Esse Rio é Meu: Escola Municipal Charles Anderson Weaver vira ponto de apoio de moradores por conta das enchentes de janeiro

Professora Roberta Nascimento conta detalhes, a partir de relatos dos moradores.

Por Marcus Tavares

Janeiro de 2024 vai entrar para a história como um dos meses mais chuvosos na cidade do Rio de Janeiro. Enquanto a média para o mês é de 161,1 milímetros de chuva, caíram na cidade, segundo o Alerta Rio, cerca de 330 mm de água — mais que o dobro.

O segundo fim de semana foi o período de janeiro que mais choveu. Entre a tarde do dia 13 e a manhã do dia 14, a cidade recebeu, em média, 92 mm de chuva. A região do Rio que concentrou o maior volume foi a Zona Norte.

O que se viu, mais uma vez na cidade, foi tristeza. Rios transbordaram. Casas foram invadidas pelas águas. Famílias desamparadas e desabrigadas. Muitas perderam tudo o que tinham.

Em Coelho Neto, exatamente na Zona Norte do Rio, a professora Roberta Nascimento, da Escola Municipal Charles Anderson Weaver, pode constatar os danos das chuvas e a lamentação da comunidade. A escola tornou-se ponto de apoio, oferecendo, mesmo sem luz, o que podia para confortar os moradores. O Rio Acari, próximo à escola, transbordou, levando pânico e desespero para professores, estudantes e seus responsáveis.

Realidade corriqueira, mas que dessa vez, segundo a professora, provocou uma maior conscientização da população sobre a importância de cobrar ações do poder público e de fazer a sua parte em relação ao descarte do lixo no rio.

Desde o ano passado, a unidade escolar vem participando do programa Esse Rio é Meu que tem o objetivo de engajar escolas na recuperação e preservação dos rios. Cada grupo de escolas da rede pública de ensino do Rio ficou responsável por desenvolver ações em torno de um dos corpos hídricos da cidade. A Charles Anderson Weaver ficou com o Rio Acari.

O programa Esse Rio é Meu é desenvolvido em conjunto pela Secretaria Municipal de Educação e pela Secretaria Municipal de Meio Ambiente da Prefeitura do Rio, em parceria com a oscip planetapontocom e a concessionária Águas do Rio – patrocinadora do programa.

Segundo Roberta, o fato de a escola ter participado do programa em 2023 só reforçou, com o cenário de janeiro, a importância de a comunidade se conscientizar sobre a recuperação dos rios. O programa também ajudou os estudantes a entenderem os problemas que a poluição do Rio Acari acarreta para a comunidade.

Professora de Geografia, Roberta procura, por meio da educação, fazer com que o aluno e o seu fazer ultrapassem os muros da escola. “Entendo que trabalhamos com pessoas e sonhos. Utilizo minhas características pessoais que é ser motivadora e gostar de trabalhar em equipe para atrair e colocar em prática projetos que contam com a colaboração de boa parte da comunidade escolar”, explica.

Em entrevista à revistaponcom, ela contou detalhes, por meio de relatos dos moradores do local, do que aconteceu no início deste ano. Sempre otimista, está preparada para um novo ano letivo, um novo ano do programa Esse Rio é Meu. Acredita que desta vez haverá ainda mais adesão da comunidade.

revistapontocom – O que ocorreu no entorno da Escola Municipal Charles Anderson Weaver, com as chuvas de janeiro deste ano?
Roberta Nascimento
– É uma escola cercada por prédios. Na madrugada do dia 14 de janeiro a água chegou ao segundo andar. No primeiro andar, foi perda total. O nível de água subiu muito rápido, mais ou menos em quinze minutos, para o desespero e agonia da população do entorno da escola. Só para se ter uma ideia, as águas cobriram o muro da estação do Metrô, fazendo com que um carro, inclusive, fosse parar dentro da linha do Metrô. O Hospital Municipal Ronaldo Gazolla teve o seu subsolo inundado e ficou sem luz. Além do hospital, a área toda ficou sem luz. Soubemos que uma mãe perdeu os filhos com a enchente. Um morador resgatou as crianças e os colocou no telhado de uma escola municipal do entorno. Dava para ouvir os gritos das crianças de longe. Por volta de uma hora depois, os bombeiros resgataram as crianças do telhado e entregaram para mãe. Neste dia, teve também o caso da gestante de nove meses, que entrou em trabalho de parto e foi resgatada pelo Corpo de Bombeiros. Ela foi levada de bote para o Hospital Municipal Ronaldo Gazolla.

revistapontocom – É uma realidade corriqueira?
Roberta Nascimento –
Sim, nesse período de verão sempre tem enchente e muitas famílias do entorno da escola sofrem, perdendo seus pertences. Mas as chuvas deste mês de janeiro de 2024 foram as que mais causaram destruição.

revistapontocom – A escola esteve à disposição para ajudar?
Roberta Nascimento –
Sim. Em relação aos alunos, por exemplo, depois da enchente sempre recebem mais uniformes e materiais.

revistapontocom – Como a escola, neste episódio de janeiro, ajudou a comunidade?
Roberta Nascimento –
Mesmo ficando um bom tempo sem energia, a escola esteve presente como ponto de apoio. Os moradores tiveram abrigo e alimentação. Eles ficaram abrigados lá por dois dias e receberam doações.

revistapontocom – Qual é o sentimento da comunidade frente às enchentes?
Roberta Nascimento –
O sentimento da comunidade é de perda, angústia e abandono. A população se sente desprotegida toda vez que começa a chover. Isso não é de hoje e os moradores nunca viram uma ação eficaz do poder público na região.

revistapontocom – O fato de a escola ter participado do programa Esse Rio é Meu fez alguma diferença?
Roberta Nascimento –
Ao estudarmos sobre doenças de veiculação hídrica, como uma das consequências da poluição da água do rio, os alunos disseram que não brincam mais na água poluída. Uma moradora também fez uma reflexão sobre isso. Ela disse que, hoje, sabe exatamente o que é racismo ambiental, normalizando a destruição e a falta de higiene no local. Assim como ela, outros moradores falaram a mesma coisa e estão mais preocupados com as causas e as consequências da poluição do Rio Acari. E mais do que isso: estão se organizando para buscar ajuda e acabar com essa sensação de medo da população em dias de chuva.

revistapontocom – E como os professores se sentem diante deste cenário?
Roberta Nascimento –
A situação despertou nos professores a atenção para mais uma vulnerabilidade social dos nossos alunos. Está nos planos de aula mais discussão sobre educação ambiental e racismo ambiental. A comunidade não pode sofrer com essa questão e continuar sem o esclarecimento necessário, até mesmo para reivindicar o seu direito. Entendemos que o poder público tem que fazer a parte dele também. Para comunidade ficou a experiência negativa de perder tudo e a prova de que juntos somos mais fortes. Foi um ajudando o outro, como o motorista de ônibus da linha 298, que levou pessoas de um lugar para o outro. A comunidade entendeu que a solução só virá com uma ação coletiva, com cada um cumprindo o seu papel: a população e os órgãos públicos e privados.

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Silvana
8 meses atrás

Parabéns, Roberta! Trabalho maravilhoso!

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