Nos dias em que se exige cada vez mais criatividade, crescem os estudos, oficinas e práticas de design thinking. Mas, afinal, o que é isso? A jornalista e consultora Gabriela Mafort, com formação em design thinking pela Universidade de Stanford, explica: “Design thinking significa usar o modo de pensar e atuar dos designers em todas as áreas de negócios de uma empresa. É uma mudança de postura, de modelo mental. Ele passa a estimular equipes inteiras a se planejar de acordo com as necessidades de seus clientes, por isso o método ganha importância estratégica nos dias atuais, em que a inovação aberta – com o uso de redes de colaboradores no dia a dia da empresa – cada vez mais dá as cartas”.
Em entrevista à revistapontocom, Mafort conta detalhes do conceito e de como ele funciona na prática. Traz dados do impacto da atividade nas empresas e explica que a dinâmica já vem sendo aplicada em escolas americanas, com o objetivo de buscar inovações, novas formas de ensino e de aprendizagem.
Acompanhe a entrevista:
revistapontocom – De onde surge o conceito design thinking? Está ligado às grandes empresas ou vem se popularizando?
Gabriela Mafort – O termo design thinking foi criado pelo designer americano David Kelley, que passou a aplicar a metodologia de trabalho dos designers em todos os aspectos dos negócios de uma empresa. Kelley, fundador da consultoria IDEO e hoje à frente da Escola de Design Thinking da Universidade de Stanford, criou esta metodologia que tem o objetivo de estabelecer uma correspondência entre as necessidades humanas e os recursos técnicos disponíveis, considerando também as restrições práticas dos negócios, criando um ambiente colaborativo em que a inovação acontece naturalmente. O design thinking é usado cada vez mais ao redor do mundo, em todos os campos de negócios. O método vem ganhando status e hoje grandes empresas criam departamentos inteiros dedicados a ele. Mas é importante frisar que o design thinking pode ser usado tanto por uma empresa pequena quanto uma grande, das startups [o que são startupus] às multinacionais.
revistapontocom – Mas, na prática, o que significa design thinking?
Gabriela Mafort – Design thinking significa usar o modo de pensar e atuar dos designers em todas as áreas de negócios de uma empresa. É uma mudança de postura, de modelo mental. Ele passa a estimular equipes inteiras a se planejar de acordo com as necessidades de seus clientes, por isso o método ganha importância estratégica nos dias atuais, em que a inovação aberta – com o uso de redes de colaboradores no dia a dia da empresa – cada vez mais dá as cartas. Outro pilar do design thinking é o estímulo à prototipagem rápida de ideias e projetos, o que dá mais agilidade e torna mais barato o processo de inovação. E uma terceira característica, já citada anteriormente, é usar a colaboração radical como base dos projetos. Unindo todos os “passos” do design thinking, o que resulta em uma empresa que inova “sem perceber”. Ou seja, a inovação passa a fazer parte do DNA da empresa. É uma mudança de chip.
revistapontocom – Como ‘se aprende’ a atuar nesta nova perspectiva?
Gabriela Mafort – Por meio de workshops e treinamentos. O importante é estar sempre se atualizando e acompanhando as publicações sobre o assunto. Na Escola de Design Thinking de Stanford, por onde passei, a regra geral é criar uma rede de colaboração que mantenha o método vivo para ir se aprimorando sempre. Estamos trazendo para o Brasil cursos interessantes. Mas colocando um pouco do tempero brasileiro.
revistapontocom – Não seria apenas um novo termo para algo que sempre existiu: uma combinação de criatividade e inovação?
Gabriela Mafort – A inovação é a criatividade traduzida na prática, ou seja, inovar é transformar ideias criativas em resultados palpáveis, aplicados no mercado no tempo certo. Nem toda ideia criativa é inovadora se ela não atende uma necessidade do mercado na época em que foi criada. O Design Thinking é um método focado, uma espécie de guia para a inovação empresarial, que não apenas potencializa a geração de ideias criativas, mas filtra de forma ágil aquelas com potencial de se transformarem em soluções inovadoras para negócios. Acho que uma boa definição para o Design Thinking surgiu aqui: a criatividade traduzida em inovação.
revistapontocom – Quais são as vantagens de se trabalhar com design thinking?
Gabriela Mafort – Resultado e adaptação às mudanças trazidas pela Era do Conhecimento. Uma pesquisa da FGV com gestores do método ao redor do mundo mostrou que cerca de 80% deles percebeu que as empresas geraram soluções mais criativas e mais ágeis quando passaram a usar o design thinking, incluindo aí também companhias brasileiras. O design thinking torna a empresa mais colaborativa e por isso, mais competitiva, uma vez que a cultura da colaboração é a chave que dá acesso ao século XXI. Hoje uma empresa se torna mais competitiva à medida que é mais colaborativa. E o design thinking constrói o novo modelo mental para esta transição acontecer. As vantagens chegam também aos resultados financeiros, mais de 70% dos gestores entrevistados pela pesquisa perceberam melhora nas finanças das empresas.
revistapontocom – Quais são os desafios de se trabalhar nesta perspectiva?
Gabriela Mafort – O desafio é conseguir colocar em prática uma estratégia transversal na empresa, que faça com que todos os colaboradores, desde o presidente até os funcionários do nível hierárquico mais distante, pensem da mesma forma, com o objetivo final de aprimorar os produtos e serviços de acordo com as necessidades dos clientes. E importante dizer, o design thinking é um modelo de inovação que permite estreitar as distâncias entre níveis hierárquicos, muitas vezes extinguindo-as. No Brasil, algumas empresas com Alpargatas e Positivo Informática abraçaram a causa e usam o método para inovar e sair à frente, criando mercados completamente novos. A IBM, por exemplo criou um Laboratório de Pesquisa no Texas quem tem como base o design thinking. A Procter and Gamble capacitou uma equipe inteira.
revistapontocom – É possível trazer o conceito do design thinking para o dia a dia das escolas? Há alguma experiência neste sentido?
Gabriela Mafort – Totalmente possível. Inclusive isso já ocorre em alguns países do mundo e os resultados têm sido fantásticos. Por meio de workshops e oficinas, ou mesmo os BootCamps, que são os workshops em que os participantes saem a campo, os objetivos deste modelo de inovação são atingidos. Uma escola em Santa Mônica, na Califórnia, mudou toda a pedagogia de ensino usando o design thinking como motor indutor e os resultados dos alunos, as notas, melhoraram e muito. Com isso, a escola subiu de posição no ranking nacional. Em Nova York, o design thinking foi a ferramenta chave para a reforma de salas de aulas, que se transformaram em espaços mais confortáveis de aprendizagem. O resultado também foi medido pela melhora no desempenho dos alunos, sem contar o ambiente de inovação em que a escola se tornou.
revistapontocom – Como, na prática, o design thinking pode auxiliar o dia a dia da escola?
Gabriela Mafort – Em geral, o design thinking é uma ferramenta que auxilia a escola em processos de mudança, de inovação. E tudo isso partindo das necessidades que são apresentadas pelos alunos e professores Se a escola tem uma meta de inovar em processos de ensino, por exemplo, as oficinas de design thinking facilitam a descoberta de estratégias para criar experiências de aprendizagem adaptadas ao século XXI.
Estou apaixonada pelo Design Thinking,
Precisamos ter uma mente aberta para as mudanças tão esperadas para educação no Brasil.
Fico pensando a cada momento como posso utilizar esta técnica com meus alunos dentro do meu conteúdo.