Por Humberto Avelar
Diretor de animação da MultiRio
Animação é realmente coisa de criança. Criança assim como eu, como você, como nossos filhos, pais e avós. Todos nós nos deslumbramos diante de algo novo e nos fazemos crianças sempre que isso acontece. Por isso, quando me perguntam se animação é coisa de criança, eu penso: por que não?
O cinema de animação, contudo, também cresce e amadurece. Hoje em dia, os filmes animados arrebatam multidões de jovens e adultos, movimentando uma indústria milionária de cinema em todo mundo. As televisões por assinatura abrem cada vez mais suas portas para os canais especializados nesse gênero.
Surpreendentemente, eles são campeões de audiência, disputando essa liderança com os poderosos canais de esportes e filmes. Os videogames surgem gerando uma demanda crescente por novidades e vêm se tornando um dos investimentos mais caros no ramo do entretenimento. Praticamente todos eles são produzidos com animação, portanto, como negócio, ela é definitivamente coisa de adulto.
Por outro lado, quando nos deparamos com a inocência dos antigos clássicos da Disney, estamos entrando em contato com… coisa de criança. Se falamos sobre os violentos desenhos japoneses? Coisa de adulto ou, pelo menos, de adolescente. Como instrumento de apoio à educação e à cultura: coisa de adulto. Como passatempo aos sábados pela manhã… coisa de criança! Nos festivais de cinema pelo mundo afora: adulto! Promovendo uma boa risada: criança, é claro. Na verdade ela está lá e cá, mudando de forma e intenção, a fim de seduzir um pouco a todos.
Contudo, o item “boa risada” me ajudou muito a equilibrar esse julgamento. Durante o projeto “Juro que vi”, onde reunimos crianças como colaboradores na criação de um filme animado, ele demonstrou sua força em fases importantes do trabalho. As primeiras risadas foram ouvidas durante o recreio, nos corredores da escola municipal “George Sumner”, na qual realizamos nossos primeiros encontros com as crianças. Em seguida, durante o bate-papo sobre o argumento e os personagens do filme “O Curupira”, o primeiro de nossa série de curtas animados.
Nessa época, estávamos em ritmo acelerado de trabalho e os problemas que cercam a produção de um filme se multiplicavam a nossa volta. Estávamos com uma equipe maior do que a de costume e com um projeto bem mais complexo também. Na posição de diretor, eu me via preocupado e estressado com a produção do material. Havia o compromisso com as crianças, pesquisadores, educadores e artistas parceiros no projeto que contavam com uma finalização à altura de sua dedicação. Atrasos na entrega de algumas animações, equipamento sobrecarregado entre outros problemas que envolvem a produção de um filme me levavam, naquele momento, a acreditar que lidava indubitavelmente com “coisa de adulto”.
Porém, durante a projeção de um trecho do filme ainda não finalizado para nossos pequenos colaboradores, dentro da própria Multirio, explodiu, das crianças, a gargalhada divisora de águas. No filme, O personagem “Tobias”, um jovem e atrapalhado assistente de caçador, se debatia, assustado com o Curupira. Para minha surpresa, naquele momento, “Tobias” ganhou vida e independência arrancando risadas e expectativa das crianças. Para elas, ele existia além da seqüência de desenhos à vinte quatro quadros por segundo com a qual nos preocupávamos. Ele realmente habitava aquele mundo mágico que pensávamos estar controlando. Nesse momento pensei: “por isso que faço desenho animado. É para estar em contato com essa energia renovadora”. Coisa de criança!
Trabalhar para crianças e com elas nos dá uma grande vantagem em relação ao mercado comercial de cinema e TV do ponto de vista estético e de conteúdo. Nos dá o privilégio de sermos lembrados daquela energia preciosa que nos aciona e movimenta. Mas essa é uma outra história e esse papo já é “coisa de adulto”. Ou não seria? Bem, você decide…
Humberto, parabens pelo seu trabalho! Como diretor de animacao ou como escritor voce me emociona. Acredito que seria um beneficio para a animacao brasileira se voce escrevesse um livro com seu conhecimento sobre o assunto.
PRECISAMOS NOS FORTALECER NUM OLHAR DE CRIANÇA…
A SENSIBILIDADE ESTÁ NOS OLHOS DE QUEM VÊ!!!!!!!!!!!!!!!!