A Rádio Justiça foi escolhida pelo Fundo das Nações Unidas para a Infância (Unicef) como a melhor emissora da América Latina e Caribe que abriu espaço para a participação de crianças e jovens no Dia Internacional da Criança na Mídia, comemorado em 1º de março deste ano. Naquele domingo, toda a programação da rádio foi produzida por estudantes de cinco a dezoito anos. Eles falaram sobre direitos humanos, cidadania, leis e justiça. A cerimônia de premiação será no dia 10 de novembro em Nova Iorque, na sede das Nações Unidas.
Para atrair meninos e meninas aos estúdios da rádio para participar do Dia Internacional da Criança na Mídia, o Núcleo de Programação Visual do Supremo Tribunal Federal, em parceria com o Conselho Nacional de Justiça, criou mil cartazes e folders com fotos de crianças operando as mesas de som e os equipamentos da emissora. “A intenção era que uma criança, ao ver o cartaz na sua escola, pensasse se ele pode mexer nesses botões e microfones, eu também quero”, conta Mateus Bassan, publicitário criador da campanha de divulgação.
O material foi distribuído nas escolas da rede pública, nos centros de atendimento social e nas instituições dedicadas a adolescentes infratores. Em reuniões dos representantes da Rádio Justiça com a Secretaria de Educação foram tiradas dúvidas de como participar e surgiram ideias de como os professores poderiam incentivar seus alunos. Os quatro centros para internação de menores em conflito com a lei também foram visitados pela equipe de jornalistas. “Houve troca de experiências e conversas com diretores de escolas e dos centros até que eles enviassem realmente as propostas”, diz a coordenadora da Rádio Justiça, Madeleine Lacsko.
E o esforço deu certo. Representantes das escolas públicas do DF e jovens que cumprem medidas socioeducativas foram “âncoras” de radiojornais, programas de entrevistas, radionovelas, radioteatros, reportagens especiais e de até programas de rap e poesia com conteúdo integralmente produzido pelos próprios grupos.
Ouça algumas peças criadas pelos jovens
As crianças entrevistaram promotores, juízes, professores universitários e o rapper Mano Brown. Quatro ministros do Supremo Tribunal Federal (STF) também foram ouvidos pelos pequenos. O ministro Carlos Ayres Britto falou sobre poesia e o ministro Eros Grau explicou o que é preciso para tomar decisões como juiz. Já o presidente da Corte, ministro Gilmar Mendes, comentou a aplicação da Justiça no país e o ministro Ricardo Lewandowski mostrou como a falta de estrutura do país em algumas áreas impede o cumprimento de direitos previstos na Constituição.
Os adolescentes que cumprem medidas socioeducativas no Centro de Internação de Adolescentes Granja das Oliveiras (Ciago), no Distrito Federal, entrevistaram o advogado-geral da União, José Antonio Dias Toffoli, sobre a ação do Estado diante do desamparo, ausência de cuidados e violência contra crianças e adolescentes – todos qualificados como crimes na lei brasileira.
Na avaliação da coordenadora da Rádio Justiça, os resultados foram além do esperado. “As ideias das crianças foram ricas não só em conteúdo, mas também na forma de apresentação”, afirma Madeleine Lacsko. Ela conta que, em alguns casos, os programas já chegavam no formato correto para ir ao ar, sem necessidade de adaptações. Em outros, jornalistas e produtores da rádio ajudaram a dar o texto final e a marcar entrevistas, por exemplo.