Por Mário Augusto Jakobskind
Do Observatório da Imprensa
Em vários países da América Latina tem estado na ordem do dia discussões sobre jornalismo e o tipo de jornalismo que vem sendo praticado neste continente. A Sociedade Interamericana de Imprensa (SIP), que reúne o patronado midiático das Américas, apresenta com muita frequência nos meios de comunicação os seus conceitos, que para muitos analistas estão mais voltados para a liberdade de empresa do que da imprensa propriamente dita.
Outros tipos de conceitos sobre o tema são praticamente ignorados pela grande mídia, cujos responsáveis tentam evitar o debate. E quando se coloca a discussão, a resposta tem sido sistematicamente o ataque com o falso argumento de que os defensores do debate sobre o tema tolhem a liberdade de imprensa, quando acontece exatamente o contrário.
O debate está aberto e prossegue, lamentavelmente sem que os leitores, ouvintes e telespectadores brasileiros tenham acesso a conceitos não defendidos pela SIP.
Nesse sentido, até agora sem nenhuma divulgação pela grande mídia brasileira, será realizada, nos dias 19 e 20 de junho, na cidade equatoriana de Guayaquil, a I Cúpula de Jornalismo Responsável, atividade que, segundo os organizadores, procurará ressaltar o papel dos comunicadores na era contemporânea e em tempos de transformações no continente.
Sem cerceamentos
O anúncio da realização da Cúpula, divulgado pela Telesul, foi feito pelo presidente do Equador, Rafael Correa, que ressaltou a importância do evento na luta pela verdadeira liberdade de expressão.
E em seu pronunciamento, além de criticar o que considera “ditadura midiática”, que “tanto mal faz a nossa democracia”, Correa assinalou, entre outras coisas, que a Cúpula, organizada pela Secretaria Nacional de Comunicação da Presidência equatoriana pretende “falar sobre o verdadeiro jornalismo” assegurando que isso seria impossível “sem uma imprensa responsável”.
Entre os temas a serem debatidos destaca-se o da responsabilidade social do jornalismo, os jornalistas e a construção da democracia, além da emergência das novas tecnologias de informação e comunicação, bem como a formação de jornalistas para os meios digitais.
Quando tomarem conhecimento da realização da I Cúpula de Jornalismo Responsável, os defensores da “liberdade de imprensa” na ótica da SIP, se não silenciarem sobre o evento, procurarão caracterizá-lo apenas com uma peça de propaganda do Estado, no caso equatoriano.
Faz parte da rotina do senso comum a crítica a tudo o que seja impulsionado ou organizado por qualquer Estado. E isso acontece não apenas entre os defensores do receituário neoliberal do Estado mínimo, como também de grupos críticos a qualquer tipo de ação estatal, inclusive não diferenciando um Estado democrático de outro autoritário do gênero Pinochet, por exemplo.
Eis um tema que pode gerar discussões, não só entre jornalistas e comunicadores de um modo geral, mas também entre os receptores da informação, ou seja, todos os cidadãos leitores, ouvintes e telespectadores com um mínimo de sensibilidade e que não aceitam as verdades absolutas impostas pela mídia tradicional que prefere ignorar fatos a arriscar questionamentos.
O próprio conceito de jornalismo responsável merece, claro, uma discussão aprofundada, sem cerceamento das informações necessárias para que o receptor tire a sua conclusão. Informações sobre a I Cúpula de Jornalismo Responsável podem ser de grande utilidade nesse sentido. O próprio debate e apresentação de temas contraditórios são também de utilidade.