Lutas na TV aberta. Para quê?

Confira alguns dos argumentos de quem defende e questiona o tema.

Por Marcus Tavares

Desde que a Rede Globo comprou, em outubro de 2011, os direitos de exibição do UFC (Ultimate Fighting Championship), torneio de MMA (Mixed Martial Arts, em português, Artes Marciais Mistas) que é febre nos Estados Unidos e virou moda no Brasil, a polêmica sobre a exibição da violência na TV aberta voltou à tona. Em discussão: até que ponto as imagens das lutas incitam a violência e podem influenciar crianças e adolescentes? Como de praxe, o debate não encontra eco nos veículos de comunicação, principalmente, os que estão ligados às Organizações Globo, detentora da maior rede de comunicação no país. Afinal, estão em jogo a audiência, uma receita publicitária de milhões de reais e o licenciamento de produtos.

Pelo fato de a TV aberta, no Brasil, ser uma concessão pública e que, por esta razão, tem compromissos educativos, artísticos, culturais e informativos, a Câmara dos Deputados resolveu dar andamento a um projeto de lei de 2009, do deputado José Mentor (PT-SP), que veta a exibição de lutas marciais violentas não olímpicas na televisão aberta.  Ainda sem data, foi requisitada uma audiência pública para discutir o tema.

O que diz a Constituição Federal:

Art. 221. A produção e a programação das emissoras de rádio e televisão atenderão aos seguintes princípios:
I – preferência a finalidades educativas, artísticas, culturais e informativas;

II – promoção da cultura nacional e regional e estímulo à produção independente que objetive sua divulgação;
III – regionalização da produção cultural, artística e jornalística, conforme percentuais estabelecidos em lei;
IV – respeito aos valores éticos e sociais da pessoa e da família.

Para a audiência pública, serão convidados, entre outros, o diretor de Esportes da Rede Globo, Marcelo Campos Pinto, o diretor de Esportes da Rede Record, Sérgio Hilinsky, o diretor de Esportes do Canal Combate, Pedro Garcia, o lutador profissional de MMA, Anderson Silva, o presidente da Frente Parlamentar Católica, deputado José Linhares (PP-CE), o presidente da Frente Parlamentar Evangélica, deputado João Campos (PSDB-GO), o filósofo e cientista político Emir Sader, e o professor de filosofia da PUC de São Paulo Mário Sérgio Cortella.

Leia a entrevista com a pedagoga Ana Paula Fonseca clique aqui

De acordo com o projeto de lei, quem descumprir a determinação ficará sujeito à multa de R$ 150 mil, além de outras sanções. Em caso de reincidência, a multa será aplicada em dobro. Se incorrer na infração pela terceira vez, a emissora perderá o direito à concessão. O valor das multas deverá ser corrigido anualmente pela variação dos índices oficiais de inflação.

Mas por que a exibição do MMA na televisão aberta gera tanto debate? Quais são os argumentos dos setores que são a favor e contra a transmissão das lutas? A revistapontocom elencou, abaixo, alguns dos argumentos. Você leitor também pode e deve contribuir com outros que possam ter sido deixados de lado. Participe desta discussão.

Argumentos:

1) Trata-se de uma violência contextualizada, não gratuita. São lutas, não brigas. Os lutadores participam de uma grande preparação física e psicológica. Há quem considere, portanto, um esporte como outro qualquer.

2) Com a exposição na TV, e consequentemente, em todas as outras mídias – jornais, revistas, rádio, outdoor – os lutadores de MMA tornam-se, da noite para o dia, celebridades. No Brasil, tornam-se ídolos, principalmente de crianças e adolescentes. Lutar dá prestígio, reconhecimento, poder, sucesso.

3) As lutas de MMA, desde que começaram a ser exibidas na Rede TV!, são transmitidas a partir das 23 horas, quando o horário não é recomendado, de acordo com a classificação indicativa, para menores de 18 anos. As lutas, portanto, são exibidas em um horário apropriado de acordo com a atual legislação da classificação indicativa. Teoricamente, neste horário, as crianças estão dormindo.

4) As cenas de lutas na TV, associadas ao glamour midiático das transmissões, podem ratificar a banalização da violência dos dias de hoje, influenciando o comportamento de crianças e dos adolescentes. A resolução de conflitos passa pela violência, esse talvez seja o principal recado que chega às crianças. Quem vence é o mais forte. É o que tem mais força física. É aquele que é o campeão.

5) MMA é uma das atrações que o público quer ver. A boa audiência no pay-per-view na TV por assinatura e, depois, na Rede TV!, fez com que as principais emissoras de TV aberta – Band, Record e Globo – entrassem na disputa pelo direito de transmissão. A Rede Globo ganhou o direito em outubro de 2011. Pelo acordo entre a Rede Globo e o UFC, a emissora poderá exibir todas as lutas do UFC realizadas no Brasil e três eventos disputados no exterior, além da primeira edição brasileira do reality show The Ultimate Fighter, que já está no ar.

6) Por trás de toda essa exibição está milhões de reais. A primeira edição do Ultimate Fighting Championship (UFC) disputada no Brasil, no Rio de Janeiro movimentou R$ 66,8 milhões. Para assistir à luta, da primeira fila, foi preciso desembolsar R$ 1,6 mil – mais de duas vezes o preço da área vip do show do ex-beatle Paul McCarntey. Mais de 400 itens/objetos de licenciamento passaram a integrar o rol da marca do UFC deste então. Para 2012, a previsão é que outros 200 componham a categoria. A meta era atingir US$ 120 milhões da venda no varejo em um ano, mas o teto foi ultrapassado em US$ 20 milhões, tornando o Brasil o maior vendedor de produtos originais fora dos Estados Unidos, segundo Marcus Macedo, diretor de Licenciamento e Marketing da Exim, empresa responsável pelo licenciamento da UFC na América Latina. Kalunga também integra os fabricantes oficiais da linha UFC, que tem entre seus itens, cadernos e bonés. A gerente de Licenciamento de Produtos da Kalunga, Fernanda Rodrigues, diz que o crescimento das vendas foi de 30%. Com as transmissões na TV aberta, analistas afirmam que a previsão é que as vendas cresçam 100%, em todos os setores, em relação ao ano passado (dados Jornal Estado de Minas).

7) A Rede Globo vem tomando medidas responsáveis ao exibir a sua programação relativa ao MMA. A ideia é contextualizar as lutas, mostrando quem são os lutadores, trazendo o lado humano dos ‘esportistas’, sua vida e sua história. E reforçando, por meio dos lutadores, inclusive, que a luta só pode e deve acontecer dentro do octógono.

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Carlos
12 anos atrás

nunca li tanta bobagem. Não sou a favor de lutas, não gosto, não luto e evito de assistir. Agora culpar a TV pela violência nas ruas e entre os jovens e crianças é uma babaquice. A programação de MMA não é transmitida no horário da TV Globinho e, além disso, há uma tarja enorme indicativa de conteúdo impróprio para menores, no início da programação, de madrugada.
É muito cômodo transferir dos pais a responsabilidade pelo que seus filhos assistir, para as emissoras que vivem da programação que apresentam, a fim de conseguir patrocinadores.
Futebol é perda de tempo. Faustão e congêneres é perda de tempo. Novela é perda de tempo e MMA é perda de tempo. Mas ninguém é obrigado a assistir a nada disso. Assiste quem quer e devem os pais controlar o que seus filhos veem.

Antonio Eugenio do Nascimento
Antonio Eugenio do Nascimento
12 anos atrás

Eu não gosto de lutas violentas e sempre disse aos meus filhos que procurassem não assistir a espetáculos dessa natureza. No entanto não acredito que imagens de TV, brinquedos de guerra, armas de brinquedo, etc. tornem mais violentas as crianças e os jovens de qualquer país. Se assim fosse, o que seria do Japão com toda aquela paixão por tudo que é pancadaria? No Brasil criou-se, por conta da violência que emerge da pobreza e da desigualdade extrema, o medo de que as crianças fossem ficando mais violentas à medida que os seus brinquedos ficavam mais parecidos com as armas reais. De uma só tacada acabaram com todas as formas lúdicas da violência real e nada indica que os níveis de violência tenham diminuído. Da mesma forma, não acredito que lutas na TV possa levar alguém ao crime. Um Marcos Valério com Zé Dirceu e um Carlinhos Cachoeira com Demóstenes, representam e fomentam mais violência do que qualquer campeonato de lutas, sejam elas marciais ou não.

Josefina
Josefina
12 anos atrás

Boa matéria.Infelizmente, o lado comercial da TV sempre se sobrepõe ao educativo. Concordo com o fato do MMA ser uma disputa entre “iguais”, pois há um treino e uma compatibilidade entre os “jogadores”, mas quantas crianças e adolescentes enxergam o esporte desta maneira? Quantas crianças e adoslecentes discutem o que é esporte, o que é violencia numa briga de rua, as consequencias de cada um desses evento?
Detesto este tipo de luta, mesmo qdo assistia na minha infancia, as lutas do programa Gigantes do Ringue, que nada mais era do que uma simulação, tipo pastelão, comédia, mas que não via graça ou sentido naquilo, muito menos nas lutas de box, com o ídolo brasileiro Eder Jofre, nunca achei esporte alguem socar o outro até sangrar, ou desfalecer, e por isso ser considerado vencedor.
Qualquer ato que não passa pela critica ou compreensão da criança/adolescente pode ser mal compreendido e mal direcionado, por isso acredito que este tipo de luta estimula a violencia, não para todos, mas para uma parcela que recebe isto como referencia para extravar sua raiva.

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