Por Marcus Tavares
A cada novo verão, os moradores do bairro de Realengo, Zona Oeste do Rio, ficam apreensivos com as fortes chuvas da estação. Em 2020, por exemplo, o bairro sofreu com os temporais: casas foram invadidas pela água, ruas alagadas e carros pararam dentro do Rio Piraquara, que corta a localidade. No ano passado, quando a Escola Municipal Paulo Maranhão, que também fica em Realengo, recebeu a proposta de desenvolver o projeto Esse Rio é Meu, o ambiente era mais do que propício: era necessário.
“Nossa escola foi escolhida, pela Secretaria Municipal de Educação, devido à proximidade do Rio Piraquara. Tomamos conhecimento do projeto no início de 2022. Desde então, como coordenadora pedagógica, comecei a conversar com as professoras e a fazer reuniões para definirmos como daríamos início e andamento ao projeto. Não foi fácil devido a outras inúmeras demandas, mas, ao mesmo tempo, era um tema recorrente e necessário a ser trabalhado. Foi o que constatamos na fase diagnóstico. Foi assim, portanto, que iniciamos o nosso projeto, identificando os problemas e as possíveis soluções para o nosso rio, o rio Piraquara”, explica Laudicéria Reis, coordenadora pedagógica, que contou com total apoio da diretora Rosana Castex e da diretora-adjunta, Verônica Lacerda.
O projeto Esse Rio é Meu é desenvolvido em conjunto pela Secretaria Municipal de Educação e pela Secretaria Municipal de Meio Ambiente da Prefeitura do Rio, em parceria com a oscip planetapontocom e a concessionária Águas do Rio – patrocinadora do programa. O objetivo do programa é engajar escolas na recuperação e preservação dos rios. Cada grupo de escolas da rede pública de ensino do Rio ficou responsável por desenvolver ações em torno de um dos rios da cidade.
O primeiro passo realizado foi conhecer a história do rio. Professores e estudantes descobriram que a nascente do Piraquara está localizada no Parque Estadual da Pedra Branca, núcleo Piraquara, onde fica a famosa Cachoeira do Barata. “Marcamos uma visita guiada com as turmas e os responsáveis, por meio de uma parceria com o Parque Estadual da Pedra Branca. Tivemos a oportunidade de conhecer o parque, a nascente, o percurso que o rio faz e terminamos a visita plantando uma muda de Pau-Brasil. Fizemos registros por meio de vídeos e fotos que renderam discussões na escola”, conta a coordenadora.
Em seguida, as turmas do 2º ano do Ensino Fundamental, que estiveram mais à frente do projeto, realizaram uma caminhada de conscientização pelas ruas do bairro com o objetivo de chamar a atenção dos moradores sobre o cuidado que se deve ter com o rio e com o descarte do lixo. As crianças também abordaram a questão das construções irregulares, principalmente próximas ao rio. A caminhada contou com a participação de responsáveis, moradores do bairro, alunos e professores, que exibiram diferentes cartazes e distribuíram panfletos feitos pelos próprios estudantes.
Ao promover as ações, a escola desenvolveu atividades que puderam integrar diferentes áreas de conhecimento. Os professores puderam trabalhar conteúdos relativos à linha do tempo, preservação da natureza, poluição dos rios e suas consequências, urbanização e sistema hídrico, interligando Língua Portuguesa, Matemática, História e Geografia.
Para a culminância do projeto, a escola entrou em contato com a Zona Oeste Mais Saneamento, concessionária contratada pela Prefeitura do Rio para realizar os serviços de coleta e tratamento de esgoto em 23 bairros da Zona Oeste, incluindo Realengo. Carlos Moura, especialista em sustentabilidade e relações sociais da Zona Oeste Mais Saneamento, foi à escola para conversar com os estudantes. As crianças tiveram a oportunidade de aprender o que é e a importância do saneamento básico e como funciona uma estação de tratamento de esgoto.
De acordo com Laudicéria Reis, o principal desafio do projeto foi despertar o interesse e participação do professor e, consequentemente, do estudante e suas famílias, e, assim, trabalhar com um projeto tão rico e em pouco tempo.
Tão rico e em pouco tempo, mas com grande potencial de transformação. Em paralelo às discussões na sala de aula, a escola acompanhou, pelos noticiários, que a Prefeitura do Rio, em junho do ano passado, demoliu uma construção irregular erguida em cima do rio Piraquara e que, em outubro, a Fundação Rio Águas atuou na limpeza e no desassoreamento do mesmo rio. As notícias endossavam e incentivavam mais e mais o projeto.
“E no final do ano passado, iniciamos um abaixo-assinado para a troca de uma placa, que fica em frente a um dos acessos ao rio, que está completamente danificada e pichada. Pretendemos e vamos dar continuidade ao projeto, partindo deste abaixo-assinado. Entendemos a necessidade da conscientização e do potencial de cada aluno para continuar desenvolvendo o Esse Rio é Meu, agora, em 2023”, finaliza Laudicéria.