Por Marcus Tavares

Há um ano o Espaço de Desenvolvimento Infantil Heloisa Marinho, localizado em Santa Teresa, Centro do Rio, começou a desenvolver o programa Esse Rio é Meu. Um desafio e tanto, destaca a diretora e professora Paula Cancella: “Foi desafiador dada a localidade do Rio Papa Couve, que fica situado numa área conflagrada, e a alta demanda de projetos que nos chega à escola. Porém, foi tão gratificante a transformação daquele cenário que até lambe-lambe com as poesias de Manoel de Barros sobre o Rio foram espalhadas no entorno da comunidade”.

O programa Esse Rio é Meu é desenvolvido em conjunto pela Secretaria Municipal de Educação e pela Secretaria Municipal de Meio Ambiente da Prefeitura do Rio, em parceria com a oscip planetapontocom e a concessionária Águas do Rio – patrocinadora do programa. O objetivo do programa é engajar escolas na recuperação e preservação dos rios. Cada grupo de escolas da rede pública de ensino do Rio ficou responsável por desenvolver ações em torno de um dos corpos hídricos da cidade.

Segundo Paula, o programa envolveu todas as turmas da unidade escolar. Inicialmente, a direção fez um mapeamento das crianças que moravam mais próximas ao rio para as ações externas. E fico estabelecido que tais meninas e meninos seriam agentes multiplicadores do Esse Rio é Meu.

Nas aulas durante o ano, a questão da preservação foi continuamente reforçada e de forma artística. As turmas conheceram e trabalharam com poesias e músicas que falavam sobre os rios. Manoel de Barros foi um dos artistas mais revisitados.

“Por outro lado, fora da escola, fizemos uma parceria com os Guardiões do Rio, da Secretaria de Meio Ambiente e Clima da Prefeitura do Rio. Por mais que a gente promovesse ações pedagógicas de revitalização do rio, precisávamos de uma intervenção direta no espaço. O rio estava muito sujo, com muitas ratazanas. Coincidentemente, no primeiro dia que visitamos o rio, encontramos os Guardiões, que são os profissionais encarregados de fazer a manutenção dos rios. Eles nos contaram sobre a dificuldade de manter a limpeza do entorno e do próprio rio. Perguntaram se podíamos ajudar. Foi perfeito. Desenvolvemos então com os alunos um jornalzinho para auxiliar na conscientização da comunidade. O material foi distribuído de porta em porta com a ajuda dos próprios Guardiões.”, conta Paula.

Ao mesmo tempo, a escola trabalhou em outras frentes. Por meio de doações, promoveu uma pequena revitalização do entorno do rio. Os guardiões e alguns professores voluntários se juntaram e ajudaram a pintar a rampa de acesso ao rio. Mudas e algumas flores foram plantadas, tornando o espaço limpo, bonito e acolhedor.

“Mas depois de conseguirmos revitalizar o espaço do entorno do rio, a conservação durou muito pouco. Parte dos moradores não contribuiu com a manutenção, inclusive, arrancado as plantas. Ficamos tristes. E concluímos que deveríamos adotar outra estratégia, caso contrário estaríamos sempre enxugando gelo. Tivemos então a ideia de transformar o Rio numa ‘lenda’. Colocamos uma tela protetora em um dos acessos ao rio, com algumas fitinhas amarradas. Junto, uma placa dizendo: Reza a lenda que as pessoas que amarram uma fitinha aqui têm o seu pedido atendido. Era uma forma então de modificar o espaço, torná-lo, inclusive, num ponto turístico, onde ninguém, portanto, iria danificar ou sujar. Ficou lindo e funcionou”, comemora.

Para 2024, a diretora afirma que fará uma nova diagnose junto aos estudantes, moradores e os parceiros com o objetivo de traçar os objetivos do ano. “Estamos apenas terminando o período de acolhimento para começar pra valer”, avisa.

Mas duas propostas estão na mesa: a criação de uma composteira na escola e talvez uma próxima ao rio e um projeto de troca de cartas com os estudantes da Creche Municipal Fallet, instituição escolar que fica ainda mais próxima do Rio Papa Couve e que serviu como ponto de apoio para as iniciativas.