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O ensino de Biologia no século XXI

revistapontocom – O que hoje não se pode deixar de ser ensinado, em Biologia no Ensino Médio?
Mônica Waldhelm – Diante do ritmo acelerado de produção de conhecimento, não dá para simplesmente acrescentar tópicos ao ” conteúdo programático’. A escola deve focar na promoção da autonomia intelectual do aluno e propor situações de aprendizagem que abordem conceitos-chave em cada  disciplina/área que precisam ser devidamente contextualizados (para fazerem sentido) e sempre que possível, articulados com outros campos do conhecimento. Em Biologia, certos conceitos são essenciais para compreender fenômenos e processos que permitem ao aluno, quando efetivamente dominados, fazer extrapolações e agregar outros conceitos mais periféricos. Dentre eles, estão os conceitos de organização, metabolismo, código genético, gene, adaptação, seleção natural , homeostasia, dentre outros. A partir destes, é possível problematizar questões contemporâneas como as relativas às aplicações biotecnológicas, discussões ambientais e outras, importantes para a vida cidadã.

revistapontocom – O que é preciso ser aprendido, em Biologia, pelos alunos no Ensino Médio?
Mônica Waldhelm – Conceitos que instrumentalizem o aluno a emitir opiniões, posicionar-se criticamente e fazer escolhas que não sejam pautadas apenas no senso comum, diante de questões relativas ao corpo, à saúde, ao meio ambiente, ao trabalho, à ciência e tecnologia e seu impacto sobre a sociedade. Esses conceitos devem ser problematizados em situações diversificadas (leituras, produções escritas, relatos orais, debates, trabalho em equipe, trabalho de campo, análise  de charges, trabalho com vídeos, experimentos etc.)  para terem significado e desenvolverem competências igualmente diversas no aluno.

revistapontocom – Qual é o principal desafio de se ensinar Biologia, nos dias de hoje?
Mônica Waldhelm – Fazer o aluno reconhecer a necessidade de ampliar seu quadro de referências, apropriando-se de conceitos e competências que permitam a ele transitar em diferentes contextos, que vão desde a realidade cotidiana, local, concreta, até a distante, global, mais abstrata . O aluno deve se ver como cidadão do bairro e do mundo e articular o que aprende na escola com a vida. Assim, não basta aprender sobre a poluição local, sem entender que relação isso tem com o aquecimento global. Ou decorar nomes e efeitos de hormônios e não atentar para os riscos de anabolizantes na busca fenética por “corpos sarados”. Despertar o aluno para isso é um desafio, pois a escola precisa incorporar aspectos que fazem parte do seu universo para envolvê-lo na aprendizagem. Dentre eles estão as novas tecnologias, as redes sociais, dentre outras.

revistapontocom – Se ensina Biologia nos dias de hoje, da mesma forma que se ensinava no final do século XX? Se algo mudou, o que mudou e por quê?
Mônica Waldhelm –  É comum o professor de biologia definir o objeto de estudo da disciplina  escrevendo
no quadro de giz ao iniciar o ano letivo: Biologia é o estudo da vida. Lamentavelmente, para muitos alunos do Ensino Médio, esse momento será um dos poucos em que a Biologia estará relacionada à vida, pelo menos à vida desses alunos. Capturados por um redemoinho curricular tradicionalmente linear e fragmentado, nossos alunos serão envolvidos por nomes esquisitos e conteúdos desprovidos de significado.Constata-se que muitos professores, excessivamente ” disciplinados, disciplinares e disciplinadores”, ainda resistem às mudanças e insistem em currículos onde os conteúdos são fins em si mesmos no lugar de serem meios para construção de competências. Assim, muitos ainda ensinam uma biologia predominantemente descontextualizada. A questão é : nem sempre que alguém ensina, ocorre efetivamente aprendizagem. Contudo, existem professores que vêm enfrentando o desafio de romper com currículos lineares e formatados e propor atividades com abordagens criativas, embora ainda se vejam pressionados – quase reféns – de programas cobrados nos vestibulares (incluindo o novo ENEM que agora tem lista de conteúdos), de currículos ” mínimos” determinados pelas  redes públicas e aqueles propostos em livros didáticos.

revistapontocom – Hoje, você diria que ensinar Biologia, no Ensino Médio, é mais …. por quê?
Mônica Waldhelm – Se encararmos a Biologia como meio e não como fim em si mesma, selecionando conteúdos significativos, que favoreçam a construção de competências, ela pode ajudar nossos alunos a  fazer escolhas mais sábias acerca da saúde, como as relativas a contraceptivos e prevenção de DSTs ou quanto ao consumo ou não de alimentos transgênicos. Estarão também mais aptos a emitir opiniões sobre questões bioéticas como clonagem, seleção de embriões, pesquisas com células-tronco bem como a avaliar o impacto de intervenções humanas no ambiente natural. Esse aluno, letrado para o uso crítico de múltiplas modalidades de linguagens e tecnologias, poderá exercer de fato sua cidadania,transitar por vários contextos e ser protagonista de sua história.

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Rodrigo dos Santos
Rodrigo dos Santos
8 anos atrás

Interessante seu ponto de vista da Biologia como meio e não como fim no estudo, porque o que vemos é uma programação muitas vezes engessada onde os assuntos são todos técnicos e não são muito relacionados com o meio em que o aluno vive, o que mais é importante para esse aluno é ter essa metodologia direcionada para seu dia a dia de forma a poder utilizar na prática esses conhecimentos em sua vida. Além de ser desmitificado de tantas ideologias que são incompletas quando colocam o foco principal nos problemas globais e esquecem que o principal causador desses problemas somos nós os homens, racionais e construtores de tantas mudanças na Terra.

neilton
neilton
11 anos atrás

Acredito que a biologia que se ensina hj nas escolas e universidades deve ter seus dias contados. Havera necessidade de se repensar numa biologia totalmente associada à tecnologia dos movimentos espaciais. A estrutura humana deeve ser repensada pois precisamos de serres mais inteligentes e mais resistivies as condicoes ambientais. O novo homem tanto intelectualmente como maquina deve ser o futuro da biologia. Espero.

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