Assim vivemos – 8ª edição

Por Luanna Tavares

A história da menina Ngu Wah Hlaing, de Myanmar, país que fica no sul da Ásia, é comovente. Ela foi abandonada por sua mãe quando era bebê por causa de sua deficiência. Por sorte, uma monja e seu filho, transgênero, a adotaram. Mas, hoje, com 11 anos, Hlaing, ainda não sabe ler nem escrever. Ela não é aceita pelas escolas devido à deficiência que apresenta. A história de Hlaing virou documentário e, agora, faz parte da 8ª edição do Festival Internacional de Filmes sobre Deficiências, o Assim Vivemos. A mostra composta por 32 documentários de 20 países está em cartaz no Rio de Janeiro, de 16 a 28 de agosto, no Centro Cultural do Banco do Brasil.

Todos os filmes, que são inéditos, trazem histórias protagonizadas por pessoas com diversas deficiências, como síndrome de Down, autismo, paralisia cerebral, atrofia muscular espinhal, deficiência física, visual, auditiva e intelectual. “Dois Mundos”, da Polônia, “Onde está você/Eu estou aqui”, da Ucrânia, “Ordem do Woody!” e “Vida e Atrofia”, dos Estados Unidos, são alguns dos filmes que retratam jovens em algum tipo de limitação. Também consta da programação, quatro debates: A visão e os sentidos da arte; Corpo e movimento; Tecnologia assistiva de ponta e Amor e relacionamento.

Realizado a cada dois anos, desde 2003, o “Assim Vivemos” é o primeiro festival de cinema no Brasil a oferecer acessibilidade para pessoas com deficiência visual (audiodescrição em todas as sessões e catálogos em Braile) e para pessoas com deficiência auditiva (legendas Closed Caption nos filmes e interpretação em LIBRAS nos debates).

Confira a entrevista concedida pela curadora do Festival, Lara Pozzobon, à revistapontocom:

revistapontocom – Qual é o objetivo do Festival ao longo de todos estes anos?
Lara Pozzobon – O festival é antes de tudo um evento transformador. A intenção é trazer filmes que mostrem as pessoas com deficiência em variados lugares do mundo, inseridas nas diferentes sociedades e encontrando formas de diminuir o preconceito e ampliar a inclusão e a acessibilidade. O Assim Vivemos tornou-se a maior celebração da inclusão e da acessibilidade no Brasil, pois tudo isso está presente tanto na tela quanto no público do festival. Desde a primeira edição, o festival oferece Audiodescrição em todas as sessões para o público com deficiência visual, além de catálogos em Braille, legendas LSE em todos os filmes, inclusive nos brasileiros, e ainda interpretação em LIBRAS nos debates.

revistapontocom – O que a 8ª edição traz de novidade?
Lara Pozzobon – A 8º edição do festival tem um perfil mais maduro, com a maioria dos filmes retratando pessoas adultas. Entendemos que já há uma maturidade na discussão do tema em todo o mundo. Os filmes colaboram com um entendimento mais amplo e plural do ser humano, tanto do ponto de vista físico, emocional quanto existencial, já que alguns filmes se aprofundam em questões mais complexas dos indivíduos retratados.

revistapontocom – Como funciona a seleção dos documentários?
Lara Pozzobon – Eu e Gustavo Acioli assistimos a todos os filmes inscritos e escolhemos aqueles que enfocam a pessoa com deficiência como protagonista e que abordam de modo adequado as questões das pessoas com deficiência. Os filmes variam em estilo e gênero. Temos comédias, dramas e documentários mais informativos, mas sempre filmes com formato de cinema.

revistapontocom – Quais são os filmes que falam de crianças com deficiência?
Lara Pozzobon – Este ano, temos muitos jovens retratados e apenas dois filmes com crianças: “Uma menina em 10 X 10”, de Myanmar, e “Vida e atrofia”, dos Estados Unidos. Os jovens retratados são muitos e bem variados. Temos adolescentes com Síndrome de Down nos excelentes filmes “Amor aos 20” e “Luis Luis”, da Espanha, “Sobre Arif”, da Turquia e “Onde está você/Eu estou aqui”, da Ucrânia, um menino com paralisia cerebral em “Virando Super-humano”, da Austrália, um rapaz com deficiência física em “Filho do Homem”, da Rússia e uma jovem com deficiência intelectual no curta brasileiro “Luíza”. Temos ainda uma jovem suíça em “Bucéfalo” e um rapaz em “O olho do Minotauro”, da Bulgária.

revistapontocom – A mostra também é competitiva?
Lara Pozzobon – Sim, desde a primeira edição, premiamos há o mais votado do público nas três cidades e mais cinco destaques dados pelo Júri, que este ano é composto por Sara Bentes, cantora, compositora, bailarina e atriz com deficiência visual; Teresa Taquechel, bailarina e coreógrafa do Grupo Pulsar; e Wilson Marx, poeta e consultor sobre o tema do autismo.

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MONICA LOUREIRO
MONICA LOUREIRO
7 anos atrás

Adorei tomar conhecimento desde Projeto “Assim Vivemos” que está em sua 8a edição.
Gostaria de saber também, se temos acesso a estes filmes através de outras mídias. Caso sim, quais delas.
Parabéns pela iniciativa, por retratar a realidade tão pouco Vista, cuidada e assistida no Brasil.

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