Por André Saback Saint-Clair – 14 anos (quando escreveu)
Inspirado em “A maior Flor do Mundo”, de José Saramago
Era uma vez um velho, muito velho, que morava numa vila muito pequena. Esse velho costumava passar as tardes na varanda de sua casa, observando os pássaros indo para o bosque e sumindo dentro das árvores. O velho gostava de ir para o bosque quando era pequeno, mas não ia lá há muito, muito, tempo. Não se lembrava mais de como era.
Um dia, quando o velho estava olhando as andorinhas, se levantou e foi andar no bosque. Quando o velho chegou, viu outro velho entrando na floresta, então o seguiu. Quando o velho perdeu o outro de vista, continuou a caminhar bosque adentro.
De repente o velho encontrou um homem cortando lenha, sozinho. Quando o homem viu o velho, começou a entrar ainda mais pelo bosque. E o velho o seguiu. Quando o velho perdeu o homem de vista, continuou a caminhar bosque adentro.
De repente, o velho encontrou um rapaz pescando em uma lagoa pequena. Quando o rapaz viu o velho começou a entrar ainda mais pelo bosque. E o velho o seguiu. Quando o velho perdeu o rapaz de vista, continuou a caminhar bosque adentro.
De repente, o velho encontrou um garoto comendo maçãs. Quando o garoto o viu, começou a entrar ainda mais no bosque. E o velho o seguiu. Quando o velho perdeu o menino de vista, continuou a caminhar bosque adentro.
De repente, o velho encontrou uma coisa. O velho encontrou uma flor tão grande, mas tão grande, que chegava a tocar o céu. E o velho subiu. Quando o velho chegou ao topo, se inclinou para ver o que tinha dentro da flor, mas tudo que viu foi a si mesmo. O velho viu a si mesmo quando passeava pela orla do bosque. Depois viu a si mesmo quando era um homem, que passava a tarde inteira cortando lenha. O velho viu a si mesmo quando era um rapaz, que pescava peixes para vender na feira. Depois, viu a si mesmo quando era apenas um garoto, que subia em árvores para comer maçãs. Então, o velho viu a si mesmo, como se estivesse na frente de um espelho.
Depois, se deitou na flor,
E dormiu…
Obra de José Saramago
A maior flor do mundo é uma magnífica história para crianças, mas, antes de tudo, é um legítimo Saramago. Transformando-se em personagem, o autor nos conta que uma vez teve uma ideia para um livro infantil, inventou uma história sobre um menino que faz nascer a maior flor do mundo. Não se julgava capaz de escrever para crianças, mas chegou a imaginar que, se tivesse as qualidades necessárias para colocar a ideia no papel, ela resultaria verdadeiramente extraordinária: “seria a mais linda de todas as que se escreveram desde o tempo dos contos de fadas e princesas encantadas…”.
É dessa fantasia de grandiosidade que nasce o livro. Os leitores são chamados para uma divertida brincadeira, pois Saramago narra a história do menino e da flor não como se ela fosse a história de verdade, mas como se fosse apenas o esboço do que ele teria contado se tivesse o poder de fazer o impossível: escrever a melhor história de todos os tempos.
Entrando no jogo com o autor, os pequenos leitores vão saber que ninguém nunca teve nem terá esse poder. Vão saber também que a literatura é o lugar do impossível: o menino desta história faz uma simples flor dar sombra como se fosse um carvalho. Depois, quando ele “passava pelas ruas, as pessoas diziam que ele saíra da aldeia para ir fazer uma coisa que era muito maior do que o seu tamanho e do que todos os tamanhos”. Como nos velhos livros de literatura infantil, Saramago conclui: “E é essa a moral da história”.
Título Altamente Recomendável pela Fundação Nacional do Livro Infantil e Juvenil – FNLIJ 2001, categoria criança