Por Marcus Tavares
Ampliar a capacidade criativa e de mobilização da equipe de professores e servidores da escola e a conscientização e aprendizagem sobre o meio ambiente dos estudantes e suas famílias. Na avaliação da direção e da equipe pedagógica da Escola Municipal Carlos Maul, localizada no bairro do Realengo, Zona Oeste do Rio, estas foram as grandes contribuições do projeto Esse Rio é Meu, realizado no ano passado.
O projeto Esse Rio é Meu é desenvolvido em conjunto pela Secretaria Municipal de Educação e pela Secretaria Municipal de Meio Ambiente da Prefeitura do Rio, em parceria com a oscip planetapontocom e a concessionária Águas do Rio – patrocinadora do programa. O objetivo do programa é engajar escolas na recuperação e preservação dos rios. Cada grupo de escolas da rede pública de ensino do Rio ficou responsável por desenvolver ações em torno de um dos rios da cidade. A Escola Municipal Carlos Maul trabalhou em torno do Rio Piraquara.
“O projeto permitiu trabalhar ativamente e interdisciplinarmente conhecimentos novos e avaliar os já adquiridos. Tivemos a oportunidade de fazer uma leitura sobre a comunidade, o espaço geográfico e suas transformações e fizemos também um levantamento dos recursos e das paisagens naturais e não naturais, ao longo do trajeto do Rio Piraquara. Neste sentido, pudemos compreender a importância e o papel de todos na mudança e na preservação dos recursos naturais de forma sustentável. Foi, portanto, uma experiência valiosa”, destaca João Carlos, professor articulador da Escola Municipal Carlos Maul.
O projeto foi realizado ao longo de 2022, seguindo a proposta apresentada no curso de formação de professores, oferecido pelo planetapontocom. Numa primeira etapa, a unidade se envolveu na apresentação do programa aos professores e funcionários da escola, na formação de uma equipe de estudantes multiplicadores e no diagnóstico sobre o rio Piraquara. Foi a partir desse diagnóstico que a instituição elaborou atividades para serem desenvolvidas pelos estudantes.
A proposta era conhecer, descobrir e pesquisar a história do rio e toda sua relação com a comunidade, bem como defender e ampliar a conscientização ambiental entre todos os atores da escola. Para isso foi preciso ir a campo para verificar e analisar as condições do rio, da nascente, na área urbana, até chegar aonde ele desagua, no Rio Meriti. Essa ação envolveu estudantes do 4º e 5º ano, que foram convidados a serem multiplicadores.
“A pesquisa de campo fez um mapeamento das condições do Rio Piraquara, desde sua nascente até a sua desembocadura. Ela foi dividida em dois momentos: o primeiro, no Parque Estadual Pedra Branca – Núcleo Piraquara, e, a segunda, na área urbana, residencial. Durante a segunda etapa, os alunos fizeram uma ação de conscientização ambiental: uma passeata onde exibiram cartazes chamando a atenção da população sobre a conservação e preservação e sobre o correto descarte do lixo, do entulho e de diferentes objetos em seu leito. Durante essa etapa, os estudantes também entrevistaram moradores. Queriam saber o que eles pensavam sobre o rio e seus problemas.”, destaca João Carlos.
Com as visitas e as pesquisas prontas, os multiplicadores foram de sala em sala compartilhar suas experiências e vivências. O tema acabou contagiando e provocando outros segmentos e turmas do 1º ao 5º ano do Ensino Fundamental. A partir daí, as turmas iniciaram uma série de debates e oficinas, cujos resultados seriam então apresentados, no final do ano, em uma exposição chamada “O Dia do Rio!”
Aos professores, coube o suporte e mediação durante as aulas e oficinas. Aos alunos, a elaboração de trabalhos para exposição final que foram desenvolvidos com base no aprendizado de diferentes conceitos adquiridos ao longo do projeto, como o ciclo da água, os elementos do rio, o bioma Mata Atlântica, o tratamento da água para consumo e o sistema de saneamento básico.
Trabalho que foi desenvolvido em paralelo com o desenvolvimento de competências e habilidades da leitura e escrita. “A alfabetização, a leitura, a identificação de gêneros textuais e a produção de texto são as principais competências trabalhadas no Ensino Fundamental I e foram, então, interligadas. Portanto, o trabalho possibilitou que os alunos explorassem estas competências em todos os momentos de forma ativa, desde a pesquisa até a confecção dos trabalhos”, conta o professor João.
Na exposição final, os responsáveis dos alunos e a comunidade local foram convidados a participarem. Produções textuais, desenhos, vídeos e cartazes foram exibidos. O evento contou também com uma palestra sobre a história do bairro de Realengo, ministrada pelo historiador Luiz Fortes; e outra a respeito do trabalho de preservação e conservação ambiental do bioma Mata Atlântica, realizada pelos guardas florestais do Parque Estadual da Pedra Branca.
Segundo o professor João Carlos, trabalhar com projeto é sempre muito gratificante para os estudantes, pois possibilita que eles sejam protagonistas do conhecimento de forma ativa e interdisciplinar. Assim, todo o processo possibilitou que os professores regentes avaliassem as dificuldades das crianças quanto à temática do projeto – a conservação e preservação do rio, por exemplo – e os instrumentos necessários para se alcançar os objetivos, como a pesquisa e a reflexão.
“Mas, apesar de ser gratificante, trabalhar com projeto também é um grande desafio, afinal tudo que envolve instituições públicas de educação esbarra sempre nos mesmos entraves: falta de investimento, espaços e instalações adequadas para se trabalhar, falta de transporte e apoio logístico para deslocamento seguro dos alunos fora da unidade escolar e falta de apoio e interesse da comunidade quanto à temática do projeto. No entanto, o importante é não desistir e oferecer sempre oportunidade para quem se interessa por um aprendizado diferente, que vai além dos muros da escola”, ratifica João.
O que ficou de aprendizado? A comunidade concluiu que o rio Piraquara requer muitos cuidados e trabalho de educação e conscientização ambiental junto à comunidade, bem como uma ação de órgãos públicos competentes. Existem construções irregulares na margem do rio, faltam grades de segurança no entorno e é preciso que seja feita uma dragagem para retirar lixo e areia depositados no fundo do leito, ao longo do curso.
O professor João destaca que o trabalho contou com o apoio de outros professores da escola e, é claro, da direção (diretora Vanessa Miranda da Silva de Castro e da diretora adjunta, Rosania Silva de Sousa) e da coordenação pedagógica (professoras Flavia Maria e Silva Franscisco).