(fotos da mostra: Universo Produção)
Por Marcus Tavares
Especialista e consultor em arquivística audiovisual, o australiano Ray Edmondson, ao ministrar a palestra de abertura da 8ª edição da Mostra de Cinema de Ouro Preto, no dia 14 de junho, frisou que os arquivos e museus em todo mundo, que têm sob administração conteúdos audiovisuais, devem aproveitar ao máximo as possibilidades da internet para se aproximar dos adolescentes. “Vivemos na era da satisfação imediata e para muita gente, especialmente os jovens, se não estiver na internet, não existe. É preciso mostrar a eles a história, o passado. Temos que construir, em paralelo à preservação, uma sensibilização cultural sobre a importância dos acervos audiovisuais”.
Segundo Ray, é necessário entender que o propósito da preservação é o acesso. Diz ele que a preservação pela preservação não tem sentido. “É o acesso que justifica o investimento público nos arquivos, embora o acesso permanente não seja possível sem a preservação”.
Diante das novas potencialidades oferecidas pela internet, Ray destaca que as instituições de guarda dos conteúdos audiovisuais podem desenvolver um trabalho mais amplo. São, na verdade, entidades que também fazem parte de uma indústria cultural e que, portanto, devem ser tão criativas quanto as demais que integram o grupo.
“Um bom arquivo é um arquivo acessível. Ele deve estimular e atender o acesso externo: responder a estudiosos, pesquisadores, programadores e outras pessoas com demandas específicas de acesso ao acerto e de aconselhamento. Mas ele também deve ser empreendedor, procurando interagir ativamente com o público em formas que sejam adequadas a seu acervo e missão. Isso pode ser feito através da apresentação de filmes, programas de televisão e de rádio; da criação de produtos para venda a partir de itens do acervo; ou através da oferta de materiais que podem ser baixados ou vistos na internet; da manutenção de páginas no facebook ou youtube, e de um portal interativo”.
Na opinião de Ray, a preocupação com a preservação dos conteúdos audiovisuais passa por um posicionamento responsável e ético, não muitas vezes praticado/pensado pelas políticas públicas governamentais, de garantir o acesso de toda produção às futuras gerações, que desconhecem boa parte do que já foi produzido. “Daí, repito, a importância da sensibilização cultural que os arquivos devem promover. Se os governos não enxergam a importância desta questão, é preciso educar o público neste sentido”.
Neste sentido, é urgente pensar em investimentos e qualificação técnica de pessoal para preservar conteúdos em suportes analógicos bem como os próprios artefatos em que se encontram. “O que atualmente conhecemos como acervos patrimoniais permanecerão conosco ainda por muitas décadas e é bom que tenhamos consciência de seu valor enquanto artefato, em vez de atentar apenas para seu conteúdo”.
E se de um lado a revolução digital facilita e promove um maior e melhor acesso, essa mesma tecnologia digital não é para sempre. De acordo com o estudioso, o acervo salvo em digital é, provavelmente, mais caro e complexo de administrar ao longo do tempo. Sua obsolescência é muito mais rápida.
“Ao contrário do que se fala e pensa, o digital não é para sempre. Preservação é frequentemente um termo mal empregado. Algumas vezes é um eufemismo para fazer uma cópia ou para armazenamento adequado. Mas ela é muito mais do que isso. De acordo com a definição da Unesco, preservação é o conjunto de operações necessárias para perenizar o acesso a um documento no maior grau de sua integridade. Dependendo do material que nos ocupa, isso pode envolver uma série de ações diferentes, como conservação, restauração, copiagem, armazenamento e manutenção. Isso é particularmente verdade no caso de documentos digitais, em que a conservação passiva efetivamente não é uma opção: os arquivos digitais precisam estar em constante manutenção e atualização, caso contrário poderão se perder. A preservação é uma tarefa que não termina nunca. Nada foi preservado – apenas está sendo preservado”, finaliza Ray que acaba de defender seu doutorado pela Faculdade de Artes e Design da Univesidade de Canberra, com a tese National film and sound archive: the quest of identity – factors shaping the uneven development of a cultural institution.