Esse Rio é Meu: em Bangu, Escola Municipal Astrojildo Pereira inicia o terceiro ano de atividades com foco nas famílias

Entrevista com a diretora Cristina Ferreira.

Por Marcus Tavares

Cristina Ferreira é diretora da Escola Municipal Astrojildo Pereira, que fica localizada em Bangu, Zona Oeste do Rio. Há mais de seis anos no comando da unidade, que oferece Ensino Fundamental (do 1º ao 5º ano), ela está à frente de uma das primeiras escolas que participaram do programa Esse Rio é Meu.

O programa Esse Rio é Meu é desenvolvido em conjunto pela Secretaria Municipal de Educação e pela Secretaria Municipal de Meio Ambiente e Clima da Prefeitura do Rio, em parceria com a oscip planetapontocom e a concessionária Águas do Rio – patrocinadora do programa. O objetivo do programa é inovar metodologicamente a partir da interdisciplinaridade, engajando escolas na recuperação e preservação dos rios. Cada grupo de escolas da rede pública de ensino do Rio ficou responsável por desenvolver ações em torno de um dos corpos hídricos da cidade. Em 2024, as 1545 unidades escolares da rede participarão do programa e o número de rios atendidos chegará a 267.

A história do Esse Rio é Meu na Astrojildo remete ao ano de 2019, antes da chegada da pandemia. Com a Covid-19, as aulas presenciais foram suspensas e o programa foi interrompido. Só foi retomado em 2021, mas saiu mesmo do papel em 2022. De lá para cá, são dois anos de atividades. Conquistas? Muitas, mas trata-se de um trabalho que não tem data de validade. Pelo contrário, Cristina e sua equipe já entenderam que é um trabalho ininterrupto de convencimento e de conscientização.

Em entrevista à revistapontocom, a diretora acredita que ainda é preciso mais: é necessário envolver de forma mais participativa a comunidade. É urgente que todos os atores da escola, da comunidade, do bairro entendam a importância do meio ambiente e vejam o Sarapuí, de uma vez por todas, como um rio e não como um valão.

Acompanhe a entrevista:

revistapontocom – Como o programa Esse Rio é Meu começou a ser desenvolvido na escola?
Cristina Ferreira
– No fim do ano de 2019, a equipe da unidade foi informada sobre o projeto. Não sabíamos nada sobre ele, mas desde o primeiro momento o encaramos como um grande desafio. Fomos a 1ª escola da 8ª Coordenadoria Regional de Educação (CRE) a ingressar no programa. E tão logo isso aconteceu, iniciamos encontros com a equipe de formação e as equipes das unidades escolares. Estávamos muito entusiasmados, mas veio a pandemia. Os anos de 2019 e 2020 se foram e o projeto ficou suspenso. Em 2021, retomamos, mas de forma bem gradual, pois voltamos em etapas, grupos intercalados. De fato, o programa saiu do papel em 2022. E foi um grande desafio. Estávamos de volta à escola depois da pandemia e com uma série de questões para dar conta. De um modo geral, as escolas sentiram muito o afastamento. Alunos e equipes fragilizados com as perdas e dificuldades causadas pela pandemia. Foi um tempo difícil, de redescobrir a escola, de acariciar, de resgatar comportamentos em grupo e de socializar. No entanto, mesmo assim iniciamos a proposta.

revistapontocom – E como foi este começo do programa?
Cristina Ferreira –
Começamos a envolver os professores na causa. O tema da água sempre esteve presente, mas realmente com o projeto Esse Rio é Meu iniciamos um olhar mais específico para a realidade do nosso entorno, para o Rio Sarapuí, cuja uma pequena parte dele se localiza bem próximo da escola. A partir dos encontros de formação, mobilizava os professores no desenvolvimento de atividades. E assim foram feitas algumas durante o ano, tanto em 2022 quanto no ano passado. Acredito que em 2023, intensificamos nossas ações. Trabalhamos, em primeiro lugar, com a conscientização que o Sarapuí é um rio e não um valão, visão de muitos estudantes e famílias. Fizemos um trabalho bem bacana também de criação de brinquedos a partir de sucatas, mostrando a importância do reaproveitamento do lixo e de seu descarte. Muito debate nas aulas, trazendo o tema do desperdício de alimentos, com diferente produção textual e cartazes. E tentamos sempre envolver as atividades culturais da escola ao programa. Nos últimos dois anos, nossa escola criou uma coreografia especial, inspirada no Esse Rio é Meu, para ser apresentada na Mostra de Dança da Prefeitura do Rio.

revistapontocom – Buscou-se então uma interdisciplinaridade das áreas de conhecimento?
Cristina Ferreira –
Foi o nosso objetivo, o que contribuiu para o desenvolvimento de competências e habilidades entre os estudantes, incentivando a pesquisa, promovendo a escrita, a leitura e o entendimento sobre o meio ambiente. Desta forma, valorizando o protagonismo e inspirando lideranças. O engajamento das crianças foi muito bom. As crianças aprendem com os desafios. Aprendem a cuidar do rio e a pertencer a ele. Crianças mudam comportamentos.

revistapontocom – E os professores? Como foi a adesão?
Cristina Ferreira
– Foi uma construção que está em constante evolução. Tudo era novo. Não tínhamos um modelo a seguir já que fomos a primeira escola da 8ª CRE a ser convidada para participar. Incialmente, talvez, tenha sido visto como mais um projeto a ser desenvolvido pela escola. Mas, aos poucos, foi sendo incorporado e assimilado por todos.

revistapontocom – Mas o saldo é positivo?
Cristina Ferreira –
Sinceramente, digo que os resultados foram modestos, mas significativos, como sementes que a gente sabe que vão vingar. Acredito que ainda não conquistamos, como deveríamos, o envolvimento da comunidade. Por exemplo, ainda se joga muito lixo no nosso rio. No ano passado, recebemos alunos novos que ainda vinham o rio Sarapuí como valão. Ou seja, é um recomeçar a todo instante. Não temos dúvidas: cada estudante novo deve ser apresentado ao rio Sarapuí. E não é só isso. Este aluno deve ser mais um guardião do Rio.

revistapontocom – O que fica de lição para este novo ano letivo?
Cristina Ferreira –
Que o trabalho em grupo é difícil, mas é sempre rico, pois a criatividade de um estimula a criatividade do outro. Isso se aplica tanto com relação aos alunos quanto com os professores. Espero que neste ano, particularmente, o rio seja nosso, de fato. O programa já tem seu lugar no nosso plano de ação, no nosso Projeto Político Pedagógico, e precisamos aproveitar ao máximo a oportunidade de fazer a diferença. A ideia é agitar essas águas e deixar fluir o que há de melhor em nós e no Rio Sarapuí.

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