Doutor em Física pela Universidade Federal Fluminense (UFF), Raphael Dias é um pesquisador sobre os jogos eletrônicos. A paixão pelo tema é antiga. Na bagagem, Dias acumula a produção de uma série de games digitais. Recentemente, resolveu copilar tudo o que sabe sobre o setor no e-book GameDev, que se propõe a esclarecer todos os meandros do mercado de trabalho da indústria dos jogos eletrônicos.
Em entrevista à revistapontocom, Dias, criador e autor do site Produção de jogos (http://producaodejogos.com/), destaca que, ao contrário do que muitos leigos pensam, a indústria dos games não se resume a programadores e artistas gráficos. “Existe um grande número de carreiras que uma pessoa pode seguir no mundo dos games”, avisa.
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Acompanhe a entrevista:
revistapontocom – As pesquisas apontam que a indústria de games fatura, hoje, mais do que a indústria cinematográfica. Por que isso acontece na prática?
Raphael Dias – Essa é uma boa pergunta. Posso pensar em alguns motivos para que a indústria de games fature mais do que a de cinema, mas eu nunca li nenhum estudo tentando comprovar esses motivos. Talvez um dos principais seja a diferença entre o modelo de negócios presente em cada indústria. Enquanto um filme é consumido geralmente uma única vez (no cinema ou em DVD), um jogo faz com que você gaste mais vezes: você compra expansões do jogo, objetos dentro do jogo (in-app purchases), um joystick novo para jogar com os amigos, e por aí vai. Acredito que isso contribua para os grandes números da indústria dos games. Basta lembrar, por exemplo, dos jogos freemium (de graça para jogar, com compras internas opcionais). Esses jogos usam muitos fatores da psicologia humana para fazer o jogador gastar cada vez mais dentro do jogo (algo que eu, em particular, não acho legal). Alguns jogos fazem você sofrer para conseguir uma espada dentro do jogo e, quando você está no auge da sua frustração, ele te oferece a espada por US$ 0,99 centavos.
revistapontocom – Considerando então que a área de games está em franca expansão, quais são os profissionais que (podem trabalhar) trabalham na cadeia produtiva?
Raphael Dias – Ao contrário do que muitos leigos pensam, a indústria dos games não se resume a programadores e artistas gráficos. Existe um grande número de carreiras que uma pessoa pode seguir no mundo dos games. Para citar algumas: programador, artista 2D, modelador 3D, game designer, profissional de marketing, administrador de Empresas, gerenciador de Projetos, contador e profissões similares, roteirista, produtor, designer de áudio, e tradutor. Enfim, são muitas as carreiras. É uma indústria muito grande.
revistapontocom – Trata-se de uma área de trabalho voltada especificamente para os mais jovens?
Raphael Dias – Definitivamente não. Tanto jovens quanto pessoas bem mais velhas podem trabalhar normalmente na indústria dos jogos. É comum ver profissionais com 40 anos de idade que estão agora migrando para a indústria de games, pois, quando eles começaram suas carreiras, essa indústria ainda não era forte o bastante. Conheço uma pessoa na casa dos 50 anos que tem uma das principais empresas do Brasil de tradução de jogos. É uma indústria grande e está aberta a todo tipo de profissional.
revistapontocom – O que um jovem ou um adulto que quer trabalhar com games deve fazer?
Raphael Dias – Existe um número crescente de empresas no Brasil que trabalham com jogos digitais. Para quem quer conseguir um trabalho na área é altamente recomendado ter um portfólio. Um portfólio, em muitos casos, pode ser mais importante que o seu currículo. Ele mostra os trabalhos que você já fez ou participou e a qualidade e abrangência das suas habilidades. No começo da carreira costuma ser uma boa ideia trabalhar em projetos de qualidade, mesmo que esses não gerem dinheiro. Se você tem a oportunidade de participar de um projeto de qualidade, faça isso, mesmo que o retorno financeiro não seja grande. Talvez esse projeto no seu portfólio seja um dia a chave para conseguir um emprego numa boa empresa.
revistapontocom – Quais são os pré-requisitos para trabalhar na área de games?
Raphael Dias –Pessoas com as mais diversas formações podem trabalhar com jogos digitais. Desde quem é graduado em cursos de Ciência da Computação e Matemática Computacional até Audiovisual e Propaganda e Marketing. Tudo depende de em qual setor a pessoa quer atuar. Existem também diversos cursos de programação, artes gráficas, modelagem 3D, sound design, animação, entre outros, que uma pessoa que quer trabalhar com games pode fazer. Como eu disse anteriormente, muitas vezes o portfólio é mais importante que o currículo em si. Portanto, o mais importante é não parar de adquirir novos conhecimentos e colocá-los em prática. No meu site, o Produção de Jogos (http://producaodejogos.com), ofereço um minicurso grátis de 10 lições sobre produção de jogos digitais. Quem tiver interesse é só entrar no site e se cadastrar para receber o curso automaticamente e sem pagar nada.
revistapontocom – O Brasil possui bons cursos?
Raphael Dias –Existe um bom número de cursos no Brasil, mas com certeza esse número ainda é muito menor que deveria. Acho que esse número vai crescer bastante nos próximos anos conforme a indústria for ganhando mais reconhecimento – ainda há pais que não “deixam” os filhos seguirem carreira nessa área, por exemplo. Fiz uma pesquisa. No total, contabilizei 105 cursos e faculdades espalhadas pelo mundo, sendo 52 delas localizadas no Brasil. Sinceramente esperava encontrar mais, mas acredito que esse número crescerá bastante nos próximos anos. Independente da instituição de ensino que você escolher, sempre complemente seu conhecimento. Faça cursos em outras instituições, cursos online, leia livros da área, e assim por diante. Lembre-se que você é o único responsável pelo conhecimento que tem. Existe uma quantidade muito grande de cursos online (gratuitos e pagos), então, independente da instituição de ensino que você escolher, sempre busque conhecimento extra para complementar a sua formação.
revistapontocom – Como se dá a entrada de um jovem na cadeia de produção de um game?
Raphael Dias – Acredito que existam dois caminhos principais: (a) o jovem que adorava jogar videogames e descobre que também gosta de fazê-los e (b) o profissional de outra área (TI e ou marketing, por exemplo) que decide migrar para a área de jogos digitais. Mas é preciso lembrar que gostar de games e gostar de fazer games são coisas diferentes, da mesma forma que gostar de ler não implica gostar de escrever, ou gostar de música não implica gostar de tocar um instrumento. Nem todos que gostam muito de videogames vão gostar de trabalhar fazendo jogos digitais.
revistapontocom – Há algum perfil brasileiro do ‘trabalhador’ na área de games?
Raphael Dias – Quem pretende seguir uma carreira relacionada ao desenvolvimento de jogos digitais, deve cultivar algumas qualidades importantes. Para começar, saber trabalhar coletivamente é fundamental. O desenvolvimento de um jogo geralmente envolve um número muito grande de pessoas que precisam interagir entre si para desenvolver o projeto. Saber explicar detalhes de sua área de trabalho para os colegas de outras áreas é fundamental, assim como saber documentar o próprio progresso. Mesmo se você optar por ser um profissional independente, que trabalha através de contratos com empresas ou gerencia seu próprio projeto, a habilidade de comunicar para os outros o seu progresso e suas necessidades é muito importante.
revistapontocom – É possível viver, hoje, de games, no Brasil?
Raphael Dias –Vou responder de duas formas: uma convencional e outra pouco convencional. Primeiro, a convencional. O mercado brasileiro de jogos tem crescido bastante nos últimos anos e muitos desenvolvedores de jogos vêm desbravando novos territórios dia após dia. Qualquer pessoa que hoje pense em entrar numa faculdade de jogos (ou que já esteja em uma) pode ter a certeza que quando chegar na hora de entrar no mercado de trabalho vai encontrar um cenário melhor do que temos hoje. Não existe nenhum bom motivo (que seja do meu conhecimento) para o mercado de jogos no Brasil não continuar expandindo. Agora, a resposta um pouco menos convencional: vamos esquecer por um instante como é o mercado de jogos (no Brasil e no mundo) e tentar entender quais são os elementos básicos do setor, e expandir nossas ideias a partir desses elementos fundamentais. O produto que estamos falando aqui são jogos digitais, que nada mais são que arquivos de computador. Vamos tentar responder algumas perguntas básicas sobre este produto: 1) O que é necessário para a confecção deste produto? Um (ou vários) computador(es). 2) O que é necessário para distribuir este produto (ou partes dele)? Hoje em dia, a internet faz perfeitamente este serviço. 3) Quais são os custos envolvidos com a distribuição deste produto? Por se tratar de um arquivo digital, os custos são praticamente nulos. Portanto, estamos falando de um mercado onde a “máquina de produção” é um simples computador pessoal e a distribuição do produto é simples, rápida, e praticamente sem custos. Vamos retornar agora à pergunta: é possível ter uma carreira bem sucedida nessa área mesmo sem sair do Brasil? Note que na análise que fiz acima em nenhum momento apareceu a questão da geolocalização. A produção pode acontecer de qualquer lugar do mundo e ainda assim a exportação do produto final é simples, rápida e barata. Esta forma de repensar a estrutura de carreiras relacionadas ao meio digital é muito recente, mas tem sido fortemente estudada (e aplicada!) em diversos setores. Muitas pessoas acreditam (eu inclusive) que a internet vai causar uma mudança radical no que entendemos por “carreira”, assim como aconteceu com a invenção das máquinas a vapor e a Revolução Industrial. Existem muitas empresas de software hoje em dia que não possuem sede física e alguns de seus funcionários nem mesmo se conhecem pessoalmente, pois estão espalhados pelo mundo. E, na verdade, não existe nenhum bom motivo para o mesmo não acontecer com o desenvolvimento de games. Não estou dizendo que toda empresa de games no futuro será assim (não acredito nisso), mas que uma empresa nesses formatos é perfeitamente possível hoje em dia. E já existem várias. Isso quer dizer que independente do país em que você mora, se você souber inglês fluente, você pode trabalhar em empresas situadas em qualquer lugar do mundo. Só para dar um exemplo: tenho um amigo que é empresário e nômade. Ele pula de país em país há anos enquanto trabalha em vários projetos digitais, com pessoas de vários lugares do mundo. Atualmente, um de seus projetos é o desenvolvimento de uma plataforma online para suporte de serviços (mas poderia perfeitamente ser um jogo digital). Ele tem programadores de três países diferentes trabalhando pra ele: Vietnã, Tailândia e Brasil. Sei que não vou conseguir convencer a todos apenas com essas poucas palavras que escrevi. Mas essa opção é viável. Para finalizar: existe muita gente que mora no Brasil e consegue viver da produção de games no mercado nacional. Mas para que pensar de forma tão localizada? Se você sabe inglês (e, se não sabe, você deveria aprender) e trabalha com um produto digital, você pode trabalhar em qualquer projeto mundo afora.
revistapontocom – Qual é o salário médio do profissional?
Raphael Dias – Este é um assunto delicado, pois varia bastante de região para região, da capacitação e do perfil do profissional. Não espere ganhar um salário razoável desde o início (como acontece em carreiras de engenharia, por exemplo), mas com dedicação e busca constante pela excelência é possível sim conseguir um ótimo salário. Se trabalhar fora do país não for uma objeção, então as possibilidades de ganho são muito maiores.
Como se faz para iniciar a carreira no ramo de jogos diitais?
Boa noite primeiramente, bom eu me interessei muito pela carreira de jogos digitais eu sou estrangeiro e moro no brasil a dois anos e foi difícil querer ingressar na faculdade, eu quero saber q posso fazer para ganhar bolsa de estudo e ingressar na carreira de jogos digitais ? Eu quero saber qual e a melhor faculdade de TI no Brasil. poderiam me ajudar por favor
Boa noite eu me enterecei desde pequeno amo os jogos digitais so queria uma oportunidade para entrar nesse mercado tao interessante..