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Internet cresce mais entre pobres

O acesso à internet no Brasil subiu de 20,9% a 46,5% no período entre a população com mais de 10 anos, chegando a 77,7 milhões. Leia o artigo.

Por Rennan Setti
Reproduzido do Jornal O GLOBO 

O avanço da renda, do emprego e da escolaridade nos últimos anos proporcionou um salto no acesso à internet entre os brasileiros mais pobres. Habitantes de Norte e Nordeste e famílias com renda per capita inferior a um quarto do salário mínimo experimentaram acelerada inclusão digital entre 2005 e 2011, mostrou a Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílio (Pnad) 2011, do IBGE. Nessa faixa de renda, um em cada cinco lares já tem acesso à rede. O número de alunos da rede pública conectados subiu 156%, atingindo dois terços do grupo. Mas essa população permanece maioria entre os excluídos digitais.

O acesso à internet no Brasil subiu de 20,9% a 46,5% no período entre a população com mais de 10 anos, chegando a 77,7 milhões. Mas foi no Norte e no Nordeste que ele mais avançou, superando um terço da população pela primeira vez. No Nordeste, a fatia de internautas subiu de 11,9% para 34%. No Norte, cresceu de 11,7% para 35,4%. O Sudeste lidera com 54,4%, contra 26,2% em 2005.

Entre os estados, o maior destaque foi Alagoas, que quintuplicou seus internautas, para 903 mil. Mas a penetração lá é só de 34,3%, a quinta menor. Roraima expandiu em 346%, saindo da 20ª para a nona posição, com 48,1% da população incluída. Mas estados dessas regiões continuam na lanterna, sendo os piores Piauí (24,2%) e Maranhão (24,1%). Outro problema é a qualidade da conexão.

– Acesso à internet é uma coisa, qualidade é outra. As empresas oferecem às vezes apenas 20% da banda larga que o cliente contrata, o que impede o brasileiro de fazer um uso melhor da rede. Fica difícil, por exemplo, frequentar cursos à distância e acessar conteúdos mais sofisticados – observou José Carlos Cavalcanti, professor do Departamento de Economia da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE).

Rodrigo Baggio, do Comitê para Democratização da Informática (CDI), lembrou que é preciso dar um outro passo: – O crescimento foi importante, mas não mensura o que o brasileiro acessa. Só daremos um salto mesmo quando os internautas começarem a usar o meio para disseminar conteúdo relevante.

No ensino médio, um terço excluído

Entre estudantes da rede pública, a penetração da internet saltou de menos de um quarto, em 2005, para 65,8% em 2011. Foram 11,7 milhões de estudantes incluídos. No Grande Rio, a taxa é maior: 78,7% desses alunos são internautas.

Aluna da Escola Estadual Erich Walter Hein, em Santa Cruz, Ana Beatriz Sant’anna se tornou internauta quando ganhou seu primeiro computador, em 2007. Antes, só acessava ocasionalmente, quando o avô a levava a lan houses. – Hoje eu fico conectada o tempo todo, tenho laptop e iPhone – conta Ana Beatriz, que tem 15 anos.

Prova de que inclusão digital acompanha renda, entre alunos da rede privada o acesso é universal, atingindo 96,2%. A rede se popularizou com força também entre aqueles com menos de quatro anos de estudo, com a taxa saindo de 2,5% e atingindo 11,8%. Os que mais acessam têm diploma de nível médio, com 90,2%. Apesar disso, 28,5% dos que estão no ensino médio ou o deixaram incompleto não navegam na rede. – Isso diz muito sobre a qualidade do ensino – afirmou Cimar Azeredo, um dos coordenadores do IBGE.

Os pobres são os que menos acessam a rede, mas a adesão entre eles cresce rápido. Nos domicílios com renda mensal per capita abaixo de um quarto do salário mínimo, a inclusão cresceu de 3,8% para 21,4%.

Os mais velhos também estão cada vez mais conectados. O acesso daqueles com mais de 50 anos saltou de 7,3% para 18,4%. A aposentada Maria dos Anjos estreou na rede esta semana, aos 66 anos. A viúva, que se viu sozinha quando a filha se casou, busca na rede uma companhia. Uma vizinha recomendou curso de alfabetização digital do Proderj: – Já entrei no Google. Mas ainda cato milho e não me entendo com o mouse!

Mas os jovens dominam: o grupo com maior inserção é de 15 a 17 anos (74,1%). O estudo descobriu que, em 2011, pela primeira vez o percentual de mulheres que tinham celular passou o de homens: 69,5% delas possuíam o aparelho, contra 68,7% dos homens.

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