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Histórias: o denominador comum do humano

A contadora de histórias Benita Prieto fala sobre o lugar e a importância das histórias.

Por Marcus Tavares

Contar para encantar. Contar para divertir. Contar para promover a leitura. Contar para ensinar. Contar para aprender. Os motivos podem ser muitos, mas uma coisa é certa: ninguém é o mesmo depois que conta ou ouve uma história. A palavra também é nosso alimento. É desta forma que Benita Prieto apresenta o livro Contadores de Histórias – um exercício para muitas vozes (Sesc Rio/Prieto Produções), que organizou e lançou em 2011. A publicação reúne textos de diversos autores e artistas sobre as inúmeras possibilidades da contação de histórias, que a transformaram numa obra instigante e bastante reflexiva.

Presidente do Instituto Conta Brasil e coordenadora da Red Internacional de Cuentacuentos, Prieto acredita que o ato de contar histórias precisa ser resgatado nas famílias, pois é uma das formas de religar a sociedade com o passado, com as origens e consigo mesma. Em entrevista à revistapontocom, ela define que o ato de contar histórias é a mais bela forma de comunicação do ser humano.

Acompanhe os principais trechos da entrevista:

revistapontocom – Hoje temos uma série de seminários sobre contação de histórias. Por que se fala tanto nisso? Descobriu-se a sua importância? Mas contar histórias não é uma ‘prática’ milenar, desde a origem do homem?
Benita Prieto – O ato de contar histórias está presente em todas as sociedades. Afinal é dessa maneira que se passavam conhecimentos e se preservava o saber antes da escrita. Atualmente, ainda temos muitos povos pelo Brasil e pelo mundo onde a transmissão acontece pela voz dos contadores de histórias. Acontece que a vida de hoje tem afastado muito as pessoas, pois são tantos estímulos incríveis que nos fazem ficar cada vez mais isolados. Acredito que contar histórias esteja tão presente nesse século XXI, em centros urbanos, pois é uma forma de nos religar com o passado e, também de estarmos juntos, olhos nos olhos, trabalhando nossa imaginação.

revistapontocom – É preciso, é necessário, é possível aprender a contar histórias?
Benita Prieto – É uma ação inerente aos humanos. Todos nos sabemos e podemos contar histórias. Claro que se pensamos como uma atividade artística terá que haver um preparo do contador. Existem muitos cursos livres por todo o país. E se há o desejo de enveredar por esse caminho o interessado tem que ler muito para criar um bom repertório de histórias, além de trabalhar a voz, o corpo, pois quando contamos todo o nosso ser tem que estar vivo e presente na narração. Embora, essa seja uma atividade que podemos fazer por toda a vida, hoje é necessário formar jovens contadores de histórias, já que a geração que vem fazendo esse trabalho está envelhecendo e não podemos deixar que todo esse esforço para construir uma rede nacional e internacional de contadores de histórias seja perdido.

revistapontocom – Não há estatísticas, mas escritores, professores e pesquisadores vêm afirmando que contar histórias tornou-se uma prática pouco comum no cotidiano das famílias. Você concorda com esta constatação? Por quê?
Benita Prieto – Concordo sim. Vejo isso nas famílias que frequento. É muito raro que se contem, por exemplo, as histórias de família que são tão importantes para saber de onde viemos, quais são as nossas origens. A partir dessas conversas repletas de histórias, ao redor de uma mesa, será mais fácil ter tolerância, algo que anda em falta nos dias de hoje. Tem aquele ditado que diz “é conversando que a gente se entende”, pois contando histórias de família a gente se conhece. E essa prosa familiar pode levar também as histórias populares, aos causos, aos livros lidos.

revistapontocom – No século XXI, a mídia sabe o valor da narrativa. O ‘Era uma vez’ ganha sons, imagens e interatividade. Estamos diante de um novo tempo de contar e consumir histórias? Há vantagens neste processo? Isso não acaba substituindo aquela cena do século passado da avó contando histórias para seus netos?
Benita Prieto – Uma coisa não mata a outra. Existe espaço para a coexistência, pois assim é com todas as outras manifestações artísticas. Também haverá a integração quando crianças contarem para os mais velhos histórias incríveis que encontraram no universo digital. Na verdade são apenas novos suportes para a leitura. O livro continuará a existir e ganhará a função que deveria ter mesmo, um prazer estético. E as novas tecnologias trarão, além daquela literatura baseada no texto, formas de escrever que ainda estão sendo descobertas e que, com certeza, vão nos surpreender pela interatividade, criatividade. Como sou formada em Engenharia Eletrônica e uma apaixonada pelo mundo digital, acho que nossa função é ajudar o usuário na descoberta de que a leitura está presente nesses equipamentos que são extremamente poderosos e devem ser usados com todo o seu potencial.

revistapontocom – Ao mesmo tempo que a mídia se apropria do ato de contar histórias, pode-se afirmar que há uma homogenização nas histórias que são contadas, quando pensamos no cinema e na TV, por exemplo?
Benita Prieto – O problema atual é que nosso olhar está sempre sendo manipulado pelo cinema americano e pelas TVs abertas, que ainda têm uma força muito grande de penetração na sociedade brasileira.Não há um espaço para a leitura crítica, mas isso tende a mudar com a internet e a convergência de mídias. Vamos escolher que histórias ver, quando assistir e inclusive interagir com elas. Os jovens de hoje já estão ficando livres dessas amarras e preferem estar na internet a ficar parados em frente à televisão. Eu acho isso fantástico. É a liberdade de escolha sem manipulações.

revistapontocom  – Contar histórias pressupõe o ato de o outro ouvir. Você acha que a sociedade atual sabe ‘exercitar’ essa função de ouvir o outro?
Benita Prieto – Infelizmente não. Vivemos um momento histórico de muitos estímulos positivos e negativos. Isso é uma função importante da contação de histórias. Ela ajuda na concentração, aguça a escuta.

revistapontocom – Ao perceber a criança, nos dias de hoje, como produtora de cultura, a contação de histórias assume outra perspectiva?
Benita Prieto – É fundamental entender esse novo mundo digital que é bem diferente do mundo que vivemos em nossa infância. E que influencia todo o comportamento atual e as formas de relação. No entanto, a essência é a mesma e a criança vai iluminar nossos olhos com uma visão que vem dela, pela experiência que está desenvolvendo. Temos apenas que estar atentos para promover um diálogo.

revistapontocom – Parece que essas crianças também estão querendo contar suas histórias, não? Há espaço para isso?
Benita Prieto – Criança contando história é uma delícia. O espaço infelizmente ainda é pequeno, pois o local onde elas mais poderiam se expressar é a escola, que sabemos como anda no Brasil. Outra vez tenho que falar que as novas tecnologias podem ser muito importantes para que essas crianças descubram sua forma de contar histórias. Vi um vídeo de uma menininha francesa contando uma história que era fascinante. E isso aconteceu porque havia uma mãe atenta que permitiu e estimulou que essa criança se expressasse.

revistapontocom – O escritor Alberto Manguel, em um de seus últimos livros, diz que a “linguagem é o nosso denominador comum”. Neste sentido, contar histórias é …
Benita Prieto – A mais bela forma de comunicação do ser humano.

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samuel da silva alencar
10 anos atrás

Contar histórias para crianças instigando a imaginação delas, é sensacional! Deixá-las contar às suas histórias – gratificante! gratificante!

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