam a fazer lançamentos simultâneos no papel e no meio digital, os números deverão crescer rapidamente”, diz o presidente da Saraiva, Marcílio Pousada.
Se fossem contabilizadas como uma loja da rede, as vendas com livros digitais já estariam na 11ª posição entre as 102 lojas da rede em volume de exemplares vendidos. No início do ano, a venda de e-books ocupava o 79º lugar. “O negócio digital cresce com força e estamos muito satisfeitos”, afirma Pousada, que nega rumores de que a Saraiva estaria negociando sua venda para a Amazon. Ele diz não temer a concorrência da Amazon, que planeja entrar no Brasil no ano que vem. “Acreditamos nas nossas fortalezas e conhecemos o mercado. Entregamos 200 mil títulos em São Paulo em 24 horas”, diz Pousada.
O presidente da Livraria Cultura, Sérgio Herz, diz que a concorrência com a Amazon é bem-vinda, mas que a companhia americana vai encontrar um mercado com muitas peculiaridades. “Não dá para desrespeitar. Mas lá eles jogam em um campo bonito. Aqui a bola é murcha e o campo, esburacado”, diz Herz. “Pagamos tudo adiantado, fornecedor, imposto. Lá fora, não. Eles recebem à vista do cliente e pagam o fornecedor depois.” Até o fim do mês, a Cultura começa a vender o leitor digital Kobo, sua aposta para impulsionar a venda de livros digitais.