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À procura do corpo ideal. Sinônimo de felicidade?

Por Marcus Tavares

No Brasil, sete de cada dez cirurgias plásticas são realizadas em pacientes da cor branca, principalmente do sexo feminino. A faixa etária que mais se submete ao bisturi é a dos 19 aos 35 anos (46%). Jovens dos 13 aos 18 anos respondem por 6% das intervenções. Entre os principais procedimentos, destacam-se o aumento de mama (21%), lipoaspiração (20%) e abdômen (15%). Por ano, cerca de 630 mil cirurgias. Os dados fazem parte da pesquisa Cirurgia Plástica no Brasil, divulgada este ano pela Sociedade Brasileira de Cirurgia Plástica (SBCP). O levantamento ouviu 3.533 cirurgiões plásticos.

As estatísticas colocam o país entre os primeiros do mundo em realizações cirúrgicas. Segundo especialistas, como o cirurgião plástico Moisés Wolfenson, o fato se deve a qualidade dos profissionais, a vaidade das mulheres brasileiras e ao barateamento dos custos. E a mídia: qual a influência que ela exerce na supervalorização do corpo e no aumento do interesse pelo bisturi?

Para a Associação Americana de Cirurgia Plástica, é inegável o impacto dos meios de comunicação, em especial dos reality shows que invadiram a programação das tevês mundiais, como as séries Doctor 90810 e Extreme Makeover. Este último propõe uma mudança radical na vida de homens e mulheres. Sob a coordenação da Extreme Team, os interessados ganham uma nova aparência graças às intervenções plásticas e uma série imposta de novos estilos de vida. O sucesso pode ser medido pelo número de candidatos: mais de 10 mil pessoas estão na fila do reality show, no ar há sete anos.

A TV fechada brasileira também está recheada destes programas. Mas o tema já chegou à tevê aberta. Há dois anos, por exemplo, o SBT estreou o programa Quem perde ganha, conhecido inicialmente pelo nome O grande perdedor, no qual duas equipes de obesos têm que participar de uma maratona de exercícios físicos e regime para perder peso e ganhar os prêmios do programa. Já na Rede TV é possível conferir, atualmente, todos os domingos, o programa Dr. Holywood, que mostra os bastidores da cirurgia plástica de Los Angeles.

Cultura das sensações

Em seu novo livro O Vestígio e a Aura (Editora Garamond), o psicanalista Jurandir Freire Costa, professor do Instituto de Medicina Social da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (Uerj), diz que a cultura do corpo é fruto de duas constatações: da cultura das sensações, provocada pela mídia – representada por todos os ícones que deformam a percepção do “eu” e “do estar no mundo”; e da ciência, representada pela medicina moderna, que diz o que é bom e ruim para o corpo. “O corpo dos indivíduos, sobretudo o dos grupos privilegiados do ponto de vista social, econômico e cultural, tornou-se o objeto-alvo do ideal de felicidade sensorial”, destaca o professor.

Para o psicanalista, o corpo, na sociedade do século XXI, começou a tomar o lugar de outras instâncias na constituição da identidade. Ele afirma que a preocupação com o corpo sempre existiu, mas em graus diferentes. No entanto, nos dias atuais, o corpo tornou-se maestro da condução da vida das pessoas.

“O problema então é esse: o corpo a serviço de quê? De si próprio ou de algo que o transcende? Essa é a questão. Quando o corpo começa a ganhar uma autonomia que ele não devia nem podia ter, começam os problemas”, destaca o professor em entrevista a Revista de História da Biblioteca Nacional.

Criança, internet e mundo real

Enquanto os reality shows continuam fazendo sucesso, cresce o número também de jogos na internet que busca incentivar a cultura do corpo, da juventude e da beleza. Na era da web, a tradicional boneca que anda e fala já é coisa do passado. A onda agora é criá-la virtualmente e submetê-la a um concurso de beleza. Para isso, não faltam estratégias, que vão de dietas rigorosas a cirurgias estéticas, para transformá-la na Barbie do século XXI, mais rica, bonita e famosa. A proposta, voltada para crianças e jovens, é do site e do game britânico Miss Bimbo.

Ao adquirirem os bimbo dólares, ganhos todas as vezes que uma mensagem SMS é enviada via celular, os jogadores conseguem fazer as mudanças necessárias para se chegar ao estrelato. O jogo possui 20 níveis. Entre as estratégias, o site sugere aos internautas que façam operações de aumento dos seios e dos lábios, usem pílulas dietéticas, adotem uma série de restrições alimentares, renovem os guarda-roupas e iniciem uma nova relação amorosa. “Você parece um pouco depressiva, vá a um cabeleireiro e mude o seu corte de cabelo”. Esta é uma das metas a serem alcançadas pelo jogador para passar para a fase oito.

A inscrição no site é gratuita. Qualquer um pode se inscrever. No entanto, crianças menores de 13 anos são obrigadas a fornecer um e-mail de contato de seus pais. O site envia para os responsáveis uma mensagem dizendo que a criança se cadastrou e quais são os objetivos do jogo. Se quiserem, os pais podem cancelar o registro dos filhos.

Apesar da medida, várias associações britânicas de pais dizem que o game é  perigoso, pois difunde valores superficiais. Por sua vez, os médicos temem que Miss Bimbo acabe incentivando a anorexia. Em apenas um mês de funcionamento, mais de 260 mil crianças, dos nove aos 16 anos, já se cadastraram. O site registra diariamente 120 mil visitas. Há mais de 700 mil pessoas registradas e jogadores de 243 diferentes países.

O criador do Miss Bimbo, o empresário francês Nicolas Jacquart, contesta as críticas. Em entrevista ao jornal Público, de Portugal, ele disse que a missão e os objetivos do game são moralmente aceitáveis e ensinam as crianças a viver no mundo real.

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