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Inovação na escola

Afinal, o que isto significa? Confira o que revela a pesquisa coordenada pela professora Claudia Maria Lima, da Universidade Estadual Paulista (Unesp).

Por Marcus Tavares

Inovação na educação. O que isto significa na teoria e na prática? Professora assistente do Departamento de Educação da Universidade Estadual Paulista (Unesp), Claudia Maria Lima coordenou recentemente a pesquisa Representações sociais sobre o conceito de inovação em projetos de inserção da informática educativa de municípios paulistas. A ideia era compreender o que as escolas da região entendiam por inovação e quais as relações que estabeleciam com as Tecnologias de Informação e Comunicação.

“Quando se fala em inovação educacional, as redes estudadas logo pensam em uso de tecnologias nos processos escolares. E mais, posso dizer que isso não se restringe ao universo pesquisado, mas a grande parte da população. Podemos dizer, com base na pesquisa, que para os municípios estudados, e de maneira geral em vários outros, ‘ter laboratórios’ de informática já basta para se constitui uma ação inovadora, independente deles mudarem práticas de ensino arcaicas e acríticas”, destaca a professora.

Segundo Claudia, associar as TIC à inovação educacional traz o risco de desconsiderar o papel do professor e de supervalorizar a tecnologia em detrimento do humano. “Em última instância, inovação educacional significa ensino e aprendizagem de conceitos de maneira a termos uma sociedade menos desigual e mais capaz”, avisa.

Acompanhe a entrevista:

revistapontocom – A senhora poderia explicar qual foi a origem da pesquisa. Qual era o objetivo e como ela foi desenvolvida?
Claudia Maria Lima – A pesquisa é decorrente de um estudo mais amplo, desenvolvido por três instituições de ensino de São Paulo: a Universidade Cidade de São Paulo (Unicid), a Universidade Estadual Paulista “Julio de Mesquita Filho” (Unesp) e a Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), sob coordenação-geral da professora Sandra Zakia, da Unicid. O estudo chama-se “Experiências inovadoras em educação: avaliação de programas educacionais incentivados pelo Governo Federal” e foi desenvolvida com financiamento do Programa Observatório da Educação/CAPES. Nele, buscamos analisar o potencial de programas governamentais – caracterizados como inovadores – na promoção da qualidade do ensino e na melhoria de desempenho dos alunos, com vistas a identificar seus possíveis desdobramentos nas redes municipais de ensino do estado de São Paulo, bem como suas contribuições para o aprimoramento na gestão da educação básica. Foram examinados os projetos implementados em dez municípios paulistas: Santos, Ilhabela, Itanhaém, Guarulhos, Mogi das Cruzes, Cordeirópolis, Hortolândia, Amparo, São José do Rio Preto e Pompéia – apresentados em quatro eixos temáticos: gestão pedagógica; gestão de pessoas; planejamento e gestão e avaliação; e resultados educacionais. Depois desta fase coletiva de estudo, foram desenvolvidas pesquisas específicas em cada universidade. Como docente da Unesp/Campus de São José do Rio Preto, coordenei a pesquisa “Representações sociais sobre o conceito de inovação em projetos de inserção da informática educativa de municípios paulistas: uma análise de experiências do laboratório de experiências inovadoras do Inep”. Nesta etapa, buscamos identificar/analisar as representações sociais sobre o conceito de inovação em projetos de inserção de informática educativa nas redes de ensino de São José do Rio Preto e Mogi das Cruzes. Queríamos compreender melhor o que essas duas redes entendiam por inovação em educação e quais as relações que estabeleciam com as Tecnologias de Informação e Comunicação (TIC). Chegamos a esses municípios porque eram os dois únicos de São Paulo, no período estudado, que tinham apresentado proposta ao Laboratório de Experiências Inovadoras em Gestão Educacional do Inep com a inclusão de TIC. Havia dois outros municípios no país que também tinham como foco, do conceito de inovação, o uso de tecnologias educacionais. Porém, eles eram distantes de São Paulo e a coleta dos dados seria complicada. Os dados foram coletados por meio de documentos e entrevistas com gestores atuais ou anteriores das redes públicas. O interesse por este tema de inovação decorre da necessidade de compreender práticas pedagógicas que possam trazer modificações na aprendizagem de conceitos escolares e na própria formação de professores. Hoje, o conceito de inovação é visto como “sinônimo” de mudanças estruturais, organizacionais, dentre outras. Porém, pouco se sabe o que verdadeiramente muda nas relações de gestão e de ensino e aprendizagem quando se pensa em inovação educacional. O conceito de inovação em Educação está bem estabelecido. Mas em função de usos em outros segmentos da sociedade, ele tem sido confundido com implementações tecnológicas em sala de aula. Por exemplo, muitas escolas fazem propaganda que possuem um bom ensino apenas dizendo que inovam ao instalar laboratórios de informática, quando sabemos que isso não é condição automática para melhoria dos indicadores de aprendizagem.

revistapontocom – Inovação em educação nos dias de hoje é uma palavrinha mágica, não? Todos estão à procura. Por quê? A senhora arriscaria alguma justificativa?
Claudia Maria Lima – Tem razão, é arriscar. Mas acho que esse uso “mágico” da palavra inovação foi amplamente divulgado pelos setores tecnológicos da sociedade. Em algumas áreas do conhecimento, há a geração de produtos, como o caso das grandes indústrias eletrônicas, farmacêuticas etc. Todos esses produtos são divulgados pelos meios de comunicação como inovadores e capazes de revolucionar a vida em sociedade e trazem uma valoração econômica, de mercado, de sociedade. Entretanto, ao se falar de Educação, isso não pode ser visto dessa forma porque não temos “produtos”, temos processos. Não desenvolvemos novos “chips” ou remédios, mas pessoas que devem pensar a própria sociedade e há, por parte de muitos, uma desvalorização dessa característica. Em última instância, inovação educacional significa ensino e aprendizagem de conceitos de maneira a termos uma sociedade menos desigual e mais capaz.

revistapontocom – Mas o que mais vemos no dia a dia é o pensamento de que inovação em educação é sinônimo de TIC? Inovação em educação passa pela TIC necessariamente?
Claudia Maria Lima – Sim, na pesquisa identificamos que as escolas, os gestores, professores, rede de ensino transformaram as TIC em sinônimo de inovação. Porém, não necessariamente inovação em educação passa pelas tecnologias. Acredito que essa associação tenha sido feita por diferentes fatores e segmentos da sociedade, desde a academia, mídias, empresas de tecnologia – afinal elas precisavam de consumidores no início! No início do uso da TIC, havia uma preocupação de pensar a especificidade do ensino com uso das tecnologias. Depois houve um incremento de empresas se especializando em desenvolver softwares para escolas, lucrando com isso. Hoje, há de tudo. Temos visto redes de ensino implementando laboratórios de informática sem que os professores tenham sido preparados ou sem nenhuma relação com o conhecimento produzido pela academia de como se usa essas tecnologias para ensinar ou aprender. Há ainda escolas, por exemplo, instalando lousas digitais e afirmando que ela, as lousas, transformarão o ensino, darão conta de diminuir décadas de falhas nos processos formativos dos professores e resolverão todos os problemas de infra-estrutura das escolas ou de gestão educacional, enfim, uma panaceia. Por outro lado, temos exemplos de sucesso como o projeto Um Computador por Aluno (UCA) em algumas redes de ensino que passaram por mudanças de compreensões do processo de ensino e aprendizagem para além do “equipamento computador”. Ou escolas particulares e públicas trabalhando fortemente no ensino de ciências e matemática, por exemplo, com uso de robótica e oferecendo aos alunos novos modos de aprender.

revistapontoocom – Associar inovação em educação às TIC traz que tipo de riscos/problemas para a sala de aula?
Claudia Maria Lima – Traz o risco de se desconsiderar o papel do professor e da supervalorização da tecnologia em detrimento do humano.

revistapontocom – Neste cenário, associar inovação em educação às TIC é bom para quem? Pode-se dizer que há – em linhas gerais – pontos positivos?
Claudia Maria Lima – Para empresas que comercializam as TIC. Por outro lado, há pontos positivos em pensar inovação e TIC. Poderíamos pensar, por exemplo, numa escola que usa para ensinar todos os dispositivos móveis desenvolvidos até o momento, mudando práticas desestruturadas e exigindo do professor novos conhecimentos e reflexões da própria prática. Reflexões que exijam dele, por exemplo, pensar sobre “como eu ensino melhor Física, com ou sem um simulador de velocidade que o jogo x tem?” Ou, “será que meu aluno vai entender melhor História antiga se eu usar um game que reconstrói as relações sociais do período”? Enfim, pensar em inovação educacional é pensar em como ensinar de maneira que o aluno aprenda os conceitos escolares e com eles a própria sociedade, sendo capaz de tomar decisões.

revistapontocom – A pesquisa da senhora trouxe que conclusão?
Claudia Maria Lima – Vou reproduzir um trecho do relatório. Mas em resumo, pode-se dizer que pudemos constatar a relação direta entre TIC e inovação, ou seja, quando se fala em inovação educacional, as redes estudadas logo pensam em uso de tecnologias nos processos escolares. E mais, posso dizer que isso não se restringe ao universo pesquisado, mas a grande parte da população. Podemos dizer, com base na pesquisa, que para os municípios estudados, e de maneira geral em vários outros, “ter laboratórios” de informática já basta para se constitui uma ação inovadora, independente deles mudarem práticas de ensino arcaicas e acríticas. Acreditamos que novos saberes e novas tecnologias criadas pela sociedade devem ser incorporados às práticas docentes. Porém, para isso é necessária uma formação de professores condizente com este novo momento que atravessa a educação escolar. É preciso oferecer sólida base formativa para que a inserção de computadores na escola tenha um caráter, de fato, inovador, indo além de um uso restrito no que diz respeito às possibilidades de formação e de práticas pedagógicas, propiciando caminhos possíveis para uma educação de qualidade e de melhorias de aprendizagem de conceitos.

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