Doces, balas e cigarros

A Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária) recebe até o dia 31 de março sugestões da sociedade para o processo de consulta pública que quer ouvir a sociedade civil sobre a sua proposta de restringir ainda mais a exposição de marcas de cigarro nos pontos de venda.

A agência reguladora propõe que cartazes das embalagens de cigarros, charutos e cigarrilhas não sejam expostos em bares, bancas de jornais, padarias e supermercados. Desde a proibição da publicidade de cigarros no Brasil nos canais de mídia, esses pontos de venda são ‘porto seguro’ para a comunicação da indústria tabagista.

Se o pleito da Anvisa for adiante, as ações nos pontos de venda se resumirão aos displays de publicidade instalados nos checkouts, que serão tolerados, mas o espaço para as mensagens restritivas devem ser ampliados. A Anvisa também propõe que as embalagens tenham 50% de alerta sobre os males do tabagismo. A foto com advertência permanece inalterada.

Em seu artigo Propaganda descarada, o médico Drauzio Varella destaca que a Pesquisa Datafolha/Aliança de Controle do Tabagismo, conduzida, em maio de 2010, em São Paulo, destaca que a grande maioria dos estabelecimentos de São Paulo que comercializa cigarros possui nas proximidades, num raio de até um quilômetro, alguma escola de nível fundamental ou médio; mais de um terço têm uma faculdade na vizinhança.

Segundo o médico, proibido o acesso à TV e aos jornais, os fabricantes investem pesado na divulgação de material publicitário (displays, cartazes, luminosos e etc) para promover as vendas em locais como padarias, lanchonetes, bancas de jornal e lojas de conveniência. Cerca de 70% desses pontos de venda expõem cartazes promocionais coloridos, desenhados com a finalidade precípua de atrair os mais jovens. Em 83% dos estabelecimentos visitados, os cigarros estão expostos junto às balas, chocolates ou doces. Nas padarias, esse número chega perto da totalidade.

De acordo com a publicitária Regina Blessa, o ponto de venda é a única mídia que reúne os três elementos essenciais para uma compra: consumidor, dinheiro e produto. No Brasil, 85% das compras são decididas no interior desses pontos comerciais, não são planejadas anteriormente”.

Segundo Regina, como nossos olhos “escaneam” a 100 km/h a publicidade e as mercadorias presentes nesses locais, não é de estranhar que os fabricantes de cigarro invistam cada vez mais nos espaços em que a decisão de comprar acontece.

“Até quando nós, brasileiros, conviveremos com esse crime continuado? Para proteger nossos filhos, proibimos propaganda de cigarro na TV, rádio, jornais e revistas, mas fazemos vistas grossas ao aliciamento da criança que entra na padaria para comprar um chocolate. Tem lógica, leitor? Se a venda de cigarro em padaria, lanchonete ou banca de jornal é uma aberração há muito banida dos países mais desenvolvidos, permitir nesses locais a exibição de material publicitário que visa a criar imagens benevolentes de um tipo de dependência química, que provoca sofrimento e leva à morte precoce, é descaso com a saúde de nossos filhos ou falta de coragem para enfrentar o lobby da indústria. Irresponsabilidade ou covardia, não há outra explicação. A sociedade admitiria a presença de cartazes que apregoassem a venda de maconha junto aos doces e aos pães que a mãe pede para o filho comprar na venda da esquina?

Essa publicidade acintosa nos pontos de venda precisa ser terminantemente proibida. É absurdo não fazê-lo. Os maços de cigarro não podem ficar expostos aos olhares curiosos das crianças. Por que razão não criamos leis que obriguem os comerciantes a guardá-los em gavetas ou estantes fechadas?”, indaga Drauzio Varella.

Confira as imagens dos maços de cigarro

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