Tim Berners-Lee
Observatório da Imprensa – 18/03/2014
Tradução: Fernanda Lizardo, edição de Leticia Nunes. Com informações de Jemima Kiss
Vinte e cinco anos depois da criação do primeiro rascunho para o que hoje é a internet no modelo World Wide Web, seu inventor, Sir Tim Berners-Lee, acredita na necessidade de uma “Carta Magna” online para proteger e consagrar a independência do meio que ele criou, bem como para garantir os direitos de seus usuários no mundo inteiro.
Berners-Lee alega que a web tem sofrido crescentes ataques de governos e influência corporativa, e que as novas regras seriam necessárias para manter o sistema aberto e neutro. “Precisamos de uma constituição global – de uma declaração de direitos”, defende.
O plano da Carta Magna de Berners-Lee é parte de uma iniciativa intitulada “a rede que queremos”, na qual ele convida as pessoas a gerarem um projeto de direitos de leis digitais em cada país – uma declaração de princípios que, ele espera, seria apoiada por instituições públicas, por funcionários do governo e por grandes corporações.
Crítico da espionagem
Berners-Lee é um crítico aberto à vigilância dos cidadãos por parte das agências americanas e britânicas de espionagem. À luz dos acontecimentos recentes, como as revelações de documentos vazados por Edward Snowden, ele diz que as pessoas desejam uma vistoria no modo como os serviços de segurança são geridos.
Seus pontos de vista também ecoam em toda a indústria de tecnologia, onde existe uma fúria em particular sobre os esforços da Agência Nacional de Segurança americana (NSA) e da britânica GCHQ (Sede das Comunicações do Governo) para minar a criptografia e as ferramentas de segurança online – algo que muitos especialistas em segurança cibernética dizem ser contraproducente, pois afeta a segurança de todos.
Em função disso, a Carta Magna também abordaria princípios de privacidade, liberdade de expressão e anonimato responsáveis?. “Nossos direitos estão sendo cada vez mais violados, de todos os lados, e o perigo é nos acostumarmos”, declarou Berners-Lee. “Quero aproveitar este 25º aniversário do atual modelo da internet para fazermos isso, para recuperar nossa rede e definir a rede que queremos para os próximos 25 anos”.
A proposta também deve examinar o impacto das leis de direitos autorais, assim como questões culturais e sociais em torno da ética da tecnologia. Embora a regulamentação regional e as sensibilidades culturais variem, Berners-Lee disse acreditar que um documento comum sobre princípios poderia fornecer um padrão internacional para os valores da internet.
Ele está otimista de que a campanha “a rede que queremos” possa se tornar mainstream, apesar da aparente falta de consciência do interesse público no caso de Edward Snowden. “Precisamos que nossos advogados e nossos políticos entendam de programação, a fim de compreender o que pode ser feito com um computador. Também precisamos rever um enorme volume de estrutura legal, rever as leis de direitos autorais… Muitas delas foram criadas para proteger os produtores de cinema. Mas não há nada criado para preservar o discurso cotidiano entre indivíduos e a democracia cotidiana da qual necessitamos para governar um país”, afirma.
Criador da web livre para todos
Nascido em Londres, Tim Berners-Lee cresceu familiarizado ao conceito dos computadores: seus pais trabalharam na criação do primeiro computador do mundo construído comercialmente, o Ferranti Mk1.
Berners-Lee graduou-se em física na Universidade de Oxford e trabalhou em uma série de cargos de engenharia. Mas foi no Cern, a Organização Européia para Pesquisa Nuclear, em Genebra, que embarcou em projetos que levariam à criação da World Wide Web.
Seu objetivo era permitir que pesquisadores de todo o mundo pudessem compartilhar documentos; suas primeiras propostas foram julgadas por um gerente no Cern como “vagas, porém interessantes”. Ele combinou a tecnologia já existente – como a internet e o hipertexto – para produzir um imenso sistema de armazenamento de documentos interligados. A World Wide Web foi aberta a novos usuários em 1991, e em 1992 foi inventado o primeiro navegador para digitalizar e selecionar os milhões de documentos já existentes.
Atualmente, Berners-Lee trabalha para várias organizações a fim de garantir que a web seja acessível a todos e que o conceito de neutralidade da rede seja observado por governos e corporações.