Pelas contas da Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (Unesco), pela primeira vez, o número de aparelhos móveis com internet – sendo a grande maioria telefones celulares – irá superar, neste ano, a população mundial. Entretanto, apesar da sua onipresença e dos tipos especiais de aprendizagem que elas podem apoiar, com frequência essas tecnologias são proibidas ou ignoradas nos sistemas formais de educação. Para a Unesco, isso representa uma oportunidade perdida.
Com o objetivo de fomentar políticas públicas educacionais que privilegiem a adoção de projetos que envolvam a tecnologia móvel, a organização acabou de publicar as Diretrizes de políticas da Unesco para a aprendizagem móvel. A publicação traz uma lista dos benefícios da prática, orientações para a capacitação de professores e estudos de caso que ratificam a importância do investimento.
Minimizar a interrupção educacional em áreas de conflito e desastre, auxiliar estudantes com deficiências, assegurar o uso produtivo do tempo em sala de aula, fornecer retorno e avaliação imediatos, apoiar a aprendizagem fora da escola e expandir o alcance e a equidade da educação são alguns dos benefícios.
“Os potenciais de aprendizagem por meio de aparelhos móveis são impressionantes e, em muitos casos, bem estabelecidos. Embora longe de serem uma solução para todos os problemas, elas podem abordar de forma significativa vários desafios educacionais urgentes, de formas novas e efetivas financeiramente. Em um mundo que confia cada vez mais na conectividade e no acesso à informação, os aparelhos móveis não são uma novidade passageira. À medida que o poder e a funcionalidade das tecnologias móveis continuarem a crescer, sua utilidade como ferramentas educacionais provavelmente se ampliará e, com ela, seu papel central para a educação, tanto formal quanto informal”, destaca o documento.
Confira alguns estudos de caso:
1) O programa Ecosystems Mobile Outdoor Blended Immersion Learning Environment (EcoMOBILE) permite que alunos do ensino médio aprendam mais sobre o ecossistema de uma lagoa. Em uma excursão escolar, os estudantes usam seus aparelhos móveis para explorar as áreas em torno de determinadas lagoas na América do Norte. Ao chegarem a certos locais, eles recebem perguntas e recursos, e são estimulados a coletar dados para aprofundar suas investigações. Esse programa interativo, tornado possível graças à integração da tecnologia global positioning system (GPS) aos aparelhos móveis, altera dramaticamente a relação entre os estudantes e o meio ambiente que estão estudando, além de estimular a colaboração, a pesquisa direta e o alto grau de reflexão.
2) Lançada em 2009, a plataforma nokia life leva informações e oportunidades educacionais a mais de 90 milhões de pessoas na Índia, na China, na Indonésia e na Nigéria. Os usuários do serviço escolhem os conteúdos de aprendizagem que gostariam de receber em seu aparelho de telefone celular, entre inúmeras opções, incluindo tópicos nas áreas de educação, saúde, agricultura e empreendedorismo. Com base nas preferências do usuário, a Nokia Life envia informações relevantes por meio de mensagens em rich format. O serviço ajuda alunos do ensino médio a se preparar para exames de diferentes matérias, ensina agricultores técnicas para aumentar safras e negociar preços justos de mercadorias comercializadas, e fornece às mães mais conhecimento sobre gravidez e cuidados pré-natais. Outras mensagens fornecem conselhos para pais e mães; compartilham informações sobre HIV/Aids, diabetes e outras doenças; e dão orientações a mulheres interessadas em ter uma atividade econômica e iniciar pequenos negócios.
3) Em muitos países, a comunicação entre escolas e órgãos gestores municipais, estaduais e nacionais é lenta e não confiável, o que resulta em uma escassez de informações necessárias para detectar e enfrentar problemas relativos ao desempenho de escolas e estudantes. Para responder a esses desafios, a província argentina de Salta lançou recentemente o Projeto gema (Gestão para a Melhoria das Aprendizagens), com a cooperação do UNICEF. O programa visa a melhorar os resultados da aprendizagem, desenvolvendo capacidades de gestão baseadas em evidências, nas escolas e nos níveis administrativos. Um dos seus componentes centrais é um sistema que investiga dados escolares (por exemplo, as taxas de evasão e frequência de alunos e professores), por meio de uma série de mensagens automáticas SMS, enviadas mensalmente a diretores de escolas em áreas distantes. As respostas dos diretores são registradas e processadas automaticamente em um sistema online de informações gerenciais de educação, que produz relatórios e notifica autoridades sobre situações críticas, demandando apoio a escolas específicas. Essa e outras iniciativas semelhantes melhoraram a tomada de decisões, ao disponibilizar aos gestores educacionais dados de melhor qualidade, nos momentos oportunos e com boa relação custo-eficiência.